‘Estatísticas demonstram que invariavelmente as agressões resvalam para o ato fatal: o feminicídio’, escreve a colunista Denise Assis
De acordo com o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, que vem desenvolvendo pesquisa sobre o tema, sob o título: “Visível e Invisível: A vitimização de Mulheres no Brasil” (já na 4ª Edição – 2023), a violência contra a mulher não para de crescer. E só se torna visível quando as denúncias vêm de um nome famoso, como o da apresentadora Ana Hickman, que no último final de semana (sábado 11/11) tomou coragem e foi a uma delegacia, em Itu – interior de SP – denunciar o marido, Alexandre Correa, com quem é casada há 25 anos e tem um filho, de 10 anos. O caso foi registrado como lesão corporal e violência doméstica.
Elas não sabem, mas sofrer a sua dor e as agressões, em silêncio, contribuem para que o fenômeno aumente e que outras tantas anônimas passem pelo mesmo drama. Falar é o melhor remédio, ainda que em uma sociedade machista isto tenha um preço a pagar: julgamentos da família, dos amigos dos grupos. Nada disso deveria ser levado em conta quando o risco é de vida. As estatísticas demonstram que invariavelmente as agressões resvalam para o ato fatal: o feminicídio.
De acordo com o levantamento realizado pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, cerca de 18,6 milhões de mulheres brasileiras foram vitimizadas em 2022, o que equivale a três vezes a população da cidade do Rio de Janeiro, – cálculo do último censo: 6.211.423 pessoas.
Em média, as mulheres que foram vítimas de violência relataram ter sofrido quatro agressões ao longo do ano, mas entre as divorciadas a média foi de nove vezes.
O levantamento trouxe também dados significativos sobre o aumento constante da prática das diferentes formas de violência: física, sexual e psicológica sofridas pelas brasileiras no ano passado. Em comparação com as edições anteriores, todas essas formas de violência contra a mulher apresentaram crescimento acentuado no ano passado.
Segundo a pesquisa, 28,9% das brasileiras sofreram algum tipo de violência de gênero em 2022, a maior prevalência já verificada na série histórica, 4,5 pontos percentuais acima do resultado da pesquisa anterior.
Em entrevista à Agência Brasil, sobre o trabalho, a pesquisadora do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, Amanda Lagreca, lamentou: “Todos os dados da pesquisa são realmente bem tristes, mas, quando olhamos para as violências sofridas pelas mulheres no Brasil, comparado com as pesquisas que a gente fez anteriormente, todas as modalidades de violência foram acentuadas nesse último ano. Então as mulheres estão sofrendo cada vez mais violência. Há aumento de 4 pontos percentuais sobre as mulheres que sofreram algum tipo de violência ou agressão no último ano, comparado com a pesquisa anterior. Esse é um dado que choca bastante.”
A pesquisa ouviu 2.017 pessoas, entre homens e mulheres, em 126 municípios brasileiros, no período de 9 a 13 de janeiro de 2023, e foi realizada pelo Instituto Datafolha e com apoio da Uber.
Também em entrevista para a Agência Brasil, (à jornalista Juliana Andrade), a diretora executiva do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, Samira Bueno, disse que os dados de feminicídios e homicídios dolosos de mulheres do ano de 2022 ainda não estão disponíveis, mas ela prevê que o crescimento agudo de formas graves de violência física, que podem resultar, sim, em morte a qualquer momento, é um sinal, considera. “Não será surpresa se nos depararmos com o crescimento de ambas as modalidades de violência letal contra as mulheres. Infelizmente, o Brasil ficou mais inseguro para todos nós.”
Sem dúvida. Um dado é particularmente assustador. A pesquisa mostrou que a cada minuto 14 mulheres foram agredidas com tapas, socos e pontapés, no ano passado, o que representa 11,6% num universo de 2.017 pessoas entrevistadas. Em número exato são 7,4 milhões de brasileiras.
Uma novidade é o crescimento das denúncias. Tal como fez Ana Hickman, o número de vítimas que foi até uma Delegacia da Mulher prestar queixa aumentou em relação a 2021, passando de 11,8% para 14% em 2022. Outras formas de denúncia foram: ligar para a Polícia Militar (4,8%), fazer um registro eletrônico (1,7%) ou entrar em contato com a Central de Atendimento à Mulher pelo Disque 180 (1,6%).
Entre as outras formas de violência citadas, as mais frequentes foram as ofensas verbais (23,1%), perseguição (13,5%), ameaças de violências físicas (12,4%), ofensas sexuais (9%), espancamento ou tentativa de estrangulamento (5,4%), ameaça com faca ou arma de fogo (5,1%), lesão provocada por algum objeto que foi atirado nelas (4,2%) e esfaqueamento ou tiro (1,6%).
A pesquisa apresentou um dado inédito: uma em cada três brasileiras com mais de 16 anos sofreu violência física e sexual provocada por parceiro íntimo ao longo da vida. São mais de 21,5 milhões de mulheres vítimas de violência física ou sexual por parte de parceiros íntimos ou ex-companheiros, representando 33,4% da população feminina do país.
Se considerado os casos de violência psicológica, 43% das mulheres brasileiras já foram vítimas do parceiro íntimo. Mulheres negras, de baixa escolaridade, com filhos e divorciadas são as principais vítimas, revelou a pesquisa. A perda de “poder” sobre a vida dessas mulheres é um dos sentimentos que podem levá-los a reagir com violência. Pela primeira vez, o estudo apontou o ex-companheiro como o principal autor da violência (31,3%), seguido pelo atual parceiro íntimo (26,7%).
Ainda conforme a interpretação da pesquisadora Amanda Lagreca, “quando a gente olha esse dado de 33,4%, comparado com média global da Organização Mundial da Saúde, de 27%, o que estamos vendo é que no Brasil esse número é mais elevado do que o número um estimado pela OMS”, lamenta.
Outro dado que causa perplexidade é saber que o autor da violência é conhecido da vítima na maior parte dos casos (73,7%), o que nos lava a concluir que o lugar menos seguro para as mulheres é a própria casa. Não por acaso, 53,8% das vítimas relataram que o episódio mais grave de agressão dos últimos 12 meses aconteceu dentro de casa. Esse número é maior do que o registrado na edição de 2021 da pesquisa (48,8%), que abrangeu o auge do isolamento social durante a pandemia de covid-19.
Os episódios de violências também transbordam para a rua (17,6%), o ambiente de trabalho (4,7%) e os bares ou baladas (3,7%). Sobre a reação à violência, a maioria (45%) das mulheres disse que não fez nada. Em pesquisas anteriores, em 2017 e 2019, esse número foi de 52%.
Em nota publicada nas redes sociais, Alexandre Correa admitiu o desentendimento, disse que ele não teve maiores consequências e reforçou ter sempre tratado a apresentadora “com zelo e respeito”, mas apagou todos os posts. O episódio, segundo a apresentadora, foi presenciado por duas de suas funcionárias e tudo se passou na presença do filho do casal.
Com informações do Brasil 247
Quer ficar por dentro do que acontece em Taguatinga, Ceilândia e região? Siga o perfil do TaguaCei no Instagram, no Facebook, no Youtube, no Twitter, e no Tik Tok.
Faça uma denúncia ou sugira uma reportagem sobre Ceilândia, Taguatinga, Sol Nascente/Pôr do Sol e região por meio dos nossos números de WhatsApp: (61) 9 9916-4008 / (61) 9 9825-6604.