Julian Assange, preso hoje, é alvo de lawfare semelhante ao que sufoca Lula. Por Joaquim de Carvalho
O fundador do WikiLeaks, Julian Assange, foi preso nesta quinta-feira pela pela polícia inglesa. Agentes do Serviço de Policia Metropolitana entraram na Embaixada do Equador, em Londres, onde estava refugiado desde 2012.
A prisão foi autorizada pelo embaixador equatoriano, segundo a agência Reuters.
O Equador, que tem um processo de lawfare semelhante ao do Brasil e fez do ex-presidente Rafael Correia um alvo tanto quanto Lula, suspendeu o asilo que concedia a Assange.
Rafael Correia, casado com uma belga, vive em Bruxelas.
O WikiLeaks constrangeu o governo americano quando publicou milhares de telegramas diplomáticos secretos do país — que revelavam, muitas vezes, críticas sobre líderes mundiais, como o presidente russo, Vladimir Putin, e membros da família real saudita.
Também havia mensagens que citavam autoridades brasileiras, como o senador José Serra, na época candidato a presidente. Ele é citado em um telegrama diplomático, em que é informado que teria prometido à diretora da petroleira Chevron que mudaria a lei de partilha do pré-sal.
“Deixa esses caras [do PT] fazerem o que eles quiserem. As rodadas de licitações não vão acontecer, e aí nós vamos mostrar a todos que o modelo antigo funcionava… E nós mudaremos de volta”, disse Serra a Patricia Pradal, diretora de Desenvolvimento de Negócios e Relações com o Governo da petroleira norte-americana Chevron, segundo relato do telegrama.
Assange entrou nas manchetes no início de 2010, quando o WikiLeaks publicou um vídeo militar dos EUA mostrando um ataque de helicópteros Apache em 2007, que matou 12 pessoas em Bagdá, incluindo duas equipes de notícias da Reuters.
Nunca recuou.
Ele acabou acusado por um crime sexual na Suécia, que pediu à Inglaterra sua extradição. Assange seria mandado para Estocolmo, mas, antes de ser preso, se refugiou na Embaixada do Equador, país do qual obteve asilo.
Na época, Equador era presidido por Rafael Correia.
O advogado de Assange é o mesmo que defende Lula na ONU, o britânico Geoffrey Robertson.
As mesmas forças que se movimentaram para sufocar Lula colocam agora as mãos em Assange.
As acusações contra o fundador do Wikileaks na Suécia são frágeis, e o crime do qual foi acusado prescreveu no ano passado.
Ele seria, no entanto, alvo de pedidos de prisão de outros países.
A defesa do fundador do Wikileaks teme que ele acabe extraditado para os Estados Unidos, onde poderia ser acusado de crime contra a segurança nacional e poderia até ser condenado à prisão perpétua ou à pena de morte.
A Inglaterra tem a oportunidade de demonstrar sua independência.
O Equador provou que não tem.
Permitiu que sua embaixada fosse violada por forças estrangeiras.
Qualquer semelhança com o Brasil sob Bolsonaro certamente não é mera coincidência.
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