Em nota pública assinada por 36 integrantes, o grupo “Eixo Epidemiológico do Plano Operacional Vacinação Covid-19”, que assessorou o governo na elaboração de seu plano, se disse surpreendido aos saber pela imprensa da existência do documento.
“Nos causou surpresa e estranheza que o documento no qual constam os nomes dos pesquisadores deste grupo técnico não nos foi apresentado anteriormente e não obteve nossa anuência. Importante destacar que o grupo técnico havia solicitado reunião e manifestado preocupação pela retirada de grupos prioritários e pela não inclusão de todas as vacinas disponíveis que se mostrarem seguras e eficazes”, diz o texto.
Os pesquisadores afirmam ainda que todas as populações vulneráveis devem ser incluídas na prioridade de vacinação, como quilombolas, populações ribeirinhas, privados de liberdade e pessoas com deficiência.
“Outro ponto importante a ser considerado é a ampliação do escopo para todos os trabalhadores da educação e também a inclusão, nos grupos de vacinação, para os trabalhadores essenciais. Novamente, vimos solicitar do governo brasileiro esforços do Ministério da Saúde para que sejam imediatamente abertas negociações para aquisição de outras vacinas que atendam aos requisitos de eficácia, segurança e qualidade.”
A nota encerra dizendo que “um atraso na campanha de vacinação significa vidas perdidas” e que é preciso nesse momento “utilizar a ciência para a tomada de decisão que norteará o que mais importa, a preservação de vidas de milhares de brasileiros e brasileiras”.
Mais cedo, a enfermeira, epidemiologista e professora da UFES (Universidade Federal do Espírito Santo), Ethel Maciel, afirmou em seu perfil pessoal de rede social que desconhecia o plano de vacinação.
“Fomos surpreendidos, ficamos sabendo pela imprensa que o documento havia sido divulgado com a nossa assinatura. Eu não vi essa versão ou qualquer outra preliminar”, disse a especialista à Folha.
Maciel afirma que participou de uma reunião em que o plano foi apresentado superficialmente aos pesquisadores. “No encontro, debatemos e questionamos alguns tópicos, como a não negociação da Coronavac’, diz.
Segundo ela, normalmente os pesquisadores que participam de uma pesquisa ou ação recebem a versão final antes da publicação. “Em 25 anos de carreira eu nunca vivi algo assim. É muito grave e considero uma postura antidemocrática, porque podemos responder inclusive judicialmente se algo não está correto, já que nosso nome está assinado lá.”
O grupo solicitou uma reunião com o ministério, que deve ocorrer na segunda-feira (14). “Decidimos publicar essa nota para esclarecimento, mas ainda não pensamos em ação judicial”, afirma.
A assessoria de imprensa do ministério alegou que todos os envolvidos estavam cientes de que existia um prazo de entrega para o STF. “Porém, na quarta-feira o ministro irá agradecer o empenho, conhecimento, dedicação a cada um dos pesquisadores, cientistas, médicos e demais servidores no evento”, diz.
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