“Não ficamos mais próximos no nível de progresso e bem estar, no desenvolvimento da ciência, da tecnologia e das artes. Não nos tornamos semelhantes na civilidade, tolerância e respeito aos outros. Estamos lado a lado é na contabilidade de doença e morte”, alerta Marcos Coimbra, diretor do Instituto Vox Populi
Nunca fomos tão parecidos com os Estados Unidos. Não da maneira que os seres humanos normais gostariam e que muitos desejaram ao longo de nossa história. Não ficamos mais próximos no nível de progresso e bem estar, no desenvolvimento da ciência, da tecnologia e das artes. Não nos tornamos semelhantes na civilidade, tolerância e respeito aos outros. Estamos lado a lado é na contabilidade de doença e morte.
Nos últimos dias, os dois países passaram praticamente juntos por barreiras numéricas que ninguém imaginava. Os EUA atingiram a marca de cinco milhões de infectados pelo Covid-19 e 170 mil óbitos. Aqui, três milhões de pessoas doentes pelo vírus e 100 mil mortos.
Somos também semelhantes em algo que explica esses números e está por trás da incongruência de os dois países representarem, juntos, 7% da população mundial, mas reunirem 41% dos casos e 36% das mortes pela doença: Brasil e Estados Unidos são governados por idiotas.
Trump e Bolsonaro se parecem em quase todos os aspectos relevantes. A lerdeza em responder à doença, a obtusidade anticientífica, a incapacidade de administrar, a perda de tempo com questiúnculas políticas, a inveja de subordinados mais qualificados, o charlatanismo, a crença na própria esperteza. Mais que isso, são iguais na indiferença e desumanidade, na frase de um que o outro poderia adotar: “E daí?
Trump e Bolsonaro são almas gêmeas, com a mesma ignorância, insensatez, crueldade e boçalidade. Com a diferença, é claro, de o americano ser o superior, ficando o brasileiro sempre a reboque. Entre os chefes de governo do mundo, ninguém os admira, a não ser, talvez, um ao outro.
O tempo dos dois é diferente. O fim político de Trump está próximo, Bolsonaro acredita que sobreviverá, embalado por resultados de pesquisas que não significam nada. Tudo indica, contudo, que as carreiras de ambos serão encerradas pela doença e seus efeitos socioeconômicos. A ironia é que eram apenas elas que queriam poupar.
Por enquanto, os dois idiotas estão vivos e representam um grave risco de que o declínio das duas sociedades avance em direção à brutalidade. Por pequenas que sejam suas chances de reeleição, Trump ainda conta com o voto de mais de 40% do eleitorado. Resta ao capitão o apoio de um quarto da população. O problema brasileiro e americano não é, somente, ter idiotas na presidência, mas haver um exército de idiotas que os apoia e avaliza.
Brasil e Estados Unidos precisam remover o mais rápido possível essas figuras patéticas, como medida profilática imediata, sanitária e econômica. É necessário fazê-lo logo, mas sem a ilusão de que tudo se resolverá assim que saírem do poder.
Quem são os soldados desses batalhões de idiotas que seguem os Grandes Idiotas? O que leva pessoas aparentemente normais a se revelar perigosos idiotas, que colocam em segundo plano sua vida e a de seus concidadãos? Como é possível que alguém nos Estados Unidos acredite que mais quatro anos de Trump serão bons? A partir do que um brasileiro ou uma brasileira aprovam o governo do capitão Bolsonaro, com sua incompetência, autoritarismo, desonestidade e grossura, de braços dados com milicianos e mergulhado em falcatruas?
O bolsonarismo não nasceu pronto em 2018. Foi gestado por uma elite obcecada em derrotar a esquerda a qualquer custo, para retomar o controle do Estado e implantar seu modelo de capitalismo predatório e irresponsável, em termos sociais e ambientais. A grande imprensa lhe forneceu o discurso e os heróis, dando-lhe palavras de ordem e inventando alvos contra os quais dirigir seu rancor. Uma parte do Judiciário, do Ministério Público e das Forças Armadas embarcou alegremente na aliança em torno do capitão, buscando vantagens e poder.
Os idiotas que gostam de Bolsonaro e de Trump são parecidos entre si e com seus líderes. Acham que o que importa é a vantagem pessoal, o lucro, o ganho. São indiferentes ou hostis a tudo que é coletivo ou compartilhado, como a democracia, a saúde pública e a cultura. Consideram natural que os mais fortes, mais espertos e menos conscienciosos prevaleçam. Entendem que normas e regras de conduta são prescindíveis e que o egoísmo, a ignorância e a estupidez são virtudes. Veneram os ricos e desprezam os pobres.
Aqui e lá, a maioria das pessoas não é assim, mas a luta para fazer com que as duas sociedades avancem tornou-se mais complicada. Os Estados Unidos podem dar um passo fundamental em novembro, derrotando Trump. Nosso caminho é lento e difícil, e é preciso começá-lo já.
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