Documento do Itamaraty revela alerta sobre possível retaliação dos EUA contra exportações do Brasil
247 – O governo de Donald Trump pode estar preparando novas barreiras comerciais contra o etanol brasileiro, em uma medida que pode ampliar a disputa entre os dois países no setor sucroalcooleiro. A informação foi revelada pela Folha de S. Paulo, que teve acesso a um documento do Itamaraty registrando um alerta feito por um executivo da Raízen à embaixada brasileira em Washington.
Segundo o documento, Paulo Macedo, diretor global de Relações Internacionais da gigante do setor, informou à diplomacia brasileira que a Casa Branca já discute possíveis restrições ao etanol nacional. “O tema [tarifas sobre etanol] já estaria em tratamento na Casa Branca, segundo informações recebidas dos consultores da empresa”, aponta o relatório oficial.Play Video
Caso se confirme, a ofensiva norte-americana representaria um novo capítulo da longa disputa comercial entre Brasil e EUA no setor. Washington há anos pressiona o Brasil para reduzir a tarifa de 18% imposta sobre o etanol americano, produzido a partir do milho. Por outro lado, o combustível brasileiro, derivado da cana-de-açúcar, entra nos EUA sem tarifas significativas. O tema tem forte impacto político, sobretudo no Meio-Oeste dos Estados Unidos, reduto eleitoral de Trump, onde estão os principais produtores do etanol norte-americano.
Aliados do ex-presidente consideram a política brasileira uma prática comercial injusta, um argumento frequentemente utilizado por Trump em suas críticas ao comércio internacional. No Brasil, fontes do governo rebatem a acusação e afirmam que o país enfrenta barreiras ainda maiores para exportar açúcar aos EUA, um antigo pleito brasileiro que nunca foi atendido. Além disso, um aumento da exposição ao etanol norte-americano afetaria diretamente produtores do Nordeste, o que adiciona uma camada de sensibilidade política ao tema.
Retaliação à vista?
Ainda não há clareza sobre quais medidas Trump poderia adotar caso retorne à Casa Branca. O governo brasileiro avalia a possibilidade de aumento de tarifas ou até de restrições indiretas ao etanol nacional. Qualquer sanção teria impacto direto nas exportações do Brasil, que em 2023 enviou US$ 181,8 milhões em etanol aos EUA, seu segundo maior mercado externo, atrás apenas da Coreia do Sul.
A preocupação aumentou após a audiência de confirmação no Senado dos EUA de Jamieson Greer, indicado para o cargo de representante de Comércio do país. Em 6 de fevereiro, durante sua sabatina, Greer classificou a relação comercial do etanol como “injusta” e indicou que o governo poderia adotar medidas agressivas para pressionar o Brasil.
“Você poderia certamente procurar os brasileiros e dizer: ‘Vocês precisam consertar isso’. Mas isso precisa vir acompanhado de um senão. Isso é um pouco duro, mas precisamos ter alavancagem. E, se for necessário ganhar alavancagem por meio de ações investigativas ou outras ações, faremos isso. Preferimos muito mais fazer isso com base em negociações, mas faremos o que for necessário para tentar resolver essa situação”, disse Greer.
Segundo fontes diplomáticas citadas pela Folha, o governo Lula acompanha a situação com atenção e avalia estratégias para mitigar os impactos de uma eventual nova rodada de sanções comerciais por parte dos EUA. A experiência recente com o aço e o alumínio – setores que foram alvo de aumento tarifário por Trump – serve de alerta. Na segunda-feira (10), o governo norte-americano anunciou um novo aumento para 25% nas tarifas sobre esses produtos, alegando o aumento da importação de aço chinês via Brasil.
Diante desse cenário, o governo brasileiro já elabora um mapeamento de setores que podem ser atingidos por novas ações protecionistas dos EUA. O objetivo é antecipar possíveis retaliações e estabelecer instrumentos de resposta para defender os interesses do país.
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