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Nos últimos dias, falou-se muito, em tom indignado, na alta nos preços do arroz, um dos ingredientes mais tradicionais da dieta básica do brasileiro.

Houve quem acusasse a volta da inflação, apesar do alerta dos economistas, de que não é isso que vem acontecendo. A alta no arroz, explicam, é um movimento natural, de um produto específico, um produto importante por óbvio, mas ainda assim, apenas um produto na enorme lista de produtos e serviços que são usados para se calcular a inflação no país.

Agora, é certo que o brasileiro mais pobre é sempre mais afetado quando há um aumento de preços em produtos alimentícios, porque a maior parte de sua renda é comprometida com alimentos, e sobretudo quando se trata de um produto que tem sido uma das principais fontes de carboidrato na dieta tradicional dos brasileiros, o arroz.

Agora, é certo que o brasileiro mais pobre é sempre mais afetado quando há um aumento de preços em produtos alimentícios, porque a maior parte de sua renda é comprometida com alimentos, e sobretudo quando se trata de um produto que tem sido uma das principais fontes de carboidrato na dieta tradicional dos brasileiros, o arroz.

A cotação internacional do arroz é tradicionalmente medida pelos preços de exportação do arroz tailandês, conforme apurado na bolsa de Bangok, capital do país.

O gráfico dos últimos 5 anos mostra que a cotação do arroz atingiu o maior patamar desse período, atingindo o pico de 564 dólares por tonelada em abril desse ano. A explicação para essa alta, segundo uma análise divulgada no site da Conab (órgão federal responsável pela política agrícola), seria a “retração da produção tailandesa, reflexo da intensa seca na safra de inverno”.

A produção de arroz nos EUA também caiu significativamente, de 7 milhões de toneladas em 2019 para 5,8 milhões este ano.

Os preços internacionais mais altos estimularam os produtores brasileiros a venderem mais arroz ao exterior.

E foi exatamente isso o que aconteceu. As exportações brasileiras de arroz ultrapassaram todos os seus recordes históricos, e atingiram mais de 1 milhão de toneladas no acumulado dos oito meses deste ano (jan/ago), alta de 73% sobre igual período do ano passado.

A alta mais expressiva se deu para o “arroz com casca ou bruto”, que é vendido com menor valor agregado no mercado. Enquanto o arroz sem casca foi exportado este ano a US$ 416 a tonelada, com alta de 15% sobre o preço praticado no ano anterior, o arroz bruto foi vendido a US$ 267 a tonelada, queda de 2% sobre o ano anterior.

Enquanto as exportações de arroz semi-elaborado cresceram 38% em jan/ago, a alta das vendas de arroz bruto foi de quase 170%. Em jan/ago, o Brasil exportou 487 mil toneladas de arroz bruto, e 666 mil toneladas de arroz semi-elaborado.

O arroz foi também o produto com registrou o maior aumento de suas exportações este ano, na comparação com o ano anterior, e considerando os 70 principais produtos exportados pelo Brasil.

O gráfico abaixo, com a relação entre a produção e o consumo mundial explica com muita clareza porque as cotações internacionais do arroz subiram nos últimos meses. A produção mundial caiu em 2019/20, e o consumo subiu.

Ainda segundo a Conab, os estoques finais de arroz no Brasil, ao final do ano-safra 2019/20, serão os menores da série histórica: 441,7 mil toneladas. Para efeito de comparação, ao final do ano-safra 2010/11, esses estoques estavam em 2,56 milhões de toneladas.

Em 1988, o Brasil já chegou a ter 5,2 milhões de toneladas de arroz estocadas nos armazéns do governo federal. Esse número em seguida baixou para 300 mil em 1998, subiu novamente para 2 milhões de tonelads em 2001, voltou a cair para 3 mil tonelads em 2004; em seguida, ele se recompõe e chega a 1,5 milhão em 2012; volta a cair para 124 mil toneladas em agosto de 2015, e daí em diante vai declinando, até chegar a apenas 21 mil toneladas em agosto de 2010.

Essa queda nos estoques totais foi produzida, em boa parte, pela mudança na política de manutenção de estoques públicos reguladores, sob  responsabilidade da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) desde sua criação, em 1990.

Queda nos estoques, e aumento do consumo mundial, alta da cotação internacional, todos esses fatores contribuíram para a alta no preço da saca de 50 kg de arroz, que passou de menos de R$ 50 em janeiro, para quase R$ 110 na segunda semana de setembro.

Na figura abaixo, vemos os principais compradores do arroz sem casca e com casca.

O principal destaque é a Venezuela, que comprou 13% de nosso arroz sem casca, e 37% do arroz com casca!

Mais de 90% do arroz exportado pelo Brasil vem do Rio Grande do Sul.

Os últimos números da Conab apontam uma safra de 11,18 milhões de toneladas de arroz em 2019/20 (safra atual), alta de 7% sobre o ano anterior. A produtividade este ano deve crescer 9% (porque a área plantada deverá cair 2%).

A maior parte da produção está no Rio Grande do Sul, responsável por 70% da produção nacional em 2020; em segundo lugar vem Santa Cataria, com 10% da produção brasileira de arroz.

Alguns estados com produção mais modesta vem registrando, este ano, um aumento impressionante de produção, como Maranhão e Piauí, cuja produção este ano deverá crescer 18% e 29%, respectivamente.

Miguel do Rosário é jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje.

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