O cientista político Luiz Weber, que é também colunista da Folha, avalia que Jair Bolsonaro fritou o ministro Sergio Moro, ao dizer que ele foi para o governo em troca da promessa de uma vaga para o Supremo Tribunal Federal. “O presidente Bolsonaro furou o balão de Moro. Sobra agora apenas aquele barulho agudo, do ar escapando fino, desinflando aos poucos a figura do superministro da Justiça”, diz ele, em seu artigo.
“De presidenciável em 2022, passa a refém da política miúda. A regra explica. Cabe ao Senado, em sessão secreta e por 41 votos, aprovar o indicado do presidente ao Supremo. No passado, outros ministros da Justiça foram nomeados para o STF e todos os candidatos se submetem ao périplo dos gabinetes. Mas nunca com tanta antecedência. No jargão da velha política, exposição prematura leva o nome de fritura”, aponta.
Weber lembra que Moro já se referiu ao STF como ‘ganhar na loteria’. “Se de fato trocou Curitiba apenas por uma vaga no Supremo, Moro agiu como um deputado do centrão: hipotecou sua imagem para lustrar um governo em troca de uma sinecura. O discurso era só discurso. Dezoito meses é tempo demais na política. É uma eternidade num governo Bolsonaro. Sem um cartão de visitas para apresentar, talvez sua imagem —e a de Bolsonaro— não esteja tão imantada de prestígio popular a ponto de tornar sua aprovação no Senado algo fácil. Ao se mexer tão cedo, colocou-se em impedimento. E juiz uma vez impedido, sempre impedido”, diz Weber.
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