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Ontem, em editorial, a Jovem Pan – no rádio e na TV – soltou um editorial em defesa da democracia. É exatamente isso que vocês acabaram de ler.

O editorial começa destacando que se aproxima o período eleitoral e que a Jovem Pan reafirma seu “compromisso com a democracia e com o fortalecimento das instituições”.

O texto não menciona diretamente Jair Bolsonaro, claro, mas refuta todos os tópicos que têm sido os mobilizadores do gabinete do ódio e das ofensivas do presidente contra a democracia e nos ataques ao STF e às urnas eletrônicas.

E mais: afirma que há temas importantes, de “real interesse” do país e que devem ser essas as prioridades no debate público.

É de fato uma guinada bem impressionante – a Jovem Pan sempre apoiou o bolsonarismo, foi âncora e super apoiadora do golpe contra Dilma e mantém em seu time colunistas e “analistas” extremamente virulentos.

A recente TV Jovem Pan reproduzia essa verve que tinha espaço garantido no rádio. No editorial de ontem, parece estar deixando claro que vai saindo do navio bolsonarista antes que Xandão o afunde de vez – lembrando que o ministro assume o TSE em agosto.

É claro que, conhecendo o grupo como conhecemos, esse editorial pode ser tomado também como peça estratégica pra lavar as mãos e fingir que não tem nenhuma responsabilidade com tudo o qeu aconteceu ao Brasil nestes últimos seis anos. Mas ela tem.

No editorial, é até risível ler/ouvir a inusitada preocupação com o funcionamento democrático:

“Não há espaço para cortinas de fumaça que tiram o foco do debate público sobre os temas de real interesse. Não há espaço para descredibilizar o processo eleitoral com falácias.

Acreditamos em nossas Instituições e no respeito entre os Poderes para que cada um cumpra autonomamente com o seu dever constitucional, sem interesses particulares, ou sucumbiremos enquanto nação. E nós não queremos isso. 

O compromisso daqueles que ocupam cargos públicos ou que almejam ocupa-los após as eleições deste ano deve ser o de defender o Estado Democrático de Direito, a independência entre os Poderes e o de respeitar as Instituições. Qualquer manifestação contrária a esses princípios não tem e não terá apoio do Grupo Jovem Pan”.

De fato, todos os recados são dados, e o Grupo cola no mote do respeito às instituições e à democracia.

É oportunismo? Sem dúvida, pois todos conhecemos o que pauta a atuação da Jovem Pan, mas esse editorial mostra talvez um certo temor em relação ao posicionamento firme do STF, com Alexandre de Moraes e, agora, com Edson Fachin, e a certeza de que Bolsonaro não vai se reeleger.

Portanto, é também um golpe no sistema de desinformação bolsonarista, que contava muito com o apoio do Grupo Jovem Pan.

Tentem não dar muitas gargalhadas com o trecho a seguir:

“Ao longo de 80 anos, a Jovem Pan se pautou por esses princípios e tem um compromisso inegociável com os interesses do país, com a defesa da democracia, com as liberdades de expressão e de imprensa.

Somos contra a incitação à violência, porque o caminho para o crescimento econômico precisa de estabilidade, não de turbulências. Temos inimigos reais que precisam ser combatidos com ações efetivas, e não com discursos falaciosos, que incitam grupos políticos e ideológicos, mas que não entregam resultados efetivos para o povo que quer trabalho, saúde, segurança, educação e prosperidade.

Nossos microfones vão continuar mostrando os fatos, ouvindo as versões e ajudando nossa audiência — no rádio, na televisão e na internet — a formar opinião sobre os temas de interesse nacional. Todos aqueles que estão dispostos a discutir os caminhos do país têm espaço em nossos jornais e programas. A premissa para ocupar esse espaço é o respeito.

Nossos jornalistas e comentaristas gozam de total liberdade para emitir opiniões, encontrando na ética profissional e nas leis os limites para que essas opiniões sejam emitidas. Contemplamos os mais diversos espectros políticos e ideológicos, bem como as mais distintas visões de mundo em nossos quadros.

Essa pluralidade revela nosso compromisso com o debate público e com a liberdade de expressão. Mas é preciso reiterar: jornalistas, comentaristas e convidados não refletem a posição do Grupo Jovem Pan enquanto instituição”.

Cabe perguntar ao Grupo onde estava o jornalismo da Jovem Pan nos últimos seis anos, no processo eleitoral de 2018, nas arbitrariedades todas cometidas pela Lava Jato?

Se são esses paladinos da democracia como querem se pintar agora, era de se esperar que tivessem tido um comportamento coerente com princípios democráticos e de respeito às liberdades.

Não foi bem isso que vimos e ouvimos na Jovem Pan. Muitos “analistas” ali e jornalistas também destilavam ódio e disseminavam desinformação.

Por fim, é importante, muito importante ressaltar que todo esse esforço discursivo, toda a guinada espetaculosa da Jovem Pan rumo à democracia não apaga todo o prejuízo que o grupo de comunicação causou a essa mesma democracia brasileira ao insuflar o golpe contra Dilma Rousseff e ao dar guarida para “analistas” e jornalistas que contribuíram muito para esse clima de ódio que se instaurou no Brasil.

De fato, os ratos abandonam os navios, mas deixam lá toda a sujeira que fizeram.

*Eliara Santana é jornalista e doutora em Linguística pela PUC/MG

Cabe perguntar ao Grupo onde estava o jornalismo da Jovem Pan nos últimos seis anos, no processo eleitoral de 2018, nas arbitrariedades todas cometidas pela Lava Jato?

Se são esses paladinos da democracia como querem se pintar agora, era de se esperar que tivessem tido um comportamento coerente com princípios democráticos e de respeito às liberdades.

Não foi bem isso que vimos e ouvimos na Jovem Pan. Muitos “analistas” ali e jornalistas também destilavam ódio e disseminavam desinformação.

Por fim, é importante, muito importante ressaltar que todo esse esforço discursivo, toda a guinada espetaculosa da Jovem Pan rumo à democracia não apaga todo o prejuízo que o grupo de comunicação causou a essa mesma democracia brasileira ao insuflar o golpe contra Dilma Rousseff e ao dar guarida para “analistas” e jornalistas que contribuíram muito para esse clima de ódio que se instaurou no Brasil.

De fato, os ratos abandonam os navios, mas deixam lá toda a sujeira que fizeram.

*Eliara Santana é jornalista e doutora em Linguística pela PUC/MG

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