Oito dias “fora do ar”, olhando de longe as notícias, escapei de comentar as presepadas da semana do – vá lá o exercício de boa-vontade – governo Jair Bolsonaro.
A nítida impressão que se tem é a de que dois núcleos se esforçam para manter o presidente “dentro da casinha” e fazê-lo (e aos filhos e siderados que acompanham a família) se convencerem que podem tudo, menos arranjar problemas para o processo de liquidação da soberania nacional e dos direitos sociais.
Refiro-me aos militares e ao “ultramercadismo” representado por Paulo Guedes, ambos diuturnamente empenhados em demonstrar que Jair Bolsonaro deve se contentar com seus delírios policialescos e morais e deixar por conta deles o “governo de verdade”, o que mexe com dinheiro e com o papel do Estado na vida nacional.
Fingem que não ligam para Jesus na goiabeira ou “anauê Jaci” ministeriais e papagaiadas como a liberação da posse de armas e focam no essencial: o aniquilamento da previdência pública e da remanescente presença estatal na áreas essenciais de economia, bem como no extermínio dos direitos trabalhistas, “herança maldita” do varguismo que, desde 1945, se opõem.
Nem mesmo ligam ao constrangimento de desmentir publicamente o chefe nas “maneiradas” que deu sobre a reforma previdenciária, sobre a qual o “mercado” já saliva de gosto pela privatização, via modelo de capitalização, dos recursos da aposentadoria. Que, claro, não tocarão nos privilégios – alguns legítimos, outros não – que a corporação castrense desfruta.
Sob este aspecto, já é possível notar a preocupação em fazer o Presidente “já ir se acostumando” à ideia de que é apenas um instrumento conveniente para seus projetos e que precisa ser comedido para não acentuar o descrédito público que seus exageros e trapalhadas já provocaram em parcelas da classe média.
É a estes núcleos que vão se juntar dois personagens importantes: Dias Tóffoli, no Supremo Tribunal Federal, e o general Villas-Boas, que não teve pudor em aceitar, no estado de debilidade física em que se encontra, um cargo de “aspone” no gabinete militar do Planalto. Ambos sinalizam que haverá, por enquanto, um monolitismo de Judiciário e Forças Armadas na defesa do desmonte do Estado brasileiro.
Circunstancialmente, tudo está a favor deles, embora esteja nítido que a direita brasileira não tem mais o rafinessment intelectual dos que ela cooptou antes, desde Carlos Lacerda a Fernando Henrique Cardoso. Toscos e brutais, mesmo no quadro de mediocridade que hoje nos assola, terão dificuldade em construir um discurso que os justifique.
Bolsonaro pode dar um ótimo bobo da Corte, mas há o risco de achar que é rei.
PS. Agradeço coletivamente às manifestações de apreço e de solidariedade que os leitores deixaram aqui e na página do Tijolaço no Facebook. Mas estes oito últimos dias ainda não foram os últimos em que terei de me ausentar por motivos de saúde. Quantos serão, não sei e, mesmo de volta, tenho de “maneirar” no ritmo das postagens.
POR FERNANDO BRITO
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