Depois da explosão do dólar e da queda da bolsa na semana passada, esta segunda-feira (11) começou com mais notícias ruins. A inadimplência subiu, o número de pedidos de recuperação judicial voltou a aumentar e o mercado financeiro reduziu mais uma vez a previsão de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB). No centro da questão econômica, está a política.
A popular greve dos caminhoneiros escancarou o descontrole do governo, e fica a cada dia mais clara a dificuldade eleitoral dos que defendem a manutenção da atual política econômica. Num ano que já era de incertezas e, portanto, de pouco entusiasmo para investimentos, a ampliação da insegurança adia ainda mais as decisões dos empresários. E tem provocado um ataque especulativo nos mercados de câmbio e juros, que pode acabar afetando a economia real. Nesse sentido, as perspectivas para 2018 não são nada boas. A avaliação é do doutor em economia pela USP, Emilio Chernavsky.
De acordo com o Boletim Focus, pesquisa realizada pelo Banco Central (BC) junto a agentes do mercado financeiro, a projeção para a expansão do PIB caiu pela sexta vez. Passou de 2,18% para 1,94%. A estimativa de inflação também subiu de 3,65% para 3,82% este ano.
O Serviço de Proteção ao Crédito (SPC) divulgou nesta segunda que o número de consumidores inadimplentes atingiu 63,29 milhões em maio, um crescimento de 2,78% em relação ao mesmo período do ano passado.
E os pedidos de recuperação judicial, que tinham recuado em 2017, também registraram alta. Entre janeiro e abril, houve um incremento de 30%, quando se compara com igual período do ano passado.
Otimismo era descabido
Os indicadores ruins estão todos interligados, aponta Chernavsky. Ele destaca que, no fim do ano passado, havia uma expectativa de melhora da economia em 2018. Isso levou algumas empresas – especialmente as pequenas – a fazerem alguns investimentos, acreditando numa suposta retomada este ano. Como as expectativas foram frustradas, agora, estas empresas estão com dificuldades de pagar suas dívidas.
O mesmo estaria ocorrendo com as famílias “Elas aumentaram um pouco as compras a crediário e também estão em dificuldades de pagar. São movimentos casados”, o economista analisa.
Para ele, o otimismo que havia em relação à economia este ano, não se justificava. “Na minha opinião, as expectativas otimistas em relação a 2018 sempre estiveram superestimadas. Não havia muita base real, porque esse fatalmente seria ano de incerteza aguda. E, com tanta incerteza, era difícil ter qualquer retomada de investimentos, que poderia sustentar o crescimento”, completou.
Governo frágil
Chernavsky destaca o fato de que as projeções em relação ao desempenho da economia em 2018 vêm caindo já há algum tempo. Em maio, o IBC-Br, índice de atividade econômica divulgado pelo Banco Central mensalmente, já mostrava uma queda de 0,13% na economia, em comparação com os três últimos meses de 2017.
Ou seja, a economia já dava sinais de debilidade, antes mesmo do movimento dos caminhoneiros, que explicitou outros problemas.
“A greve dos caminhoneiros e, especialmente o apoio que ela teve, mostrou uma situação de descontentamento popular e também que o governo tem pouco controle sobre algumas variáveis importantes e pode voltar a ser desestabilizado”, disse o economista.
Segundo ele, a resistência da população ao projeto em curso também amplia a insegurança dos agentes econômicos no que diz respeito às eleições. “A viabilidade de candidatos que se dispõem a seguir a política econômica atual não está garantida, ao contrário”.
Setor produtivo em compasso de espera
Apesar de achar que os investimentos já seriam poucos este ano de qualquer forma, o economista afirmou que mesmo aqueles projetos que estavam previstos têm grandes chances de serem adiados, diante das incertezas políticas.
“Este ano, de toda forma, seria difícil. Mas, em certos setores, alguns inclusive que eram objeto de planos de privatização, se fossem levar os projetos adiante, algum dinheiro poderia ser investido ainda esse ano. Mas acho que não vão conseguir levar adiante. Diante da insegurança quanto à possibilidade de descontinuidade da política econômica, os investidores preferem aguardar”, colocou.
Ataque especulativo atrapalha
Diante dessa mesma insegurança, a reação do mercado financeiro também não deve ajudar. “O ataque especulativo no mercado financeiro a juros e câmbio deve reduzir a renda disponível na população esse ano, o que deve conter o crescimento do consumo e dificultar ainda mais o crescimento da atividade”, prevê.
Isso porque o dólar em patamar muito elevado como o atual tem impacto sobre a inflação. O Banco Central, por sua vez, pode ser pressionado a alterar a política de queda da taxa básica de juros, para conter o ataque especulativo. O resultado de tudo isso é a redução da renda disponível, que significa menos consumo e, por conseguinte, menos estímulos à economia.
A expectativa de investidores e economistas dos grandes bancos era de que o quadro otimista que projetavam para a economia este ano pudesse ser sentido pela população, o que a levaria a apoiar um candidato de continuidade nas eleições.
Isso não tem acontecido. Com 82% de reprovação, Temer já é o presidente mais impopular da história. E 72% da população acham que a economia piorou em seu governo.
Programa não entrega o que promete
Chernavsky ressalta a volatilidade dos mercados internacionais neste 2018. “Nos Estados Unidos e na Europa, existe a possibilidade de redução de estímulos monetários, que significa aumentar os juros, e gera tensão e volatilidade. Isso não ajuda o Brasil. Mas o principal são as dificuldades que o governo atual tem de estimular a economia e de este programa econômico ter perspectiva de continuidade.”, indicou.
Para ele, as perspectivas são, portanto, ruins. Inclusive pelo caráter das medidas em curso. “Este programa não tem condições de entregar o que promete, mesmo se fosse ser renovado. E, nesse cenário incerto como está, dificilmente o país chegará a um crescimento de 2% do PIB este ano, que já é menos do que se esperava”.
Segundo ele, a própria greve dos caminhoneiros provocou um impacto momentâneo sobre a economia. “Mas o maior impacto é sobre as expectativas. Tanto dos que investiriam, como do setor financeiro, o que gera instabilidade”, resumiu.
Por Joana Rozowykwiat