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Quem levantou essa bola, muitos anos atrás, foi o Doutor Sócrates Brasileiro, em uma conversa sobre as “riquezas injustas”, após minha referência ao poeta nicaraguense Ernesto Cardenal.

Segundo o Magrão, era muito fácil para o indivíduo sentir-se bem, ou seja, confortável, sem preocupações, desfrutando dos prazeres da vida. E muitos atletas, com salários milionários, viviam essa sensação.

Creio que Sócrates foi um cara que, lentamente, migrou do hedonismo para o epicurismo. Da fruição toda e intensa para aquela responsável e moderada, que atingiu no fim da vida.

Nessa conversa, ele filosofou, em homenagem àquele que lhe emprestou o nome. Disse que o mais difícil e o mais importante era sentir-se bom ou sentir-se boa.

Trata-se de uma experiência complexa. Equivale a considerar-se parte útil, contributiva e amorosa do todo, servindo como elo harmônico entre pessoas, bichos e plantas. Por meio dessa doação plena, alguns seres humanos atingiram um estado de ataraxia, como Clara e Francisco.

O sentir-se bem geralmente é efêmero. O sentir-se bom, ao contrário, costuma ser um estado de longa duração, sem orgulho, egolatria ou ostentação. Demora-se a atingi-lo, mas quando vem a sabedoria, o sentir-se bom parece destinado à perpetuidade. Em muitas situações, confunde-se com o “sentimento oceânico” estabelecido por Freud.

Há uma fisionomia especial naqueles que se sentem bons, mesmo quando não se sentem bem. Era o jeito de Nelson Mandela, de Maya Angelou, de Nise da Silveira, de Martin Luther King, Jr., de Dorothy Stang, de Luciano Mendes de Almeida, de Suely Kanayama, de Chico Mendes, de Eduardo Galeano, de Angela Davis e do próprio Sócrates.

Ontem, eu olhava para o velho metalúrgico e procurava construir uma cartografia multireferencial de seus sentimentos, processando olhares, feições, gestos e voz. Aí, primeiramente, determinei que ele se sente bem, de volta à família, acarinhado por Janja e amado por muitos brasileiros de todas as classes sociais.

E aí, depois, na exploração minuciosa dos sinais, decodifiquei a segunda mensagem. Ele se sente bom também. São 76 anos que indicariam uma vida sossegada na aposentadoria. Mas, não… Seu sentir-se bem casa-se com o sentir-se bom. É quando ele mergulha no prazer da alteridade, do servir ao próximo.

Assim são as pessoas que mudam o mundo, para o bem e para o bom. Que saibamos honrar a disposição desses seres felizes que buscam a felicidade também para nós.

Via Paulo César Da Silva

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