A associação entre facções criminosas e lideranças evangélicas está em crescente desenvolvimento no Rio de Janeiro. Um exemplo notório é a Tropa de Arão, que há algum tempo domina uma vasta área de favelas conhecida como Complexo de Israel, em referência à “terra prometida” mencionada na Bíblia. Essa facção requer conversão e práticas religiosas específicas para adesão e permanência na organização, inspirada na “gramática pentecostal”.
“Essa modalidade de associação entre religião e crime organizado está em ascensão. A Tropa de Arão, liderada por Álvaro Malaquias Santa Rosa, está expandindo suas atividades para novas áreas, principalmente aquelas propícias para o tráfico de drogas”, explicou Émerson Tauyl, advogado criminalista especialista em Segurança Pública, em entrevista ao Uol.
Essa facção adota referências bíblicas em sua identidade, utilizando o nome do irmão de Moisés, e exibe símbolos religiosos como a estrela de Davi, inclusive em neon de grandes proporções na comunidade Cidade Alta. Apesar de possuir conexões com o Terceiro Comando Puro, rival do Comando Vermelho, a Tropa de Arão é considerada uma facção independente.
Segundo Tauyl, os ideais se misturam, pois seus membros podem ser traficantes que participam ativamente da vida religiosa evangélica, frequentando cultos e contribuindo financeiramente, tanto quanto religiosos que passam a participar do mundo do crime.
O assunto entrou em voga na segunda-feira (11) quando o ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF) abordou a relação entre crime organizado e igrejas evangélicas em entrevista à GloboNews.
Já nesta quarta-feira (13), o ministro André Mendonça, indicado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) ao STF, publicou uma nota afirmando que a fala de Mendes pode ser considerada “grave, discriminatória e preconceituosa, pois dirigida a uma comunidade religiosa em geral”.
A associação entre religião e crime organizado não é exclusiva do pentecostalismo. O crescimento significativo do número de evangélicos no Brasil nas últimas décadas pode ter contribuído para esse fenômeno. Dados do IBGE mostram um aumento de 61% no número de evangélicos entre 2000 e 2010, e projeções indicam que poderiam representar 40% da população em 2030.
Para Fábio Chaim, advogado especializado em Direito Criminal, essa aproximação é resultado do fracasso das políticas públicas em fornecer melhores condições de vida para a população, especialmente nas comunidades dominadas pela Tropa de Arão. No entanto, ele não enxerga um cenário de crescimento do narcopentecostalismo no futuro próximo.
“A aproximação entre a religiosidade e o tráfico de drogas é resultado do fracasso das políticas públicas no Rio de Janeiro, em especial, e no Brasil, como um todo, em fornecer melhores condições de vida para a sua população. As consequências acabam sendo experimentadas pela população das comunidades dominadas pela Tropa de Arão”, disse Chaim, também em entrevista ao Uol.
Enquanto isso, as consequências são sentidas pela população dessas comunidades, e a intolerância religiosa e os conflitos entre facções são cada vez mais evidentes. Apesar disso, o Poder Público muitas vezes só intervém quando a situação foge ao controle, deixando os moradores dessas áreas vulneráveis à violência e à influência do crime organizado.
Com informações do Diário do Centro do Mundo
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