Os assassinatos brutais de Marcelo Duarte, Dom Phillips e Bruno Pereira são resultado do comportamento reprovável e violento de Jair Bolsonaro, que dá o seu aval para os crimes de ódio no país inteiro, incentiva e autoriza o ataque de garimpeiros e grileiros e feminicídio. Fotos: Reprodução de redes sociais
Ontem, sábado, 9 de julho de 2022, Marcelo Duarte comemorava seu aniversário de 50 anos em Foz do Iguaçu (PR).
O tema era Lula, a esperança de volta ao Brasil com as eleições; balões vermelhos enfeitavam o salão.
Marcelo era guarda municipal, líder do PT na cidade e tinha quatro filhos, sendo um deles uma neném de um mês.
Todos estavam felizes. Do lado de fora do clube onde acontecia a festa, um homem desconhecido vociferava que “aqui é Bolsonaro, seus fdp”. Ele era o policial penal federal Jorge Jose da Rocha Guaranho. Marcelo foi lá fora ver o que estava acontecendo.
O desconhecido, que estava no carro com uma mulher, foi embora, mas disse que voltaria. Assim o fez.
Ele buscou uma arma, voltou e deu dois tiros em Marcelo. O aniversariante, que era guarda municipal, tinha buscado sua arma no carro, já temendo as ameaças.
Quando foi alvejado, Marcelo ainda conseguiu dar cinco tiros em Jorge, impedindo o bolsonarista de atirar em mais pessoas.
Marcelo morreu na hora.
Hoje, vejo jornais e sites repercutindo e falando em “briga política”, discussão entre os dois, que eram “rivais”. Assassinato não é briga política – e crime de ódio não é briga de rivais.
Também ontem, eu estava em um bar com minha mãe, nos incomodamos com a fumaça do cigarro que vinha da mesa ao lado – nada dissemos, colocamos a máscara –, mas o homem da mesa começou a vociferar que ia jogar o cigarro fora e que os petistas são todos vagabundos e não gostam de trabalhar. Nos mudamos de mesa.
Há um mês, o indigenista Bruno Pereira e o jornalista Dom Phillips foram barbaramente assassinados na Amazônia.
Infelizmente, exemplos como esses se espalham e vão aumentar até outubro, porque o presidente da República e seus apoiadores incentivam esse tipo de comportamento.
Jair Bolsonaro, com seu comportamento absolutamente reprovável e violento dá o aval para os crimes de ódio no país inteiro, incentiva e autoriza o ataque de garimpeiros e grileiros, o feminicídio.
O bolsonarismo, infelizmente, fraturou ainda mais a sociedade brasileira e vai permanecer quando nos livrarmos de Bolsonaro.
E exatamente por essa fratura é que a imprensa brasileira não pode, em suas manchetes e chamadas, fingir que tudo equivale a “briga política”, “polarização”. Não é.
O Brasil não será o mesmo depois de Jair Bolsonaro. Isso, me parece, já é bastante claro e visível por boa parte da sociedade brasileira.
No poder, o presidente vindo do baixo clero agenciou uma série de comportamentos e pensamentos que se mantinham à margem do debate social e político – eram aqueles modos que as pessoas tinham vergonha de deixar às claras, temiam punição.
Mas isso mudou, e mudou muito, como revelou a pesquisa “A cara da Democracia”, realizada pelo INCT e coordenada pelo cientista político Leonardo Avritzer.
A pesquisa mostrou que expressiva parcela da população brasileira não tem mais vergonha em se autodeclarar de extrema-direita, aumentou a parcela dos que são favoráveis à pena de morte e caiu a parcela dos que são favoráveis à proibição de armas de fogo; além disso, a maioria apoia militarização das escolas públicas.
Apenas para citar alguns dados. E como já percebemos, a escalada de violência e a propagação do discurso de ódio estão a pleno vapor.
E aqui chego ao ponto do título deste artigo: o jornalismo terá um papel preponderante para rechaçar essa pauta violenta, um papel essencial na exposição desse modus operandi do bolsonarismo.
Caberá à imprensa brasileira, mais do nunca, deixar escancarado para a sociedade o grau bélico e violento do presidente da República e dos seus apoiadores.
E para isso, é preciso deixar a hipocrisia da falsa equivalência de lado. É preciso que a imprensa se posicione de verdade.
Não estamos vivendo uma disputa política, estamos vivendo uma luta entre civilização e barbárie.
Não é simples disputa política – é crime de ódio, é violência escancarada, é intolerância absoluta.
Vão legitimar que bolsonaristas ensandecidos saiam por aí matando quem se atrever a usar vermelho e a fazer festa com o tema “Lula2022”?
Desde 2015/2016, com a movimentação pelo golpe, a imprensa legitimou a perseguição às pessoas de esquerda, especialmente os petistas.
Por muito tempo, não se podia usar vermelho impunemente. Isso vai voltar? Será tolerado de novo?
A imprensa precisa dar nomes aos bois: falar em assassinato, perseguição, crime de ódio contra petistas, denunciar a máquina de ódio, escancarar o incentivo à violência, gritar contra o assédio, colocar o feminicídio nas manchetes – é disso que se trata.
De novo: assassinato não é simples briga política. Não é possível reduzir os fatos à mera ideia de polarização.
Não há polarização, o que existe é um grupo extremamente violento que se sente autorizado a fazer o que bem entende. Pessoas como Jorge, que se sentiu autorizado a invadir uma festa de aniversário e matar o aniversariante petista.
A imprensa precisa parar de tratar os dois campos como “polarizados” – não há polarização, há incentivo puro e simples à violência bruta por parte do governo Bolsonaro.
Sobretudo, a imprensa precisa sepultar de vez essa construção perniciosa de uma “equivalência” entre Jair e Lula.
Essa falsa equivalência entre os dois, como se fizessem parte de espectros opostos no mesmo campo democrático, não pode estar nos jornais, nas TVs, nos rádios.
Os dois não se equivalem, fim!
Bolsonaro é representante do que existe de mais retrógrado e violento na sociedade. Lula é um democrata.
E a imprensa não pode compactuar com essa fraude informativa (tomo aqui a expressão usada pela querida Cristina Serra) de que os dois estão “polarizando” o campo político.
A democracia brasileira sairá muito machucada do episódio bolsonarista. Cabe à imprensa deixar de ser conivente e assumir seu papel para ajudar a reconstruí-la.
*Eliara Santana é jornalista, doutora em Linguística e Língua Portuguesa e pesquisadora do Observatório das Eleições e da Democracia e pesquisadora colaboradora do IEL/Unicamp. Coordenou o curso “Desinformação, Letramento Midiático e Democracia no Brasil”, promovido pela Associação Brasileira de Imprensa (ABI), e foi co-coordenadora do I Ciclo de Letramento Midiático do PPGL da Universidade Federal do Rio Grande
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