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Num momento em que a máquina de propaganda do governo Michel Temer procura festejar um crescimento de 1% como a demonstração de que o país venceu a recessão, em entrevista à TV 247 o economista Marcio Pochmann, uma das vozes mais respeitadas nos governos Lula-Dilma, coloca realismo no debate com base em números e dados concretos.

Pochmann lembra que os dados oficiais mostram que a indústria “não cresceu” e que o setor de serviços, “o mais importante da economia brasileira”, teve uma alta de “0,3%”. Na ponta do lápis, a conclusão necessária é que a marca de 1% é resultado de uma média, distorcida por uma “safra excepcional da agricultura, que cresceu 13%”. Sem isso, esclarece, o crescimento de 1% teria ficado em “0,3%”.

Aos 56 anos, formado em economia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Pochmann é presidente da Fundação Perseu Abramo, entidade de pesquisas e debates mantida pelo Partido dos Trabalhadores e, entre 2007 e 2012, foi presidente do IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada). Na entrevista ao 247, Pochmann passa a limpo a política econômica do período Fernando Henrique Cardoso (1994-2002), lembrando as difíceis condições que levaram a um acordo com o FMI.

Para criticar a política econômica de Temer-Meirelles, Pochmann trava um debate a fundo. Mostra que mesmo o crescimento de 0,3% em 2017 não é produto do programa que defendia teto de gastos e mudanças como a reforma trabalhista: “não resultou de medidas neo-liberais, mas de medidas que o próprio governo teve de tomar de liberação de renda para que as famílias voltassem a ter algum consumo”.

“É um discurso cujas promessas não aparecem”, conclui.

Na entrevista, Pochmann também fala sobre a crise econômica internacional e as perspectivas para o Brasil. Lembrando a crise dos derivativos, que já vai completar uma década sem que tenha ocorrido nenhuma ruptura em esquemas tradicionais, mesmo em países onde partidos de esquerda, como os socialistas europeus, ocuparam as tarefas de governo, ele diz: “parece que talvez estejamos caminhando para um momento ótimo da crise, em que a crise vai forçar saídas fora da caixinha”.

Neste cenário, Pochmann está convencido de que “poucos países têm saídas como o caso brasileiro. Em qualquer parâmetro que se analise, do ponto de vista de recursos naturais ao tamanho da população, da riqueza produtiva, nossa capacidade de produção intelectual, o Brasil está entre os dez principais do mundo. É um país em construção. ”

Para Pochmann, enquanto as nações desenvolvidas se tornaram “países completos”, o Brasil tem muito a ganhar no “enfrentamento de nossas mazelas”, a começar pela construção de uma infraestrutura decente para atender a maioria da população. Debatendo o desenvolvimento brasileiro numa perspectiva histórica, ele está convencido de que no século XXI o país ingressou num período no qual o Estado de São Paulo tende a deixar de ser o centro do desenvolvimento e do poder econômico, como ocorre desde a proclamação da República.

“Estamos encerrando um ciclo que vai de 1870 ao ano 2000, que é o ciclo do sãopaulismo”, afirma.

Avaliando o desempenho da economia brasileira na última década e meia, Pochmann recorda que a combinação dos estímulos públicos com a resposta da iniciativa privada, que marcaram os anos Lula-Dilma, até 2014 o país viveu uma experiencia única para interiorizar o desenvolvimento, que envolvia 40% das cidades brasileiras.

Entre esses locais, ele menciona Dourados (Mato Grosso do Sul), Petrolina (Pernambuco), Chapecó (Santa Catarina) e Sorriso (Mato Grosso) para dizer que ali “tivemos um crescimento de 7% ao ano neste período. Tínhamos uma espécie de China aqui no Brasil”.

Inscreva-se na TV 247 e assista à entrevista:

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