Um banho de sangue, uma execução sumária: não existem outras palavras para descrever o massacre ocorrido na última quinta-feira (6) na comunidade do Jacarezinho, no Rio de Janeiro. A absurda operação levou nove horas de terror ao entorno da comunidade, chegando a atingir pessoas que estavam no metrô. Invasão de casas, sangue por todo lado, desrespeito com qualquer legalidade: relatos bárbaros chegam das famílias de Jacarezinho. Até o presente momento, o número de vítimas chega a 28, sendo que a OAB e ativistas de Direitos Humanos ainda lutam para o reconhecimento da identidade das vítimas. É a operação mais letal, ou seja, a maior chacina da história do Rio de Janeiro, comparada com chacinas como a de Vigário Geral (1993) e da Baixada Fluminense (2005).
A invasão do Jacarezinho passou por cima da medida cautelar do STF que proíbe operações nas favelas durante a pandemia. Indignado, o ministro Fachin citou, em documento, uma possível “execução arbitrária”. Organizações do movimento negro, dos direitos humanos e de associações de moradores da favela condenaram imediatamente o ocorrido, responsabilizando o governo do Rio de Janeiro e a Polícia Civil pelo massacre. Na própria noite de quinta-feira, espontaneamente, moradores foram às ruas protestar e exigir justiça.
O modelo da operação tem raízes na gestão política das ditas “operações de combate ao tráfico” nas favelas e bairros pobres do Rio de Janeiro, sob inspiração inicial do agora ex-governador Wilson Witzel. Expressão da decadência da casta política fluminense, Witzel foi cassado em menos de dois anos de mandato, não sem antes deixar um legado de truculência e morte. Foi Witzel quem debochou da quebra da placa de Marielle, popularizou o termo “atirar na cabecinha” para promover as execuções, comandou a operação desastrada em Angra dos Reis e comemorou, imitando o gesto de comemoração de um gol, a morte como desfecho de um sequestro de um ônibus na ponte Rio-Niterói. Seu substituto, Cláudio Castro, não apenas aprofundou a linha agressiva de prosseguir o genocídio da juventude negra e pobre da periferia, como se alinhou ainda mais com Bolsonaro na defesa desse projeto de gestão da segurança pública – que não é outro, senão uma verdadeira guerra contra o povo.
Como escreveram Patrick Veiga e Daniel Costa, denunciando o caráter racista e genocida da chacina:
“O Estado segue avançando com seu projeto racista e genocida. Nem são precisos dados para saber o óbvio: certamente, a maioria das mortes dessa operação são de pessoas negras. Tentam apagar a nossa identidade, e impor a ideia de que todo preto favelado é um potencial bandido, e veremos nos próximos dias todos os assassinados de hoje sendo chamados de ‘suspeitos’. Isso acontece, mesmo com vídeos de policias invadindo casas e diversos relatos de abuso policial e assassinato de inocentes. Ainda que não exista pena de morte no Brasil, o Estado conscientemente mata nossas perspectivas, nossos sonhos e nossos corpos.
A declaração da polícia é reveladora: ‘lá não estavam suspeitos, estavam criminosos’. Claramente, trata-se de um julgamento sumário, sem direito ao julgamento e à ampla defesa. A operação, que pretendia prender 21 investigados, matou 25, prendeu apenas seis e feriu dezenas”.
A disputa de narrativa no dia seguinte é um marco da luta política. Por um lado, o movimento negro, dos moradores de favela, reagiu com atos contundentes: pela manhã, já uma faixa percorria as principais ruas da comunidade, numa passeata de movimentos e lideranças que juntou cerca de 200 pessoas com a palavra de ordem “Parem de nos matar”. O ato da parte da noite ganhou corpo, com quase duas mil pessoas, em sua maioria da comunidade, muitos jovens e mulheres negras, que ganhou grande apoio, repercussão e simpatia popular. Estiveram presentes, pela manhã e à noite, lideranças do PSOL como Renata Souza, Dani Monteiro, David Miranda, Josemar Carvalho e Patrícia Félix, além de movimentos de juventude e de educação popular como Juntos, Emancipa, UJR, Afronte, Rua, LPJ, além outros partidos da esquerda. O movimento de mães também fez um protesto em frente ao hospital Souza Aguiar, exigindo a imediata liberação e identificação dos corpos das vítimas.
Por outro lado, parte do bolsonarismo manifestou-se em defesa da ação da polícia. O vice-presidente Hamilton Mourão declarou à imprensa que os mortos na operação eram “todos bandidos”.
A responsabilidade não é apenas do governador Cláudio Castro. Como fiel seguidor de Bolsonaro, ele reza a cartilha dos milicianos e dos que atuam contra o povo. Na noite anterior, a reunião entre o presidente e o governador mostrou o óbvio: um acordo entre ambos para fazer pagar com vidas a mudança do eixo da discussão geral – para o bolsonarismo, interessa mais polarizar ao redor da chamada segurança pública do que do verdadeiro caos que o país atravessa. Estamos na iminência de um apagão de vacinas, a economia está derretendo e Bolsonaro está contra as cordas na CPI.
A política da chamada “guerra às drogas” evidencia o fracasso desse tipo de ação policial, que acaba tendo como objetivo único a perpetuação do genocídio contra o povo pobre e negro. A saída para enfrentar o genocídio em suas múltiplas dimensões – o descontrole da pandemia e as chacinas contra o povo negro das favelas e periferias do Brasil – é organizando os protestos e responsabilizando os governos pelos crimes que cometem.
A passeata por justiça para Jacarezinho foi uma resposta contundente, capaz de irradiar esperança da revolta. No dia 18 de maio, completa-se um ano do assassinato do adolescente João Pedro, em São Gonçalo, data que familiares e movimentos sociais querem marcar como um capítulo na luta por justiça. O movimento negro de várias partes do país está convocando um calendário de lutas, que passa por novos protestos nesse final de semana e por uma jornada nos dia 13, 18 e 22.
É preciso transformar o luto em luta para acabar com as chacinas em todas as favelas do Brasil e para responsabilizar os genocidas Castro e Bolsonaro, que devem pagar pelos seus crimes. O deputado federal David Miranda (PSOL-RJ) apresentou o pedido de impeachment do governador Castro por sua responsabilidade no massacre mais letal da história fluminense. A esquerda social e o PSOL devem apoiar de forma decidida as iniciativas do movimento negro e da auto-organização dos territórios, bairros e favelas. Apenas com esse passo podemos avançar na unidade da luta popular para derrotar nossos inimigos. O caminho está na luta.
Israel Dutra é sociólogo, membro da Direção Nacional do PSOL e do Movimento Esquerda Socialista (MES). É Secretário de Relações Internacionais do PSOL.Thiago Aguiar é doutor em Sociologia (USP) e diretor da Revista Movimento.
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