Jorge Guaranho mostra que é bolsonarista fervoroso; a dor de Pâmela Silva, esposa de Marcelo, e de Donizete Arruda, um dos irmãos do petista assassinado. Guaranho não é uma pessoa tranquila, como diz a defesa. O termo circunstanciado do processo instaurado no Juizado Especial Criminal da Comarca de Guapirim (RJ) comprova o seu crime de desacato contra PMs. Fotos: Reprodução de rede social e de vídeos
Tocador de víde
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Dirigente do PT em Foz de Iguaçu (PR), ele foi morto na frente de dezenas de familiares e amigos pelo policial penal federal bolsonarista Jorge José da Rocha Guaranho.
Na matéria, foram ouvidos os dois advogados, que assumiram a defesa do assassino.
Pela primeira vez falaram com a imprensa, adotando uma linha oposta ao que demonstram os fatos.
A doutora Poliana Lemes Cardoso descarta peremptoriamente a motivação política (veja no vídeo no topo):
Nós temos certeza que não existe uma intolerância política. Apesar do senhor Guaranho ter um posicionamento de direita, ele não era uma pessoa extremamente voltada à política, né. Então a motivação política é completamente descartada.
Ele foi lá para fazer a ronda de rotina, que era uma coisa habitual dos sócios, diretores que vão lá para preservar o local, que era um local que já tinha muito furto.
Enfim, ele foi passar lá para fazer esta ronda, aconteceu essa fatalidade, que é uma tragédia. Mas a questão política pode ser completamente descartada.
Já o doutor Cleverson Ortega diz:
Pelo que informaram [família], a princípio, ele seria uma pessoa tranquila, que não tem um histórico de agressão, uma pessoa totalmente equilibrada.
Poliana Lemes Cardoso e Cleverson Ortega, advogados de defesa de Jorge Guaranho. Fotos: Reprodução do vídeo da reportagem da RPC
PROVAS DO CRIME DE DESACATO CONTRA PMs
Jorge José da Rocha Guaranho fazia questão de exibir-se como apoiador de Bolsonaro e chamar Lula de “bandido”, “ladrão”.
No dia do aniversário de Marcelo Arruda, ele esteve duas vezes no local da festa, o salão da Associação dos Seguranças de Itaipu.
Da primeira vez, empunhando revólver, chegou falando “Aqui é Bolsonaro, seus filhos da puta”.
Na segunda vez, já chegou atirando. Do lado de fora, ainda na porta disparou contra o tesoureiro do PT de Foz de Iguaçu.
Jorge Guaranho não é tranquilo, tem passado de agressão.
Em 24 de junho de 2018, ele foi autuado pelo crime de desacato, como mostra, abaixo, o termo circunstanciado do processo 0002808-21.2018.8.19.0073, instaurado no Juizado Especial Criminal da Comarca de Guapirim, na Baixada Fluminense, Rio de Janeiro.
A denúncia foi feita por dois policiais militares, o capitão Jorge e o sargento Maia.
Os dois PMs foram averiguar queixa de perturbação do sossego na Estrada do Limoeiro S/N, no Bairro Limoeiro, em Guapirim.
No local, Jorge Guaranho se aproximou deles, identificou-se inicialmente “como ex-policial militar e atual policial federal” e passou a ofendê-los.
Chamou o capitão Jorge de “oficial de merda, capitão de merda”. E o sargento Maia, de “praça baba-ovo e praça de merda”. E, ainda, mandou-os ir embora do local.
Diante dos xingamentos, recebeu ordem de prisão e foi informado que seria conduzido a uma delegacia de polícia para que fossem tomadas as medidas cabíveis.
Muito alterado, Jorge Guaranho não quis ir com os policiais, se negando a entrar na viatura.
Foi então algemado e colocado na viatura.
A MULHER PÂMELA E O IRMÃO DONIZETE
Pamela Suellen Silva, mulher de Marcelo Arruda, também é policial civil.
Em entrevista ao ICL Notícias, de Eduardo Moreira, ela comentou no trecho abaixo:
”Muitos colegas que vieram a mim não chegaram a comentar o fato”.
“Mas eu tive um forte acolhimento do Partido dos Trabalhadores”
“A deputada Gleisi [Gleisi Hoffmann, deputada federal pelo Paraná e presidenta nacional do PT] compareceu ao velório do Marcelo, assim como vários políticos locais que representam a esquerda”
“Eu tive um contato o ex-presidente Lula, que prestou suas condolências a mim e a toda a família do Marcelo”.
“Eu vi mais a esquerda se consternando com o ocorrido”.Tocador de vídeo
Na tarde de ontem, 12/07, dois irmãos de Marcelo estiveram pela primeira vez no local do crime.
Eles não foram à festa, souberam do ocorrido por meio de parentes.
Na hora, um deles, Donizete Arruda, emocionou-se ao recordar a cena do assassinato que viralizou nas redes sociais:
“Meu irmão caiu e o covarde ainda tentou atirar nele novamente” (e acertou, acrescentamos!)
Em meio a tanta dor, ele faz um apelo pela paz, pelo respeito à tolerância:
“Nada justifica uma agressão brutal e covarde como essa, não precisa agredir ninguém por ser adversário político”.
Marcelo Arruda foi morto quando comemorava seus 50 anos numa festa com decoração do PT e imagens de Lula. Foto: Facebook de Marcelo Arruda
“PAZ ENTRE NÓS, GUERRA AOS SENHORES!
Com o título “Paz entre nós, guerra aos senhores!”, é uma nota de mobilização do movimento pela vida e pela democracia.
Abaixo, a nota, na íntegra:
Nota de mobilização do Movimento Policiais Antifascismo pela vida e pela democracia.
O Movimento Policiais Antifascismo, coletivo suprapartidário formado por trabalhadores e trabalhadoras da segurança pública do campo progressista do Brasil, vem a público se manifestar sobre a morte do companheiro Marcelo Arruda, guarda municipal há 28 anos em Foz do Iguaçu-PR, tesoureiro municipal do Partido dos Trabalhadores e militante deste movimento, assassinado a tiros pelo policial penal Jorge Guaranho, apoiador do presidente Jair Bolsonaro.
Na noite de nove de julho de 2022, Marcelo Arruda comemorava seu aniversário de 50 anos juntamente com amigos e familiares quando viu sua festa invadida pelo policial bolsonarista e por ele foi baleado após este emitir gritos de ordem pró-Bolsonaro. Manifestamos nosso mais profundo pesar e indignação contra tudo que contribuiu para esse crime de ódio e intolerância política.
O governo Bolsonaro manipula policiais, instrumentaliza nossas corporações e não nos reconhece enquanto trabalhadores.
Pelo contrário, interveio na autonomia da Polícia Federal, aboliu a histórica formação humanizada e atuação cidadã da Polícia Rodoviária Federal, realizou uma reforma da previdência que retirou direitos – inclusive reduzindo pensão das viúvas de policiais que morreram em serviço, não concedeu qualquer reposição econômica das perdas inflacionárias para as carreiras federais, não estabeleceu qualquer política de enfrentamento à depressão e ao suicídio, tão presentes nas carreiras policiais.
É contra a carreira única, o ciclo completo, a desmilitarização e todo o movimento sindical de trabalhadores da segurança pública.
O atual presidente arma a população colocando em risco a segurança de todos, inclusive a dos policiais.
Editou mais de 30 medidas facilitando o acesso a armas de fogo, permitindo que cada pessoa possa ter até 4 armas, inclusive fuzis semiautomáticos.
Em 2022, segundo o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, existem 4,4 milhões de armas em estoques particulares, sendo que a cada 24 horas 450 novas pessoas obtiveram licença para se armar, como colecionadores, caçadores ou atiradores.
Aliado a isto, modifica a todo o momento a legislação existente, com Decretos e Portarias, dificultando a fiscalização e o controle dos Órgãos responsáveis dos chamados CAC’s (Clubes de Atiradores e Caçadores) , em um país em que a cada três dias uma criança é internada após acidente doméstico com arma de fogo e com incremento no número de feminicídios que, no período entre 2009 e 2019, foi de 50.056, a maior parte cometida com este armamento.
Alertamos à sociedade brasileira que o aumento dos crimes passionais e o intercâmbio legal-ilegal de acesso às armas serão efeitos que assistiremos por décadas.
A democracia deveria ser marcada pelo esforço da mediação de conflitos por meio do debate e não pela fraqueza das armas.
O atual presidente e seu grupo de seguidores, reunidos no chamado bolsonarismo, creem nas armas e na guerra como solução para questões sociais, esvaziando as políticas públicas e a transformação social capaz de enfrentar os problemas históricos estruturais que marcam nosso país.
No Brasil hoje, o discurso dos eleitos é o discurso do ódio, da necessidade de cada cidadão se armar, para defender-se. Para encobrir os vis interesses de um governo descompromissado com seu povo, que abandonou os trabalhadores desde sua eleição, durante a pandemia e agora que a fome se espalha, deixando-nos famintos e à míngua, apela para as emoções mais básicas, espalha insegurança e medo, distribuindo permissões legais e elogios ao armamento, ao extermínio, ao ódio às diferenças e à intolerância. Nada e nem ninguém é poupado!
Menos de 48 horas após seu assassinato, Marcelo Arruda está sendo chamado de “herói”, por conta de ter resistido e conseguido conter o agressor de realizar uma tragédia ainda maior.
Entendemos que Marcelo Arruda era antes de tudo um trabalhador policial, reconhecimento este que configura uma das principais pautas do Manifesto do Movimento Policiais Antifascismo. É vital deixar claro que quem foi assassinado foi um trabalhador policial.
Caso fosse um membro das classes superiores, inclusive das castas dirigentes das corporações policiais, dificilmente um crime com tal brutalidade teria sido perpetrado contra ele.
No caso em tela, o seu algoz também é um policial, reforçando as estratégias do atual modelo político econômico de promover a violência para o povo e o progresso para a burguesia financeira! É hora de gritarmos: “…paz entre nós, guerra aos senhores!…”
Reconhecemos também a bravura de Pamela Silva, mulher de Marcelo, na defesa de seu companheiro e dos outros convidados da festa de aniversário dele.
Podem sim condecorá-la, mas não vejam nela uma heroína! Isto é muito pouco! Heroínas são rapidamente esquecidas em seus pedestais.
Vejam mais uma trabalhadora policial civil, que precisa de apoio da família, dos amigos, da sociedade e do Estado! Perguntem-se como refazer ´´o chão“ que lhe foi tirado.
Tampouco trataremos o policial penal autor deste crime bárbaro como monstro. José da Rocha Guaranho também é um trabalhador, que foi recrutado pelo fascismo bolsonarista.
Não se enganem, o fascismo sempre foi um movimento político de massas, que na história contou com o apoio de amplos setores da classe trabalhadora. Precisamos disputar os policiais para o nosso campo político e não estigmatizá-los como monstros!
Desejamos que o policial penal agressor seja julgado dentro do devido processo legal, e não com vingança privada.
Puxou o gatilho intoxicado por frases como: “vamos fuzilar a petralhada”, “a ditadura matou pouco”, de um presidente com os dias contados.
O bolsonarismo “defensor da liberdade”, quer mesmo é exterminar opositores e aniquilar a divergência de ideias.
A distinção entre o autor deste crime de ódio e outros trabalhadores que abraçaram o bolsonarismo está no fato dele portar e usar uma arma de fogo acautelada pelo próprio Estado. Isso nos faz crer que a ampliação do porte de armas pode ser um vetor de mais violência e não da sua contenção.
Este foi um crime político e assim o denunciamos. Marcelo se junta a Bruno Pereira, Marielle, Mestre Moa, e muitos outres, em um crime que é mais um alerta vermelho para a sociedade brasileira quanto à escalada da violência política.
É preciso punir com rigor quem atira contra a democracia, ao contrário de algumas autoridades que tentam individualizar, tratar como desavenças pontuais e corriqueiras o ocorrido.
Este não é um evento que ocorre todo final de semana. Não tentem desqualificar a vítima e de cima de suas supostas autoridades mandar ´´fechar o caixão“.
As digitais do presidente e de todos que se omitem ou somam-se a ele, no seu governo de extermínio, ódios e mortes estão visíveis para todos que observarem com um pouco mais de atenção.
Reiteramos nossa solidariedade a policial civil Pamela Silva e seus filhos, que ficaram órfãos, estendendo esta solidariedade a todas as famílias vítimas do bolsonarismo!
Nós, do Movimento Policiais Antifascismo permaneceremos firmes em nossos propósitos e aqueles que tombarem por estes ideais serão lembrados como trabalhadores, na construção de uma Segurança Pública Democrática e Popular.
Seguiremos, sem nenhum temor, na luta para banirmos o fascismo do poder em nosso país nas eleições 2022.
Não ousem tentar nos calar!
MARCELO ARRUDA, PRESENTE!
*Tânia Mandarino é advogada. Integra o Coletivo Advogadas e Advogados pela Democracia (CAAD)
Por Tânia Mandarino*
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