Com o cerco se fechando por causa da investigação da tentativa de golpe de Estado, Bolsonaro resolveu fazer uma demonstração de força, daqui a duas semanas, em São Paulo, chamando seus apoiadores. Quer imagens de multidão para vender, nas redes, a ideia de que o povo está a seu lado. Tática manjada, que funciona com quem já acredita nele, que busca pressionar aliados a sair em defesa do “mito”. E, quiçá, “encarecer” a cadeia.
Jair gravou um vídeo convocando os bolsonaristas radicais para um ato “em defesa do nosso Estado Democrático de Direito”. Um cinismo exemplar, uma vez ele tentou atropelar a democracia com a ajuda de militares, políticos aliados, empresários golpistas e uma horda de vândalos.
“Mais do que discurso, uma fotografia de todos vocês”, desenhou ele para não deixar margem de dúvida.
Pediu para que todos compareçam de verde e amarelo (reforçando o sequestro das cores nacionais pela extrema direita) e para que não venham com faixas criticando ninguém (pois sabe que seus fãs pediriam o linchamento do STF, o que seria cutucar Alexandre de Moraes com vara curta).
E para que a foto? “Para mostrarmos para o Brasil e para o mundo, a nossa união, as nossas preocupações”, disse no vídeo. Ou seja, para indicar que o grupo sob sua influência segue firme forte, apesar da quantidade de chorume revirada pelas investigações.
O que, ele avalia, vai pressionar deputados e senadores no Congresso Nacional para tentarem colocar um cabresto na PF, na PGR e no STF ou talvez avançando com a estapafúrdia proposta de anistia. Mas também para dar trabalho aos governadores eleitos na esteira do bolsonarismo que não estão em uma cruzada pelo ex-presidente após a operação da Polícia Federal.
A última vez que ele conclamou os seguidores para gerar uma grande foto como essa foi no 7 de setembro de 2022, durante as comemorações do Bicentenário da Independência em Brasília e no Rio – sequestradas pelo bolsonarismo para sua campanha à reeleição.
Os comícios que preparou para a data tinham, entre outros objetivos, produzir imagens para “provar” que o povo estava a seu lado. Ele parte de um fato concreto (Bolsonaro é realmente uma pessoa muito popular capaz de atrair muita gente) para vender uma extrapolação falsa (essas multidões demonstram que a maioria dos brasileiros concorda com ele).
Mesmo se ele enchesse a Esplanada dos Ministérios e a avenida Atlântica, onde foram as duas micaretas eleitoreiras no 7 de setembro, não poderia dizer que a maioria do povo brasileiro está com ele, mas sim que ele é capaz de mobilizar uma penca de seguidores. De acordo com institutos de pesquisa, o bolsonarismo-raiz gira em torno de 15% a 20% da população, o que, repito, não é pouca gente.
Fotos e vídeos produzidos daqui a duas semanas irão circular pelos grupos de WhatsApp e de Telegram e pelas redes sociais, transmitindo a ideia (falsa) de que o país inteiro está com ele. E, consequentemente, que apoia sua versão estapafúrdia de que está sendo perseguido. Ao final, Bolsonaro falará aos seus, que não representam a maioria.
Alheia a essas movimentações, está a grande massa de trabalhadores, mais preocupada em tentar garantir a própria sobrevivência do que acompanhar esse tipo de micareta. Tanto que, como já disse aqui várias vezes, golpista e genocida colaram muito menos em Jair do que a pecha de Bolsocaro, Rei do Desemprego ou Pai da Fome.
Mas ele vai usar as imagens para encarecer o custo de sua condenação e prisão, talvez vendendo a ideia de que haverá uma guerra civil se for preso. Não vai, principalmente se a economia estiver melhor no momento da pronúncia da sentença em comparação ao final do seu mandato. Conta, contudo, que a visão transmitida no Bolsoverso, o universo paralelo de seus seguidores, será forte o suficiente para gerar no restante consciente da sociedade a percepção de risco.
Com informações do Diário do Centro do Mundo
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