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Bruxelas quer fazer um ‘último empurrão’ para fechar acordo com o Mercosul antes do final do ano

“Vimos as eleições no Brasil e o que foi dito durante as eleições, que nos indica que o Brasil quer renegociar e reabrir o que já se conseguiu”, disse a ministra austríaca de Economia, Margarete Schramböck, e que presidiu o encontro. “Desde o meu ponto de vista, não vamos ceder em nada para que se rebaixe os padrões da Europa, tanto na agricultura como nos produtos industriais”, disse.

Jair Bolsonaro
Jair Bolsonaro (PSL), presidente eleito do Brasil Foto: Dida Sampaio/Estadão

Negociado durante 18 anos, o acordo é alvo de um interesse especial dos europeus desde que a eleição no Brasil foi concluída com a vitória de Jair Bolsonaro. O temor em Bruxelas é de que o novo governo de prioridade a uma relação com os EUA, o que estaria obrigando o bloco a buscar um acordo antes do final do ano.

Mas, para a austríaca, a pressa por um acordo não pode significar abrir mão das reivindicações do bloco. “Precisa ser um bom acordo e preservar as normas europeias”, disse. “O resultado não pode ser uma revisão para baixo e esse é o recado dos ministros”, apontou.

Para o secretário francês para Assuntos Europeus, Jean-Baptiste Lemoyne, Paris não aceitará um acordo que não seja “equilibrado” e que permita um melhor acesso aos produtos europeus ao Mercosul. “Por enquanto, não estamos no ponto”, disse o francês, que ainda lembrou que Bolsonaro evocou “a possibilidade inclusive de sair do Mercosul”. “Se não houver um acordo equilibrado, não haverá um acordo”, disse.

A Comissária de Comércio da UE, Cecilia Malmstrom, espera a visita de representantes do Mercosul a partir da semana que vem a Bruxelas para que se possa tentar fazer avançar uma negociação para um acordo final entre os dois blocos.

Malmstrom insiste que vai continuar a negociar com o governo de Michel Temer e que quer um entendimento até o final do ano. “Não sabemos nada do novo governo do Brasil”, disse. Por enquanto, segundo ela, o interlocutor da UE “é o atual governo do Brasil”.

“Vamos ver o que ocorre no próximo ano. Por isso estamos tentando fazer um último empurrão ou ao menos um empurrão bastante grande para nos deixar verdadeiramente perto de um acordo”, afirmou a comissária. “E então teremos de ver com o novo governo brasileiro”, disse.

Ela admitiu que, nas últimas semanas, os contatos da UE com o Mercosul foram “intensificados”. “Estamos fazendo progressos. Mas ainda existem coisas por fazer”, lamentou. Perguntada se haveria tempo para um entendimento até o final do ano, ela não respondeu: “Quem sabe? Negociamos com o governo atual”, disse. “Será um acordo extremamente importante, inclusive do ponto de vista estratégico”, alertou.

Bruxelas teme que, sem um acordo com o Mercosul, o bloco veja uma aliança estratégica entre o Brasil e o governo americano, dificultando ainda mais o acesso de produtos europeus ao mercado sul-americano. Na equipe de Bolsonaro, não é um segredo que o Mercosul não será uma prioridade e, portanto, o risco é de que haja um impacto direto na relação com a UE.

“Estamos praticamente no final do processo. Mas permanecem algumas coisas difíceis. Estamos fortemente engajados para que possamos ter um acordo o mais rapidamente possível”, completou a comissária.

Jamil Chade, correspondente

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