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A mesma luta

Quem está com Lula tem a obrigação de estar com Putin

O então presidente Lula em visita a Rússia cumprimenta Putin, dois lideres de países atrasados em luta contra o imperialismo – Foto: Agência Brasil/ Ricardo Stuckert/PR

O então presidente Lula em visita a Rússia cumprimenta Putin, dois lideres de países atrasados em luta contra o imperialismo – Foto: Agência Brasil/ Ricardo Stuckert/PR

Redação do DCO

Aação militar promovida pela Rússia, de Vladimir Putin, na Ucrânia, do comediante Vladimir Zelenski, dos neonazistas e da OTAN, constitui um fato político dos mais importantes nas últimas décadas, cujo significado para a luta de classes internacional não está totalmente realizado e compreendido. Trata-se de um confronto entre um país atrasado e as pretensões do imperialismo mundial, mais precisamente entre a Rússia e o braço armado do imperialismo, a OTAN. O fato de a luta se dar em solo ucraniano, uma vez que o imperialismo interveio extraoficialmente nesse país financiando um golpe de estado em 2014 que levou ao poder um governo fantoche apoiado em milícias nazistas, não muda o caráter da luta. A ação de Putin é em verdade um farol para todas as nações oprimidas pelo imperialismo como o Brasil.

De maneira extraordinária, a Rússia, um país atrasado, colocou, com sua ação militar, todo o imperialismo mundial na defensiva. O expansionismo da OTAN para o leste europeu, às portas da Rússia, maneira pela qual o imperialismo norte-americano e europeu ganharia posições militares vantajosas para possível ataque contra a Rússia, encontrou uma barreira que não puderam contornar até o presente momento. A escalada militar colocaria todo o planeta em risco; deixaram o governo ucraniano sozinho, fornecendo apenas armas às milícias nazistas anti-russas, que não são nem de longe suficientes para enfrentar a Rússia.

O imperialismo, no entanto, acionou sua máquina de propaganda, apresentando uma versão fantasiosa do conflito, seria Putin um novo Czar em busca de expandir suas possessões. O imperialismo contou, como sempre, com o auxílio de setores da esquerda internacional para difundir seu conto da carochinha. No Brasil a esquerda pequeno-burguesa, oportunistas, alucinados e reformistas de toda espécie saíram ao ataque contra a Rússia, traduzindo a orientação do imperialismo para uma linguagem de esquerda: assim surgiu a tese esdrúxula da Rússia imperialista em uma guerra de saque e pilhagem.

Os grupos, no entanto, não conseguiram explicar nem como nem quando a Rússia, um país com uma economia atrasada, teria tornado-se um país imperialista, isto é, um país que detém para si parte significativa do mercado mundial, explorando outras nações para seu benefício. Qualquer análise minimamente séria da economia russa mostra que é um país exportador de commodities, pouco industrializado em comparação com Estados Unidos, Alemanha, Inglaterra, França etc., sua economia se parece muito mais com a do Brasil, talvez menos desenvolvida ainda.

A propaganda do imperialismo, porém, começou a soçobrar, lideranças, partidos e movimentos de esquerda internacionalmente começaram a apoiar a ação Russa, denunciar o expansionismo criminoso da OTAN e suas ações genocidas em diversas partes do mundo, bem como o governo fantoche e as milícias nazistas da Ucrânia. Não apenas a animalidade contra a Rússia que pretendiam não se desenvolveu ao grau pretendido, como uma simpatia, devida à audácia do Kremlin em enfrentar o imperialismo, foi despertada em muitos países pobres, a começar por Cuba e Venezuela e mesmo no Brasil, uma pesquisa recente mostrou que 65% apoiam a neutralidade do Brasil em relação ao conflito, mostrando que a campanha massiva anti-Rússia não gerou o grau de animosidade pretendido.

Se a tese do imperialismo russo já era uma extravagância absurda para justificar a posição de setores da esquerda de apoiar o imperialismo contra um país atrasado, existe a que ainda foi mais longe da posição oportunista: quem apoia Lula no Brasil, não pode apoiar Putin na Rússia.

O autor da ideia é o jornalista Alex Solnik, do portal Brasil 247. Segundo o jornalista, conhecido pelo seu posicionamento direitista, defensor da frente ampla e da candidatura Alckmin como vice de Lula, Bolsonaro seria apoiador de Putin e por isso a esquerda e o eleitor de Lula não podem apoiá-lo.

Essa sabedoria profunda expressa-a da seguinte maneira:

Porque é Bolsonaro quem tece loas a Putin. Não Lula. Então como pode um eleitor de Lula pensar o mesmo que Bolsonaro numa questão de tamanha importância para o mundo?

Segundo o jornalista, Bolsonaro que elogiou Putin, “pessoa poderosa”, é persona non grata na Europa, enquanto Lula, que não o elogiou após a operação militar na Ucrânia, é aplaudido no Parlamento Europeu.

Assim conclui seu argumento, digno de uma criança de 6 anos de idade ou menos:

Portanto, por coerência, quem deve apoiar Putin é o eleitor de Bolsonaro – ambos são inimigos da Europa -, não de Lula – amigo da Europa

A análise, se podemos assim classificar, ignora completamente os acontecimentos, a origem do conflito, obscurecendo completamente seu sentimento com uma tremenda falácia. Em primeiro lugar é preciso dizer que é falsa a ideia que Bolsonaro apoia a Rússia e Putin, pois o Brasil votou na ONU a resolução proposta que condena a ação russa. O Brasil simplesmente se manifestou contra as sanções econômicas criminosas, de que o jornalista se cala, contra a Rússia imposta pelos EUA e pela Europa, que afetam também o Brasil. Ademais foi a ação de Putin, que expôs uma debilidade do imperialismo, que possibilitou que um país com um governo como do Brasil, de capachos, pudesse divergir do imperialismo em algo para se defender, por senti-lo enfraquecido.

Ainda que fosse verdade, o fato de Bolsonaro adotar uma posição em política internacional não significa necessariamente que essa posição é errada e que a esquerda deve ser contra. Ser contra as sanções da Rússia é uma posição correta do Brasil, as sanções são em si mesmas um crime.

O mais curioso, no entanto, é que nosso analista inverte a posição lógica, o ex-presidente Lula naturalmente é um candidato contra o imperialismo; pois foi o próprio imperialismo em aliança com a burguesia nacional que derrubou o PT do poder e impediu que Lula, por meio de sua prisão ilegal, voltasse ao poder em 2018, levando a extrema-direita ao poder. Lula é em certo sentido o Putin no Brasil, isto é, a liderança que expressa o sentimento anti-imperialista no Brasil, assim como Putin o é na Rússia. Ambos cumprem o mesmo papel: de lideranças nacionalistas burguesas que estão em contradição com o imperialismo.

Bolsonaro é um capacho do imperialismo e sua política ─ tanto a que gostaria de implementar, como a que de fato implementou ─ mostrou isso. Bate continência para a bandeira e para funcionários americanos, entrega a base de Alcântara, privatiza a Eletrobras e os Correios. Lula, por sua vez, tem discursado cada vez mais radicalmente (embora ainda de maneira moderada) contra o imperialismo norte-americano.

Putin e Lula, portanto, são nacionalistas e mesmo anti-imperialistas. Já Bolsonaro é um entreguista. Essa é a diferença fundamental entre eles. E essa diferença é na política fundamental: a luta ou a aliança com o imperialismo. A luta de Lula é pela maior independência do Brasil e da América Latina em relação ao imperialismo. Essa é a mesma luta de Putin na Rússia e no leste europeu.

Quem apoia Putin, apoia Lula, assim como que apoia Lula tem que apoiar Putin, porque apoia a luta contra o imperialismo mundial. Essa contradição deve ser explorada pelos revolucionários e socialistas. Quanto mais enfraquecido está o imperialismo, na luta contra as burguesias nacionais dos países atrasados, mais a burguesia de conjunto e o regime burguês se enfraquecem; mais condições tem a classe operária, ante as crises e revoluções decorrentes desta disputa, de livrar a humanidade da última classe social exploradora.

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