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Em meio ao surto de dengue na capital federal, o início do ano letivo nas mais de 800 escolas gera preocupação

A comunidade escolar da rede pública do Distrito Federal, que retornará às aulas em 19 de fevereiro, está apreensiva com o risco de se contaminar com a dengue em algum dos 827 estabelecimentos que frequentará. A preocupação dos 472 mil alunos e de seus pais cresce por dois motivos. Um deles é o aumento de casos de doentes picados pelo mosquito Aedes aegypti. Desde janeiro, a quantidade de registros referentes a pessoas possivelmente contaminadas, na capital federal, é de 46,2 mil, conforme o último boletim da Secretaria de Saúde (SES-DF), divulgado em 5 de fevereiro. O outro, pouca informação sobre as medidas adotadas pelo governo local para manter estudantes, professores e funcionários protegidos. O Correio apurou que, aparentemente, escolas, em Brazlândia e Ceilândia, regiões com alta incidência de infecções estão com móveis e sobras de materiais despejados nos fundos dos terrenos que ocupam, sem a adequada proteção contra chuva. O acúmulo de água em objetos é propício para a proliferação do inseto transmissor da doença.

O infectologista do Hospital Brasília André Bon observa que locais com entulho ou objetos armazenados inadequadamente (deixados ao ar livre, por exemplo) podem acabar servindo de criadouros ao mosquito. O especialista sugere colocar ao menos lonas sobre esses despejos para evitar riscos. “O correto é não deixá-los a céu aberto porque, além de serem um bom lugar para o mosquito da dengue, ainda podem atrair outros ameaças, como escorpiões e aranhas”, acrescentou.

No Centro Educacional (CED) Incra 8 de Brazlândia, a reportagem verificou no local foi construído, de maneira improvisada, um depósito. Nesse espaço, estão depositadas cadeiras, mesas e gavetas que não servem mais e aguardam o recolhimento da Secretaria de Educação (SEEDF). A pasta informou que ainda está sem veículos para ir retirá-los. O local está coberto por telhas de plástico no teto e telhas de cerâmica na lateral para proteger seu interior da chuva. A medida pretende impedir que se formem poças d’água, “berçários” ideais para o Aedes aegypti.

O Correio também contatou o CED 11 de Ceilândia. Seu diretor, Francisco Gadelha Araújo, disse que a SEEDF os orientou a colocar tudo que não tinha mais utilidade no pátio da escola. A pasta também informou, de acordo com o educador, que recolheria esses materiais. Porém, segundo o professor, “até o momento, nada foi efetivamente retirado”. “Solicitamos uma solução urgente para evitar transtornos durante o início das aulas, mas até agora nada foi feito”, lamentou.

“Nesse período de aumento de casos de dengue em todo DF, é obrigação do governo identificar possíveis focos de mosquitos nas escolas e arredores, e recolher os entulhos. Muitas vezes as direções (das escolas) não têm mais espaços cobertos para guardá-los”, disse Samuel Fernandes, diretor do Sindicato dos Professores do Distrito Federal (Sinpro-DF)

Preocupação

Moradora do Riacho Fundo I, a esteticista Juliane Martins está receosa com a volta à escola em que seu filho, Plínio Martins, estuda e que está na mesma região. “Ainda mais que, no Riacho Fundo, não estou vendo o carro do fumacê, e tem muitos casos (de dengue), aqui. Com o início das aulas, a preocupação fica ainda maior”, ressaltou.

Ela contou haver visitado o estabelecimento que seu pequeno de seis anos frequentará e que não percebeu algum tipo de ação preventiva no local. “Quando fui lá, não tinham feito nada. Aqui no Riacho Fundo, de forma geral, também não estou vendo o GDF fazer qualquer tipo de limpeza”, avaliou Juliane. Por isso, segundo a esteticista, para este ano letivo, o repelente vai se tornar item obrigatório. “Vou passar nele antes de ir para a escola e mandar (o frasco com a substância) dentro da mochila”, afirmou.

A vendedora Omayra Ribeiro também está preocupada com a saúde dos filhos, Maria Verônica e João Pedro, adolescentes que estudam em duas escolas públicas no Cruzeiro. “Sabemos que está havendo uma epidemia de dengue no DF e isso causa uma preocupação imensa”, comentou. “Gostaria muito que as escolas, no geral, tivessem um cuidado com o retorno das crianças. Nós, pais, também devemos nos reunir para fazer essas cobranças, pois é um ambiente onde as crianças passam boa parte do dia”, reforçou.

A moradora da Octogonal ponderou que não adianta tomar os cuidados necessários em casa e na escola, se os estudantes correrem o risco de serem picados pelo Aedes.

Combate

Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) requisitou ao governo de Brasília informações sobre o planejamento das ações nas escolas para a prevenção e a orientação dos alunos, das rede pública e particular, quanto às medidas para inibir a transmissão da dengue, chikungunya, zika e febre amarela.

Ao Correio, o MPDFT informou que a pasta de educação explicou que criará o informativo Juntos contra a dengue, com recomendações para a prevenção e combate ao mosquito transmissor da doença. A SEEDF também pretende desenvolver o projeto Com dengue não dá, que orientará os estudantes sobre como combater a proliferação de focos do Aedes aegypti (veja Medidas prometidas pelo GDF).

A secretária de Educação, Hélvia Paranaguá, afirmou à reportagem que “sobre a dengue, o planejamento vai desde ações mais práticas, como a limpeza das escolas, das caixas d’água e de calhas — que estão contempladas na preparação para o início do ano letivo — até a realização de ações educativas”, detalhou.

Hélvia acrescentou que, em 2023, diferentes centros de ensino receberam orientações, em forma de teatro e musicais, apresentações que serviram para ensinar e sensibilizar a comunidade escolar sobre a doença. “Este ano não será diferente. Sabemos que o desafio é maior ainda diante da epidemia da doença, mas estamos mobilizados para ajudar no combate à dengue”, garantiu a secretária. Segundo ela, os alunos das regiões administrativas com maior incidência de casos terão palestras com o objetivo de conscientizá-los sobre a importância do combate ao mosquito para prevenção da dengue.

A titular da Secretaria de Educação acrescentou que a limpeza, dedetização e desinfecção das escolas da rede pública de ensino são realizadas por serviços terceirizados de limpeza e conservação. O órgão também realizou, no início do ano letivo, a limpeza das caixas d’água e de gordura e calhas, descarte de lixo e roçagem de escolas.

A SEEDF explicou que o recolhimento de materiais que não servem mais aos estabelecimentos da rede pública segue um cronograma. Além disso, a pasta informou que o material recolhido é catalogado e separado em lotes para que seja leiloado. Disse que as escolas foram orientadas a armazenar os objetos com cuidado para não causar poças d’água, a fim de prevenir a dengue e a proliferação de outras doenças, roedores e insetos. As escolas também recebem a orientação de cobrir com lona tudo o que não for necessário até que se conclua o recolhimento. Em 2022, foram retiradas mais de 28,4 mil cadeiras e carteiras e 185 equipamentos. O relatório do inventário recolhido em 2023 está sendo finalizado.

A Secretaria de Saúde do Distrito Federal (SES-DF) informou, por nota, que o trabalho de inspeção nas escolas foi iniciado pela Vigilância Ambiental. Além disso, segundo o último boletim divulgado pela pasta, de 31 de dezembro de 2023 a 3 de fevereiro de 2024, dos 46.298 casos prováveis de dengue no DF, 2.625 são de crianças e adolescentes entre 10 e 14 anos de idade. Esse grupo, de acordo com o Ministério da Saúde, será público-alvo da vacinação.

Questionada se, com a volta às aulas, existe alguma previsão para que campanha de imunização dos alunos ocorra nas escolas públicas, a Secretaria de Saúde informou que aguarda o alinhamento do Ministério da Saúde para definir as ações com relação à vacinação contra a dengue e o número de doses a serem distribuídas.

Médica intensiva do Hospital Santa Marta, Adele Vasconcelos explica que a escolha pela faixa etária inicial da vacinação se deve a que crianças e adolescentes são mais propensos a complicações neurológicas, como encefalites, e cardiológicas. “Além disso, até 50% das crianças brasileiras de até 10 anos, geralmente, tiveram contato anterior com o vírus. E, se forem vacinadas, estarão protegidas e conseguiremos minimizar os riscos ante uma segunda infecção”, ressaltou.

Em relação às formas de prevenção desse público, a especialista reforçou que a única maneira realmente eficaz para não contrair a doença é o imunizante. “As demais formas de proteção, como uso de repelentes, são profiláticas. Elas evitam, mas não impedem de contrair a infecção”, observou a médica.

Medidas

– Informativo “Juntos Contra a Dengue”: material da Secretaria de Educação (SEEDF) com recomendações de prevenção e combate ao mosquito vetor da dengue;
– “Com Dengue Não Dá”: projeto educativo da SEEDF para orientar os estudantes sobre práticas que visam evitar a proliferação de focos do Aedes aegypti, tornando-se multiplicadores;
– Empresas terceirizadas de limpeza /dedetização que atendem o GDF terão de conscientizar seus funcionários sobre a dengue com campanhas educativas, treinamentos e reuniões;
– Foram solicitadas às coordenações regionais de ensino medidas nas escolas como limpeza das caixas d’água de gordura e de calhas, descarte de lixo, roçagem;
– Palestras serão oferecidas pela SES-DF, com foco nas regiões com maior incidência de casos para conscientizar os estudantes sobre a importância do combate ao Aedes aegypti.

Fonte: MPDFT

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