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Segunda reunião do Conselho de Segurança sobre conflito entre Israel e Hamas terminou sem um acordo. Brasil continuará liderando negociações.

Reunião do Conselho de Segurança terminou sem um acordo -  (crédito: BBC)

Reunião do Conselho de Segurança terminou sem um acordo – (crédito: BBC)

Uma reunião do Conselho de Segurança das Nações Unidas (ONU) convocada pelo Brasil para esta sexta-feira (13/10) para discutir o conflito entre Israel e Hamas terminou sem um acordo.

A Rússia apresentou uma proposta de resolução durante o encontro a portas fechadas, pedindo por um cessar-fogo humanitário.

Os membros do Conselho devem agora debater o rascunho, mas ainda não está claro se a proposta será votada formalmente. 

A reunião havia sido convocada pelo governo do Brasil, que presidirá o órgão em outubro, e foi comandada pelo ministro das Relações Exteriores brasileiro, Mauro Vieira.

A liderança rotativa é ocupada a cada mês por um representante dos 15 países-membros.

As resoluções do Conselho de Segurança precisam de pelo menos nove votos dos 15 países-membros e nenhum veto dos cinco membros permanentes – EUA, Reino Unido, França, Rússia e China – para serem aprovadas.

O órgão está cada vez mais dividido, especialmente desde o início da guerra na Ucrânia. A Rússia tem vetado resoluções que prejudicam sua posição e, em algumas ocasiões, conta com o apoio chinês.

Nos últimos anos, o governo americano também tem exercido o seu direito de veto em favor do seu aliado Israel. 

Entenda, a seguir, alguns dos pontos discutidos na reunião e o que levou ao impasse.

A proposta russa

A proposta de resolução distribuída pela Rússia aos membros do Conselho apela por um cessar-fogo humanitário entre Israel e o grupo palestino extremista Hamas.

O rascunho é bastante breve, com cinco pontos principais e apenas uma página. O texto pede um cessar-fogo humanitário imediato, duradouro e plenamente respeitado, a libertação segura de todos os reféns, a distribuição de assistência humanitária e a evacuação segura dos civis necessitados.

A reunião desta sexta-feira aconteceu após autoridades israelenses avisarem aos moradores da Faixa de Gaza que o norte da região deve ser desocupado em 24 horas, segundo a ONU.

Isso significa que os cerca de 1,1 milhão de moradores da região devem abandonar suas casas e se dirigirem ao sul da Faixa, para sua “segurança e proteção”.

Após o ultimato, civis palestinos estão fugindo do norte de Gaza de carro, na carroceria de caminhões e a pé rumo ao sul do país. Muitos, no entanto, não têm para onde ir.

As forças militares de Israel estão reunindo um enorme contingente ao redor da Faixa de Gaza, o que cria a expectativa de uma iminente invasão por terra.

Enquanto isso, o grupo militante extremista palestino Hamas mantém pelo menos 150 pessoas como reféns desde os ataques de sábado (07/10) em que foram mortas cerca de 1.300 pessoas, segundo autoridades israelenses.

Um diplomata que representa um país ocidental no Conselho de Segurança afirmou à repórter Nada Tawfik, da BBC News, que a Rússia não havia consultado nenhum dos outros membros sobre a proposta antes da reunião, o que pegou todos de surpresa.

Ele disse ainda duvidar da seriedade da proposta, pois o texto não menciona o Hamas. 

Para o diplomata, a Rússia “claramente não está sendo séria ou alinhada com a maioria dos membros do Conselho”.

O chanceler Mauro Vieira afirmou ainda à imprensa que a proposta russa não atende às necessidades de todos os países do órgão porque “há uma grande divisão do Conselho”.

“No final da reunião, os demais membros pediram ao Brasil, na qualidade de presidente, que fizesse consultas com todos os lados para chegarmos a uma redação que seja aceitável por todos”, disse o ministro brasileiro. 

Vieira disse ainda que pode haver a convocação de uma nova reunião para aprovar essa redação negociada. 

“Não sei quanto tempo vai ser preciso para acomodar as posições”, disse a jornalistas. 

Já o secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, disse que estava trabalhando com Israel para garantir “áreas seguras” em Gaza.

Corredores humanitários

Como atual presidente do Conselho, o governo brasileiro pediu a criação de corredores humanitários na Faixa de Gaza para que as pessoas que desejam deixar o local possam sair pela fronteira com o Egito.

Pelas redes sociais, o Presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que conversou por telefone com o Presidente de Israel, Isaac Herzog, e defendeu a proposta para preservar crianças, adolescentes e mulheres e garantir comida, remédio, água e luz na região de conflito.

“Não é possível que os inocentes sejam vítimas da insanidade daqueles que querem a guerra”, escreveu Lula. 

A proposta de estabelecimento de um corredor humanitário já foi apoiada por outros países também, como os Estados Unidos, que é aliado histórico de Israel. 

John Kirby, diretor de comunicações estratégicas do Conselho de Segurança Nacional americano, afirmou na quinta-feira (12/10) que essa “seria a coisa certa a se fazer”.

“Estamos conversando com autoridades israelenses sobre a necessidade contínua de assistência humanitária ao povo palestino”, disse Kirby.

Nesta sexta, o porta-voz americano disse que os EUA não foram consultados sobre a decisão israelense de emitir ordens de retirada para o norte da Faixa de Gaza.

“Que eu saiba, não houve consulta prévia antes do IDF [Forças de Defesa de Israel, o Exército israelense] emitir aquele aviso de evacuação”, disse.

Segundo diplomatas do governo brasileiro, os EUA têm se mostrado mais abertos a discutir soluções para a crise humanitária em Gaza. 

As fontes também viram a declaração de Kirby a respeito do desconhecimento da Casa Branca sobre a decisão israelense de esvaziar Gaza como uma tentativa do governo americano de se dissociar da medida.

Pouco antes da reunião do Conselho de Segurança desta sexta, o embaixador de Israel nas Nações Unidas, Gilad Erdan, participou de um evento na sede da ONU em que defendeu que “a única situação humanitária que o Conselho deve discutir agora é a situação humanitária dos nossos cidadãos sequestrados que estão detidos em violação horrível do direito internacional”.

Erdan disse ainda que a ONU deveria elogiá-los pelas “medidas de precaução” com a população civil da Faixa de Gaza.

“Enquanto escolas e hospitais em Gaza se tornavam bases de lançamento de foguetes do Hamas, a ONU permanecia em silêncio. Agora que Israel dá um aviso com antecedência à população civil de Gaza para evacuar áreas, porque valorizamos a vida e fazemos tudo o que podemos para minimizar as baixas civis, a ONU prefere condenar essas medidas preventivas e colocar pressão novamente sobre o lado que defende a civilização”, afirmou o embaixador.

O diplomata afirmou ainda os israelenses acreditam que a ONU “não se preocupa com civis”. “O que ouvimos é a indiferença da ONU em relação ao assassinato de 1.300 israelenses. A ONU está deixando claro que não quer que Israel se defenda.”

A posição brasileira

Segundo diplomatas, o objetivo do Brasil nas negociações que devem continuar pelas próximas horas é emitir ao menos uma declaração pedindo por uma “desescalada” no confronto entre Israel e Hamas.

Algo muito aquém desse resultado seria considerado uma derrota para o mecanismo do Conselho de Segurança, segundo as fontes envolvidas no processo.

Antes da reunião do Conselho de Segurança, a delegação brasileira se reuniu com a Arábia Saudita para discutir a preocupação de que o conflito possa se tornar mais violento nos próximos dias.

Em uma rápida declaração à imprensa após o término da reunião, o chanceler Mauro Vieira reiterou o apoio brasileiro à criação do corredor humanitário e pediu por uma “pausa humanitária”.

“O direito internacional humanitário e o direito internacional dos direitos humanos fornecem orientações claras sobre o que precisa ser feito. É urgente uma pausa humanitária, bem como a criação de corredores humanitários para acessar Gaza”, disse, em inglês.

O chanceler ainda condenou a decisão de Israel de pedir a evacuação de civis do norte da Faixa de Gaza. “Como afirmaram as Nações Unidas, isso pode levar a níveis de miséria sem precedentes para civis inocentes.”

Segundo Mauro Vieira, todos os 15 membros do Conselho fizeram apelos a Israel para estender o prazo de 24 horas fornecido para a evacuação dos civis para garantir a saída de todos em segurança.

No papel de ministro de Relações Exteriores, Vieira também reiterou o apoio do Brasil “a uma solução duradoura de dois Estados, em que Israel e a Palestina vivam lado a lado, em paz e prosperidade, dentro de fronteiras seguras, mutuamente acordadas e internacionalmente reconhecidas”.

Em sua conversa com o presidente de Israel nesta sexta, Lula também reforçou a necessidade da criação do corredor humanitário para ajustar o cruzamento de fronteiras em segurança e o uso do espaço aéreo dos países da região. 

Segundo o governo, as negociações são essenciais para permitir que 22 brasileiros que estão em Gaza consigam cruzar a fronteira terrestre com o Egito em segurança para serem deslocados para o Brasil.

Até o momento, 701 brasileiros foram retirados de Israel após a mobilização de quatro aeronaves da Força Aérea Brasileira para ações de repatriação. 

Entre as mortes registradas em Israel após o ataque de sábado do Hamas estão três brasileiros: Karla Stelzer Mendes, de 42 anos; Ranani Nidejelski Glazer, de 23 anos; e Bruna Valeanu, de 24. Todos estavam em um evento que era a versão israelense do festival Universo Paralello, criado no Brasil.

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