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Bolsonaismo sionista é cúmplice da matança das crianças palestinas pelas forças militares de Israel em Gaza. Fotos: Reprodução de redes sociais

Por que a maioria dos evangélicos apoia o bolsonarismo sionista?

As últimas sondagens produzidas pela enquestadora Quaest a pedido da rede Globo voltaram a evidenciar uma situação já detectada nas anteriores: o grupo social mais afinado com o bolsonarismo em oposição ao governo de Lula está composto de pessoas vinculadas a igrejas evangélicas neopentecostais adeptas do chamado sionismo cristão.

Este último é um movimento político de extrema direita surgido nos Estados Unidos que representa na prática os interesses mais reacionários do imperialismo estadunidense e do colonialista Estado de Israel.

Como sabemos, o sionismo cristão não tem absolutamente nada a ver com a simbologia representada pela figura de Jesus. A não ser pelo uso canalhesco de seu nome para atrair incautos para suas igrejas-empresa, Jesus passa muito longe dessas instituições.

Após as duras palavras de Lula em condenação dos crimes de genocídio praticados contra o povo palestino pelo sionista Estado de Israel, nossa mídia corporativa, inteiramente associada ao imperialismo estadunidense e ao colonialismo israelense, decidiu pôr em movimento um plano para desgastar a imagem de Lula.

A sondagem encomendada pela Globo parece ter tudo a ver com esta pretensão. Afora o fato de que a coleta dos dados tenha sido efetuada no dia da manifestação unificada do bolsonarismo e nos dois dias seguintes à mesma, as perguntas foram formuladas do jeito que a Globo gosta.

Porém, a despeito dessas manipulações, os resultados revelam algumas preocupações reais que precisam ser consideradas por parte do campo popular.

Assim, a enquete constatou um forte desgaste do governo Lula em relação a sondagens anteriores.

A principal explicação para tal fenômeno se deveria à imensa insatisfação das comunidades evangélicas com as críticas de Lula ao Estado de Israel.

É que os teóricos, ou melhor, marqueteiros, do sionismo cristão trouxeram para o Brasil as teorias criadas nos Estados Unidos que dizem que defender o Estado de Israel em quaisquer circunstâncias é um dever de todo cristão.

E os que estão empenhados na campanha para desgastar a imagem de Lula querem fazer valer a ideia de que seu grande erro teria sido traçar um paralelo entre os crimes do Estado de Israel contra as crianças palestinas e os crimes do nazismo contra os judeus na Europa.

Como é sabido, os sionistas israelenses, os sionistas brasileiros e toda a mídia capitalista de nosso país não admitem de modo algum que se faça qualquer comparação dos crimes que os sionistas israelenses estão praticando contra o povo palestino com aqueles que o nazismo hitlerista cometeu contra vários outros grupos humanos, incluindo milhões de judeus europeus.

Em outras palavras, por mais que os sionistas israelenses matem como os nazistas alemães matavam, por mais que os sionistas israelenses submetam milhões de pessoas à fome e à privação das mais mínimas condições de vida, exatamente como os nazistas de Hitler submetiam, é estritamente proibido fazer qualquer menção a esta escancarada coincidência.

Em vista de que, na atualidade, são os evangélicos que formam o mais numeroso componente da base de sustentação do bolsonarismo-sionismo em nosso país, muitos dos lutadores do campo popular andam em busca de formas que possam afastar pelo menos uma parcela significativa de seus integrantes da influência nefasta dessa ideologia de extrema direita que atua para garantir os interesses do grande capital e do imperialismo.



Quais seriam as concessões passíveis de serem aceitas?

O que teria necessariamente que ser rejeitado?

Vamos tentar produzir alguma argumentação em relação a isto.

Primeiramente, gostaria de recordar a nossos leitores o que foi feito pela centro-esquerda social-democrata na Europa nas últimas décadas do século passado para reverter um estado de derrotas constantes para as forças direitistas.

Ali, partidos como British Labour Party (Partido Trabalhista Britânico) e o SPD (Partido Social-democrata Alemão) e outros decidiram fazer estudos aprofundados sobre as aspirações dos eleitores de seus países para, a partir dos dados coletados, poder oferecer aos votantes aquilo que eles esperavam receber.

O resultado dessa atitude foi o retorno ao poder de várias dessas agremiações e, como consequência, os partidos social-democratas europeus são atualmente, em muitas ocasiões, até mais reacionários do que os tradicionais partidos de direita. Reino Unido e Alemanha são bons exemplos disto.

O que eu quis deixar evidente no parágrafo anterior é que a atitude de sondar o eleitorado para descobrir o que vai pela sua cabeça e, então, oferecer-lhe aquilo que vai ao encontro disto não passa de um comportamento de gritante oportunismo, algo indigno de um partido que tenha por meta alterar as bases de injustiças do sistema político em questão.

Há um excelente documentário sobre este tema produzido pelo jornalista inglês Adam Curtis, da BBC. Estou me referindo a The Century of Self, disponível no Youtube, também com legendas em português (O Século do Ego).

Aqui em nosso país, o debate se dá quanto a que fazer para ganhar o voto de, pelo menos, uma parcela significativa dos evangélicos e, com isto, impedir que as forças de extrema direita, em especial o bolsonarismo, continuem sendo as escolhas preferenciais dos eleitores vinculados a esta ramificação do cristianismo.

Muitos atribuem a origem deste crescimento da base de sustentação da extrema direita ao surgimento das redes digitais de comunicação, já que eles teriam aprendido a dominar com muito mais habilidade ferramentas do tipo Whatsapp, Facebook, Instagram, Twitter, Youtube, etc.

Porém, precisamos ter consciência de que jamais teríamos condições de competir em pé de igualdade com a extrema direita neste quesito.

Todas as grandes plataformas que sustentam essas redes são de propriedade de bilionários que, evidentemente, não costumam ser defensores das propostas populares. Por isso, nós jamais teremos acesso aos algoritmos estratégicos de maneira equivalente ao que ocorre com os extremistas de direita, os mais ferrenhos apoiadores do neoliberalismo e dos interesses do grande capital.

Por outro lado, o fato de estar amplamente inferiorizado na posse e domínio dos meios de comunicação não é nenhuma novidade para a esquerda brasileira.

Por muito tempo, antes de que as redes digitais viessem à tona, estivemos inteiramente à mercê dos grandes conglomerados de comunicação, sem a mínima condição de competir em pé de igualdade.

Mesmo assim, foram inúmeras as vitórias obtidas pelo campo popular, a despeito de nossa imensa precariedade comunicacional.

No entanto, no Brasil de hoje, o que inegavelmente está fazendo a balança pender para o lado das forças reacionárias neoliberais é o papel desempenhado por certas igrejas-empresa autodenominadas cristãs.

Elas souberam penetrar nos espaços habitados pelas massas populares mais carentes e fazerem-se sentir como parte do cotidiano dessa gente humilde e violentamente explorada.

Boa parte dos moradores dessas zonas populares, que sempre se sentiram amplamente desamparados, passaram a ter nas reuniões das igrejas ali instaladas os únicos momentos quando poderiam se sentir integrados à sociedade.

Quanto a nós da esquerda, há um bom tempo, vemos ocorrer exatamente o oposto. A cada dia estamos mais distantes dessas massas populares que pretendemos defender.

Ainda me recordo dos cerca de vinte anos em que militei na Zona Oeste da cidade do Rio de Janeiro.

Nossa preocupação naquele tempo era estar permanentemente em contato com os moradores daquela região periférica.

Neste sentido, com nossa presença junto às lideranças locais, procurávamos ajudar na formação de associações de moradores de complexos residenciais, tais como: Antares, Cesarão, Bairro do Rola, Paciência, etc. Era uma maneira que víamos de construir organização popular de base.

Contudo, hoje em dia, pelo que sei, não estamos dedicando tanta atenção a este tipo de trabalho.

Lamentavelmente, nossa ausência acabou abrindo caminho para as forças políticas do sionismo cristão que, através de suas igrejas-empresa, mormente as neopentecostais, passou a exercer uma influência gigantesca.

E, numa atuação aparentemente coordenada com as tais igrejas, cresceram também os grupos milicianos.

Nosso acercamento aos evangélicos deve ter por objetivo conquistar a confiança dos seguidores de boa fé dessas igrejas.

Queremos que eles deixem de servir como massa de manobra do que há de mais nefasto na sociedade brasileira e passem a integrar a luta em favor do povo brasileiro e, evidentemente, deles próprios.

Priorizar nossa atuação em barganhas com os empresários que comandam essas empresas da fé não me parece ser o correto a fazer.

No entanto, para chegar até as bases das comunidades vinculadas às igrejas evangélicas, é imprescindível que estejamos inseridos nas comunidades onde elas estão localizadas.

Em resumo, é de muita relevância que aprendamos a melhorar nossa presença nas redes digitais de maneira a amplificar o alcance de nossas propostas.

Entretanto, em meu entender, o passo mais determinante que precisamos dar é retomar de maneira muito vigorosa nosso trabalho de contato direto com as bases populares, entre as quais a maioria dos evangélicos está inserida.

Não vai ser nada fácil, pois recuperar o longo lapso de tempo de ausência exigirá muita resolução e disposição de nossa parte.

Por entender que é muito importante saber como lidar com nossos compatriotas de religião evangélica e tê-los efetivamente na luta para construir um Brasil mais justo e digno, venho abordando esta questão há vários anos aqui mesmo em Viomundo.

Aos que quiserem conferir a evolução das abordagens, recomendo acessar os links dados abaixo:

*Jair de Souza é economista e mestre em linguística pela UFRJ

Com informações do VioMundo

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