Jornal tem procurado ouvir juristas dispostos a atenuar os crimes contra a democracia cometidos por Jair Bolsonaro
Peço licença ao telespectador Gilberto Cruvinel, que, nesta manhã, durante o Bom Dia 247, noticiário matinal da TV 247, enviou um superchat (comentário pago) quando eu e os jornalistas Breno Altman e Tereza Cruvinel falávamos sobre a postura do jornal Folha de S. Paulo, que começou a criar uma linha de defesa para Jair Bolsonaro, que está prestes a ser denunciado pela procuradoria-geral da República por atentado ao estado democrático de direito e associação criminosa. No seu comentário, Gilberto afirmou que, depois de criar o termo “ditabranda”, usado num editorial de 2009 para minimizar os danos causados pela ditadura militar brasileira, a Folha estaria elaborando agora o “Bolsobrando”.
Nada mais preciso. Um dia depois da operação Hora da Verdade, que explicitou os crimes contra a democracia e o estado de direito cometidos por Jair Bolsonaro e seu séquito de liberticidas, o jornal apresentou ao público o editorial Folha pede cautela com eventual prisão de Bolsonaro e propõe que Moraes deixe o comando do inquérito. Ontem, num novo movimento, o jornal começou a ouvir juristas que colocam em dúvida os crimes bolsonaristas no texto Definição criminal de articulação golpista de Bolsonaro é controversa. Na prática, a Folha começou a atuar como assistente de defesa de Bolsonaro, questionando se as reuniões sobre um decreto de estado de sítio para melar o resultado eleitoral já eram execução de crime ou apenas atos preparatórios para um crime que não ocorreu – o que não seria passível de punição criminal.
É uma tese tão bizarra, que foi devidamente ironizada pelo constitucionalista Lênio Streck, no post abaixo:
O que merece uma reflexão, neste momento, é sobre os motivos que levam a Folha a construir uma argumentação jurídica para a tese do ‘bolsobrando’. Ao que tudo indica, o movimento está relacionado com a incapacidade da direita neoliberal, campo político que a Folha representa, de voltar a se colocar com força eleitoral no cenário político brasileiro, depois da morte do PSDB. Como Bolsonaro deixou claro que gostaria de se candidatar em 2026 e não pretende transferir seu capital político a ninguém, as forças neoliberais não teriam opção a não ser recorrer novamente à alternativa abertamente fascista. Por isso mesmo, a tese do ‘bolsobrando’ viria a calhar, abrindo espaço para alguma decisão judicial futura que restitua a Bolsonaro seus direitos políticos. Sem ele, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva caminhará para uma reeleição líquida e certa, que, provavelmente, será decidida no primeiro turno.
No segundo ano do governo Lula 3, a direita se vê presa ao mesmo impasse. Na prática, ela não sabe como eliminar Bolsonaro do jogo e transferir seus votos a algum nome mais palatável e apresentável ao público, como uma alternativa viável ao PT. Enquanto isso, Lula segue reconstruindo a economia brasileira, gerando empregos, fortalecendo programas sociais e melhorando as condições de vida da população brasileira. É neste contexto que a Folha tenta construir sua nova versão da ‘ditabranda’. Ele mesmo, o ‘bolsobrando’.
Com informações do Brasil 247
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