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Com a inviabilização de Bolsonaro, a máfia midiática tenta reabilitar o Partido da Lava-Jato

Como é bem sabido por todos os que analisam a política com alguma racionalidade, o capital não se move em função de questões sentimentais ou de moralidade. O que sempre prevalece nos momentos decisivos é a defesa intrínseca de seus interesses materiais de classe.

Por tal motivo, o apoio decisivo dado a Bolsonaro em 2018 não custou aos articuladores políticos do grande capital a perda de nenhuma noite de sono.

Evidentemente, todos eles conheciam muito bem o que significava a figura de Jair Bolsonaro, com seus quase trinta anos de intenso parasitismo no sistema político brasileiro.

Ninguém poderia ignorar que Bolsonaro era sobejamente conhecido pela prática das rachadinhas (roubo de salários de servidores públicos), por sua vinculação com as milícias fluminenses, pela condecoração e apologia de torturadores e milicianos e por ter trazido todos os seus filhos para a política dentro da mesma linha de atuação e filosofia.

É importante deixar patente que nenhum analista político poderia não saber que, em seus mais de vinte e oito anos de atividade parlamentar, Jair Bolsonaro jamais tomou uma iniciativa sequer para a aprovação de alguma medida que viesse de encontro às aspirações e necessidades do povo brasileiro.

No entanto, apesar disso, os interesses do grande capital falaram mais alto e seus representantes não titubearam em sua decisão de redesenhar a figura daquele politiqueiro com um passado de insignificância e podridão como se ele fosse um novato na política, carregado de frescura e boas intenções.

O importante naquele momento de 2018 era impedir que o PT voltasse ao governo logo na primeira eleição após o golpe de 2016.

Como Bolsonaro despontava como o único nome aliado do capital em condições de disputar o voto da maioria da população, nenhum prurido deveria servir para obstaculizar o necessário apoio a sua candidatura.

E, consequentemente, Bolsonaro contou com todo o respaldo do grande capital naquela oportunidade e, apenas por isso, conseguiu se eleger.

Porém, por mais que a política econômica implementada por Bolsonaro e seu ministro Paulo Guedes atendesse à plenitude os anseios dos senhores do mercado, sua ignorância, sua brutalidade e sua inabilidade política passaram a ser fatores de instabilidade para a gestão dos negócios e suas projeções de lucratividade.

É que, embora os capitalistas sejam bastante pragmáticos e isentos de sentimentalismo, a incapacidade de Bolsonaro para manejar e suavizar conflitos se tornou um empecilho para sua continuidade no comando dos interesses dos principais setores das classes dominantes.

Devido a isto, os representantes do grande capital vêm se empenhando na busca de uma alternativa para ocupar o seu lugar.

O que se quer encontrar é um nome que possa vir a viabilizar a tão badalada “terceira via”, ou seja, alguém afinado com os interesses dos senhores do mercado que esteja em melhores condições para enfrentar e derrotar a ameaça simbolizada pela candidatura de Lula.

Com este objetivo, já foram feitos vários balões de ensaio: Alckmin, Doria, Eduardo Leite e, até mesmo, Ciro Gomes foram alguns dos nomes aventados.

Mas, como nenhum deles conseguiu ser emplacado satisfatoriamente, os donos do capital e os meios de comunicação a seu serviço parecem ter decidido trazer de volta à cena o Partido da Lava-Jato.

Não é à toa que nos últimos dias, na programação da rede Globo e nas páginas dos jornais e revistas vinculados aos setores financeiros, o nome do ex-juiz Sérgio Moro e de outros expoentes do lavajatismo voltaram a ocupar espaços com grande destaque, com citações tão laudatórias que levariam um incauto a acreditar que o ex-herói não tivesse já sido desmascarado .

Tanto faz que esteja mais do que comprovado que a chamada Operação Lava-Jato funcionava com base em práticas ilegais e depravadas, que não se atinha ao mais mínimo parâmetro de justiça e legalidade.

Importa ainda menos saber que a atuação da Lava-Jato tenha causado a destruição de boa parte da infraestrutura econômica de nosso país, que tenha servido para arrasar com nossas principais empresas de engenharia, que tenha facilitado o desmantelamento da Petrobrás e levado à entrega dos recursos do pré-sal ao domínio de corporações estrangeiras e que, além disso, fosse um trampolim para o enriquecimento ilegal e indecoroso de seus integrantes.

Pelo contrário. No tocante ao anterior, o Partido da Lava-Jato e seus militantes tão somente demonstraram estar perfeitamente sintonizados com os objetivos e propósitos daqueles que detêm as rédeas do mundo dos negócios no Brasil e no mundo.

Em outras palavras, provaram, sim, que são plenamente confiáveis para aqueles a quem sempre se dispuseram a servir.

Em vista disto, estejamos preparados para a nova campanha que está sendo engatilhada com o objetivo de redesenhar a imagem atualmente desgastada de Sérgio Moro para tentar outra vez fazê-lo brilhar como uma estrela fulgurante.

Ou seja, mais uma vez, o medíocre e provinciano ex-juiz vai ser vendido ao público como o campeão da moralidade e da luta contra a corrupção.

É claro que pouco será dito sobre as arbitrariedades por ele praticada, sobre os milhões de desempregados surgidos de sua atuação, sobre seus vínculos com organismos de espionagem dos Estados Unidos e nem sobre ele ter ficado milionário recebendo pagamentos de uma empresa gringa que ficou encarregada de gerir processos de empresas brasileiras que ele levou à falência.

Que Sérgio Moro e a Lava-Jato sejam na verdade sinônimos de entreguismo, traição à pátria e servilismo aos interesses do imperialismo, essas são realidades que os meios de comunicação do grande capital não vão querer divulgar.

Pode parecer muito ousado, depois de tudo o que se soube sobre as atividades criminosas da quadrilha e partido político da Lava-Jato, mas, como de costume, o que conta mesmo são os interesses das classes dominantes.

Por isso, eles não hesitarão em tentar novamente pintar como herói aquele que só serviria para símbolo da traição ao povo brasileiro e do obscurantismo e da máxima do “vale tudo por dinheiro”.

*Jair de Souza é economista formado pela UFRJ; mestre em linguística também pela UFRJ

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