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Projeto que aumenta, de 20% para 30%, as cotas raciais no serviço público está na pauta da CCJ do Senado desta semana

Após sucessivos adiamentos, o governo federal tenta avançar, nesta semana, na votação do Projeto de Lei (PL) nº 1.958/2021, que renova a política de cotas raciais no serviço público federal e amplia, de 20% para 30%, a reserva de vagas.

política de cotas no âmbito da administração pública federal, de 2014, vencerá em junho deste ano e seus defensores correm contra o tempo para aprovar a extensão.

O projeto está na pauta da reunião da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado da próxima quarta-feira (17/10), sob relatoria do senador Humberto Costa (PT-PE), e depois ainda precisa passar pela análise da Câmara.

O texto, que foi aprovado pela Comissão de Direitos Humanos (CDH) no fim de 2023, é alvo de uma série de propostas de alteração e já teve pedidos de vista e de retirada de pauta aprovados.

A ministra da Gestão, Esther Dweck, afirmou na última semana que a votação do projeto na CCJ do Senado foi acordada com o presidente da comissão, Davi Alcolumbre (União-AP).Play Video

“O presidente colocou como primeiro item de pauta na próxima sessão. A gente espera que seja aprovado no Senado para que a gente possa, na sequência, discutir na Câmara, e tentar aprovar até o meio do ano, que é quando vence a lei atual de cotas para concursos públicos”, disse Dweck à TV Brasil.

A defesa da ampliação das cotas é um dos itens que compõem a proposta de reforma administrativa do governo Lula (PT), que os ministros preferem chamar de “agenda de transformação do Estado”.

Trabalharam no texto das cotas as equipes dos Ministérios da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos, da Igualdade Racial, da Justiça e Segurança Pública e dos Povos Indígenas.

Os titulares dessas pastas defendem que o serviço público precisa ter “a cara do Brasil” e, por isso, faz-se necessário aumentar a representatividade.

Uma das principais patrocinadoras do projeto, a ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, afirmou recentemente que “essa é uma ação afirmativa que precisa ser fortalecida e ampliada para que a administração pública tenha a cara e as contribuições de suas maiorias”.

“A gente no ministério vem trabalhando pra que o projeto avance, e essa política que deu tão certo no país seja aperfeiçoada e aprovada”, disse ela no último dia 10.

Vinícius Schmidt/Metrópoles

A ministra Anielle Franco - Metrópoles

A Ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco Ricardo Stuckert/PR

Lula discursa em evento no Palácio do Planalto em favor da igualdade racial no Brasil

Lula discursa em evento no Palácio do Planalto em favor da igualdade racial no Brasil Ricardo Stuckert/PR

Vinícius Schmidt/Metrópoles

Na mesma linha, a ministra da Gestão vem dizendo que há ainda um déficit de representatividade no serviço público federal que precisa ser corrigido. Hoje, 37,5% das pessoas na administração são negras e 45,9% são mulheres, frente a um país majoritariamente preto e pardo (55,5%) e feminino (51,5%), conforme dados do Censo Demográfico de 2022.

Resistência às cotas raciais

Uma das vozes contrárias à pauta, o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) apresentou um substitutivo (nova proposta de redação) que subverte a lógica do projeto ao trocar as cotas raciais em concursos públicos por cotas para pessoas oriundas de famílias com renda per capita igual ou inferior a um salário-mínimo e meio.

Na justificativa que apresentou, Flávio Bolsonaro admitiu que o tema é “controvertido e polêmico” e considerou que o real problema de desigualdade no Brasil é referente ao ensino fundamental e médio.

“Pretender instituir o sistema de cotas raciais para concursos públicos e processos seletivos simplificados nem de longe resolve o problema em sua causa, apenas tão promove acirramento social e viola princípios da isonomia e meritocracia”, escreveu ele.

Outro ponto que tem sido questionado é o prazo de vigência da ação afirmativa, que foi ampliado de 10 para 25 anos e é considerado excessivo por senadores de direita.

Carlos Portinho (PL-RJ), que foi líder do governo Jair Bolsonaro, entendeu que esse tipo de medida compensatória precisa vigorar por prazo determinado e relativamente curto, permitindo sua revisão e, se for o caso, reformulação.

Com a resistência no Congresso, há quem avalie que a mera renovação das cotas em concursos públicos no patamar atual, de 20%, já será uma conquista.

O que diz o projeto

O projeto foi apresentado em 2021 pelo senador Paulo Paim (PT-RS) para renovar a lei de cotas raciais no serviço público por mais 10 anos.

No Senado, foi proposto o aumento do percentual de vagas destinadas a pessoas negras, de 20% para 30%, bem como a ampliação do prazo de vigência, de 10 para 25 anos. É esse texto que será votado agora pelos senadores.

A regra vale para provimento de cargos efetivos e empregos públicos no âmbito da administração pública federal, das autarquias, das fundações públicas, das empresas públicas e das sociedades de economia mista controladas pela União. A reserva de vagas ocorre sempre que forem ofertadas duas ou mais vagas.

Além de ampliar o percentual de vagas reservadas e o tempo de renovação, o relatório que será votado determina que os editais de abertura de concursos públicos e de processos seletivos simplificados estabelecerão procedimento de confirmação complementar à autodeclaração, para fins de comprovação.

O relator Humberto Costa manteve a ampliação do prazo de 25 anos, conforme foi aprovado na Comissão de Direitos Humanos. Ele disse entender que esse prazo é “razoável”. “Ressaltamos, porém, que esta política de ação afirmativa será constantemente avaliada pela sociedade civil e pelas esferas de governo, a fim de garantir que esta condiga com os objetivos das políticas públicas de promoção da igualdade”.

Com informações do Metrópoles

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