Ministério da Saúde já elaborou plano para tentar conter disseminação do mosquito aedes aegypti. Estratégia tem seis eixos diferentes
Após um recorde inesperado de casos e mortes por dengue em 2024, a iminente regularização do período chuvoso no Centro e Norte do país já deixa autoridades de saúde em alerta. Neste ano, houve 6,5 milhões de casos prováveis e 5.573 vidas perdidas por causa da doença. Outras 1.531 estão em investigação.
O recorde de casos de dengue não era esperado por especialistas e autoridades em saúde porque o Brasil já vinha de números crescentes ano a ano. Historicamente, a doença é cíclica, ou seja, alterna períodos de altas e baixas. Em 2022, foram 1.450.270 de casos e no ano passado 1.649.146.
Para 2025, os especialistas não têm um prognóstico se haverá alta ou redução nos casos e mortes por dengue. Independente do cenário que possa vir a se confirmar, o importante é a prevenção. A afirmação é da bióloga, especialista em aedes aegypti, e pesquisadora do Laboratório de Medicina Experimental e Saúde do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), Denise Valle.
“Mesmo em uma época de epidemia, só 1% a 2% dos mosquitos têm capacidade de infectar. Mas uma coisa é 1% de 100, que é um, outra coisa é 1% de 100.000 que é mil. O importante agora é entrar no verão, independente do que a gente está esperando, com uma baixa quantidade de mosquitos”, orienta Valle.
A especialista lembra que oito em cada dez criadouros do mosquito transmissor da dengue estão dentro das residências, ou seja, cada cidadão precisa assumir a própria responsabilidade, e que a dengue não deve ser tratada apenas como uma questão de saúde.
“Dengue é muito falta de saneamento, uma deficiência na coleta de resíduos sólidos, deficiência no abastecimento de água e desigualdade. Isto não está na conta da saúde, está na conta de outros fatores”, considera a especialista.
Um dos sinais de preocupação com a dengue é que o Ministério da Saúde (MS) apresentou na última quarta-feira (9/9) o Plano Nacional de Enfrentamento à Dengue e Outras Arboviroses.
Neste ano, o estado com mais casos prováveis de dengue é São Paulo, com 2.132.671 registros. Na sequência aparecem Minas Gerais (1.693.993) e Paraná (649.634).
Prevenção
O documento trabalha com seis eixos temáticos e prevê investimentos de R$ 1,5 bilhão para dar uma resposta ao possível avanço da dengue. Os eixos são: prevenção, vigilância, controle vetorial, organização da rede assistencial, preparação e resposta às emergências e comunicação e participação comunitária. Além da dengue, estão no radar as preocupações com chikungunya, zika e oropouche.
Um dos pontos de destaque do plano está no eixo de controle vetorial. São previstas estações disseminadoras de larvicidas. No caso das aldeias indígenas, está programado o incremento do uso de insetos estéreis.
Também deve haver ampliação do método Wolbachia. Esta iniciativa consiste na injeção de uma bactéria no ovo do aedes aegypti, transmissor da dengue, chikungunya e zika. Com o tempo, os mosquitos passam a se reproduzir, mas os filhotes se tornam incapazes de transmitir a dengue e também outras doenças.
O plano do ministério menciona os imunizantes duas vezes. Na primeira afirma que vai haver a incorporação “gradativa” de vacinas, de acordo com a produção dos fabricantes, mas sem mencionar número de doses. O documento afirma ainda que deve haver a busca ativa das pessoas que tomaram a primeira dose, mas não voltaram para receber a segunda aplicação.
O Metrópoles entrou em contato com o Ministério da Saúde pedindo uma entrevista na quarta-feira (9/10). A assessoria de imprensa da pasta solicitou quais eram os principais pontos a serem esclarecidos, isso foi informado, mas, mesmo assim, não houve resposta. O espaço segue aberto.
Clima
O Brasil registrou a pior seca em 75 anos, conforme o Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden). Por enquanto, os institutos de meteorologia desenham um cenário para a estação chuvosa de precipitação dentro da média em boa parte do Brasil, com algumas sensíveis variações para mais ou para menos.
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