Ando com medo de falar a mulher isso, a mulher aquilo ou a mulher é assim, o homem é assado. Ou ainda, à mulher isto, ao homem aquilo. É como se fosse contrapor mulher e homem, sendo que há tantas possibilidades nesse universo.
Não sei se “medo” é a palavra. Talvez cautela. E de tanta cautela, ando escrevendo pouco e pensando muito, especialmente antes de falar.
Quando não penso, levo umas “broncas” de alguns próximos que me desafiam, no melhor dos sentidos, lembrando-me que tudo é construção social e, portanto, é preciso muito cuidado para não naturalizar. Biologizar.
Pensei: Por que o convite, se tenho mais perguntas que respostas?
Não tenho estudado com profundidade como gostaria (e deveria) as questões de gênero. Não sou uma militante (talvez um pouco no meu entorno, e a um certo preço). Sou uma espécie de observadora em busca de respostas.
Como se eu tivesse entre dois opostos. De um lado, uma enorme maioria, para quem falar mulher é assim e homem é assado não é problema algum. De outro, a minoria que se dedica tanto ao estudo de todas essas questões e à luta por mudanças. Para todas nós.
E no meio disso, os meus dois filhos e as amigas e amigos e primas e primos deles e as crianças e adolescentes que atendo e as mães e os pais deles, que seguem me enchendo de perguntas. Mas em meio a tantas, tenho uma certeza: ser mulher NÃO é pra qualquer um.
Sou uma. Sexo feminino, cisgênero, heterossexual. Machista ainda, mas em constante mudança. De uma família enorme onde há pessoas de diferentes identidades de gênero e orientações sexuais: gay, hétero, lésbica, cis, não binário, trans, bissexual, pansexual …. Essa, é outra certeza que tenho. Viver na diversidade é um enorme privilégio.
Sou também filha de um pai que se foi antes de ver falarem dessas tantas possibilidades de existência. Fico imaginando a rotação da cabeça dele para a direita e para a esquerda se soubesse das mais de 30 identidades de gênero reconhecidas pela Comissão dos Direitos Humanos de Nova York.
Sou filha de uma mãe linda de 85 anos, que sempre me diz: “minha fiiiiilha! Não tente mudar tanto o mundo, vocês não têm ideia do machismo que a minha geração conheceu”.
Não temos, mãe. Mas conhecemos o machismo que a nossa (geração) vive. E que precisamos combater dentro de nós mesmas antes de qualquer coisa. A diferença é que, agora, muitas de nós pode denunciar. Gritar. Por nós e por aquelas que continuam não podendo.
Até agora, não falei do dia da mulher. Talvez porque eu seja meio aversa a dia disso ou daquilo. Não vou dizer que a mulher é guerreira porque eu preferiria que não precisasse ser tanto. Também não vou dizer, jamais, que são melhores que os homens. Seria empobrecer demais qualquer possibilidade de transformação.
Mas vou SIM, do meu lugar, falar das tantas diferenças que ainda existem e que precisam ser, incansavelmente, repetidas. Sim, são diferenças resultantes das construções sociais (antes que eu leve broncas). Mas serem, não significa não existirem. E são tantas ainda!
Hoje, é de parentalidade que devemos falar, no lugar de maternidade ou paternidade. Mas o fato é que são as mães, na esmagadora maioria, que se sobrecarregam com a educação e o cuidado dos filhos e com a tripla jornada.
E se não dão conta, são elas também que recebem os piores julgamentos por não darem. São elas que precisam justificar os cabelos brancos, os pelos deixados embaixo do braço, o decote.
São elas que também na esmagadora maioria ocupam os postos de cuidado, seja profissionalmente, seja no âmbito familiar.
Que estão nas reuniões das escolas, nas recepções dos consultórios médicos com seus filhos (ou mães ou pais ou tias, etc).
São elas que estão nas filas dos presídios nos dias de visita (aos filhos ou aos companheiros). São elas também que estão (na esmagadora maioria, repito) nas clínicas de estética ou nos salões de beleza. Mudando o corpo, o rosto, as cores dos cabelos.
São elas que causam comentários como “nossa, ele é bem mais novo que ela”. São sobre elas que se diz “fáceis porque são pobres”, enquanto estão deixando seu país em guerra.
Hoje, em mais um 8 de março, eu desejo a cada uma das mulheres o mesmo que eu desejo a cada ser humano: LIBERDADE.
Para fazer escolhas. Para ir e vir, com a roupa que quiser. Para ter ou não filhos. Casar-se ou não. Ter a religião que achar que deve. Ou não ter. Para assistir a novelas. Para gostar de pagode, rap, funk, clássica, brega…
Liberdade para sentir. Medo, raiva, vontade, decepção, desejo. Para amar quem quer que seja. Para comer açúcar.
Tomar coca-cola. Para dizer não. Ou sim. Para mudar de ideia. Rever. Errar. Consertar. Perdoar-se. E acima de tudo, para ter amigas com quem compartilhar tudo isso.
Termino com um trecho do livro “A tenda vermelha”, de Anita Diamant, que eu gosto muito.
– Minha mãe e minhas tias irão para a tenda vermelha logo
– Como sabe disso?
– A lua já está quase cheia
– E o que farão nessa tenda onde homens não são permitidos?
– Elas acenderão velas e incenso. Darão risada, fofocarão… contarão histórias
– Histórias sobre o quê?
– Sobre elas mesmas. Sobre as outras. Normalmente sobre pessoas que um dia amaram e que querem recordar. E assim, as pessoas nunca morrem realmente. É como a flor de lótus. Minha mãe uma vez disse: “ficar de luto é respeitoso. Recordar é sagrado”
*Alexandra Mello é psicóloga e psicopedagoga.
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