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A imagem de Eduardo Bolsonaro na CPMI das Fake News
O publicitário Leonardo Oliveira e Eduardo Bolsonaro em foto anexada no documento encaminhado para a CPMI das Fake News. Foto. Reprodução

Em maio de 2020, quatro diferentes fontes que pediram sigilo ao Diário do Centro do Mundo enviaram uma série de slides de uma apresentação que foi exibida na CPMI das Fake News. Imagens e fotos de Eduardo Bolsonaro e outras figuras estão nesse arquivo – conectadas ao gabinete do ódio bolsonarista.

As informações desse arquivo ajudaram o Supremo Tribunal Federal (STF) no inquérito dos atos antidemocráticos.

O documento de 124 páginas chegou ao deputado Alexandre Frota e mostra os principais atores do chamado “gabinete do ódio”, fotos de um integrante com Eduardo Bolsonaro e detalhes da estrutura de ataques na rede, incluindo seus veículos de comunicação.

O organograma que está com a CPMI das Fake News. Foto. Reprodução

Os dados abaixo traçam uma linha de relacionamentos de integrantes do gabinete com Carlos e Eduardo Bolsonaro, disputas entre os membros e perfis não-identificados que serão investigados.

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Os nomes e imagens do gabinete do ódio

A documentação conecta e identifica personagens que não eram conhecidos na rede de ataques e linchamentos que se desenvolveu ao longo do governo Bolsonaro. Com o envolvimento direto ou com a anuência da família Bolsonaro.

Rádio Shockwave, L0enTalks e o jornal de extrema direita Brasil Sem Medo de Olavo de Carvalho estão entre os elos que se conectam nessa rede.

Carlos Bolsonaro no podcast dos ratos do esgoto bolsonarista

O publicitário Leonardo “l0en_” Oliveira é um personagem na história que o DCM cobre desde 2016, quando ele tinha uma página chamada “Humans of PT” no Facebook atacando políticos de esquerda e eleitores de esquerda.

Em reportagens de 2019, ele aparece como autor da fake news que tenta ligar Jean Wyllys com o atentado da facada de Adélio Bispo contra Bolsonaro. Ele falou isso no podcast “Ninguém Se Importa” no Soundcloud. A gravação foi tirada do ar e o Diário do Centro do Mundo recuperou a informação de fevereiro daquele ano.

Na mesma época, eles também entrevistaram um perfil no Twitter chamado “Let’s Dex”, cuja identidade é ocultada dentro das redes bolsonaristas e que frequentemente está envolvido em ataques.

De acordo com o documento entregue para Frota, no dia 27 de julho de 2019, l0en publicou uma entrevista com o vereador Carlos Bolsonaro da mesma série de podcasts.

Ela foi gravada na companhia do seu colega Hiram, militante de extrema direita que acompanhou Jair Bolsonaro em Davos. Carlos fala na gravação em áudio sobre a militância digital e a influência de Olavo de Carvalho no bolsonarismo.

Além da ligação com o filho 02 do presidente em uma entrevista, Leonardo Oliveira lançou no mesmo intervalo de meses um novo podcast chamado “l0en Talks”, que foi para o Spotify, e participou de um programa chamado Rádio Shockwave.

A “primeira rádio conservadora do Brasil”, segundo seus donos, passou a ser divulgada por Eduardo Bolsonaro em 2020, desde o primeiro dia, junto com uma entrevista do então ministro da Justiça, Sérgio Moro.

A conexão entre Eduardo e Leonardo Oliveira

Leonardo Oliveira é próximo e entrevistou Eduardo Bolsonaro para um de seus programas. Foto. Reprodução

Leonardo Oliveira teve mais de 20 contas apagadas do Twitter por romper os termos de uso da rede social em seu envolvimento direto com as milícias bolsonaristas e ações coordenadas com robôs na plataforma.

Depois de Carlos, em fevereiro de 2020, Oliveira entrevistou Eduardo para seus novos programas. O encontro, em um restaurante não identificado, foi registrado em duas fotos que foram encaminhadas para a CPMI.

Encontro de Leonardo Oliveira com Eduardo Bolsonaro em um restaurante ainda não identificado. Foto. Reprodução

Ambas foram postadas no Twitter, mas não se tornaram notícia na época. Elas mostram o elo direto de Eduardo Bolsonaro com os militantes virtuais que atuam desde o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff e que engrossam os bolsonaristas na internet.

Antes desse encontro, Leonardo Oliveira só tinha imagens que se tornaram públicas com Danilo Gentili e com o publicitário, hoje falecido, Enio Mainardi, pai de Diogo Mainardi, um dos donos do site Antagonista.

Oliveira tinha manifestado pretensões políticas no podcast “Ninguém Se Importa” em 2019, afirmando que eles tinham perdido a onda de Bolsonaro no ano anterior.

Além de Eduardo, Leonardo Oliveira manteve ligações com Luiz Galeazzo, publicitário que foi ventilado para a direção de canais digitais da Secretaria de Comunicação (Secom) de Fábio Wajngarten. A nomeação foi barrada depois que Alexandre Frota expôs fotos de Galeazzo num ménage à trois com duas mulheres. Uma delas afirmou que o publicitário expôs imagens nas redes sem seu consentimento.

Galeazzo não conseguiu o cargo público, mas esteve envolvido no canal MAV News com a militante olavista e bolsonarista Camila Abdo e outro amigo de l0en.

O programa de Leonardo Oliveira na Rádio Shockwave. Foto. Reprodução

Oliveira também tem amizade com um homem chamado Evandro Pontes, da Rádio Shockwave e próximo do blogueiro Allan dos Santos, o dono do site Terça Livre, um dos nomes que também foi ventilado para a Secom.

Professor de Direito ligado ao guru Olavo de Carvalho e a investidor

Evandro Pontes, um dos nomes da Rádio Shockwave. Foto. Reprodução

Os documentos encaminhados ao deputado Alexandre Frota têm um personagem importante chamado Evandro Pontes.

Movimento Avança Brasil promove a Rádio Shockwave. Foto. Reprodução

Pontes é professor de Direito em São Paulo e autor da conta de Twitter @opropriopontes – nomenclatura similar a de Olavo de Carvalho na mesma rede (@oproprioolavo). É citado como uma das pessoas por trás da Rádio Shockwave, criada para “substituir” a Jovem Pan nas redes bolsonaristas.

Ele também é citado no documento 32 da CPMI das Fake News como sendo um dos influenciadores olavistas. Possui um programa chamado Metal Bridges dentro da Shockwave.

No mesmo documento já apresentado à CPMI, e citado nesse arquivo que o DCM recebeu, Pontes é apontado como conselheiro do movimento Avança Brasil, ao lado de Olavo de Carvalho e do investidor Otavio Fakhoury.

Tem colunas nos sites Crítica Nacional e no jornal Brasil Sem Medo. Há registros de encontros de Evandro Pontes com a deputada Bia Kicis e os publicitários Luiz Galeazzo e o hoje falecido Enio Mainardi.

Bia Kicis, Evandro Pontes e Otávio Fakhoury, do gabinete do ódio. Foto. Reprodução
Otávio Fakhoury, Bernardo Kuster, Bia Kicis e Luiz Galeazzo. Foto. Reprodução

Evandro Pontes também esteve em evento de lançamento e busca de assinaturas do novo partido Aliança Pelo Brasil com André Petros, coordenador do Movimento Conservador e assessor do deputado estadual Douglas Garcia, de São Paulo.

Evandro Pontes e André Petros. Foto. Reprodução
André Petros com Gil Diniz, Douglas Garcia e, ele, Eduardo Bolsonaro. Foto. Reprodução

Garcia e Petros são próximos dos deputados Gil Diniz (Carteiro Reaça) e do próprio Eduardo Bolsonaro. O gabinete de Garcia foi apontado por Joice Hasselmann como sendo um dos núcleos do gabinete do ódio na CPMI das Fake News.

Sistema pago de podcasts e uma loja de roupas

Em janeiro deste ano, o DCM publicou reportagens sobre a loja de camisetas de um perfil chamado Tonho Drinks e sua conexão com o canal de YouTube chamado Brasileirinhos, que foi promovido pelo jornal Brasil Sem Medo de Olavo de Carvalho e que defende o “empastelamento” (o ataque violento) contra a mídia tradicional.

Um perfil mencionado nesse novo documento sugere um modelo de atuação e de negócios similar ao dessas pessoas.

O Twitter chamado de “Seu Vagem” aparece associado aos endereços de sites Wimperium.store, Speakup.top, Radioup.top, Shockwaveradio.com.br e Desalarmista.com.

Os dois últimos são, respectivamente, o site oficial da Rádio Shockwave e uma página de notícias sensacionalistas que tenta imitar o site Antagonista, com manchetes que apelam para o “click bait”.

Wimperium.store pertence ao militante Luiz Paulo Romanini, próximo de Evandro Pontes, e comercializa camisetas inspirada na militância bolsonarista. Já o site Speakup.top é um servidor de hospedagens de podcasts que cobra por downloads.

Curiosamente a maioria dos sites e serviços são divulgados pelo perfil anônimo Let’s Dex.

O site shockwaveradio.com.br está registrado no nome de Juliana Cristina Vaz. No site WhoIs, que revela donos de domínios na internet, mostra que um dos nomes usados é “Juliana Ginger”. Até o final de 2019, Juliana mantinha um podcast chamado Redpillados que era co-produzido por um perfil chamado Amandaverso. Também denunciado por Alexandre Frota na CPMI.

“JuGinger” fazendo apologia ao nazismo em rede social. Foto. Reprodução

Nas redes sociais, Juliana já publicou mensagens de incentivo à violência e apologia ao nazismo. Ela tem uma relação próxima com Evandro Pontes dentro da própria Rádio Shockwave. Ambos entrevistaram juntos o ministro da Educação, Abraham Weintraub. 

“JuGinger” fazendo apologia ao integralismo em rede social, no atentado ao Porta dos Fundos. Fotos. Reprodução

Quebras de sigilo que ocorreram

A CPMI das Fake News autorizou a quebra de sigilo das contas @Leitadas_loen, @Lets_Dex e @brasileirinhos no dia 5 de fevereiro de 2020. No Twitter, as duas negam ter conexões com a conta Let’s Dex.

A mesma comissão determinou a quebra de sigilo dos assessores do deputado Douglas Garcia. Essas determinações estão nos requerimentos 297/2019 e 300/2019.

Todas as informações mencionadas nesta reportagem estão nos slides do documento novo que será apresentado na CPMI das Fake News, incluindo detalhes da atuação de Evandro Pontes, as fotografias de Eduardo Bolsonaro com integrantes do gabinete do ódio e personagens inéditos na mesma história, como Juliana Cristina Vaz e a Rádio Shockwave, que se conecta com Leonardo Oliveira.

As fontes consultadas pelo DCM afirmam que as milícias bolsonaristas possuem uma organização que é descentralizada, com uso de robôs e de hashtags artificialmente impulsionadas. Não há um único comando. Mas a estrutura tem uma ligação clara com os filhos do presidente Bolsonaro e uma comunicação em fios.

Esses fios são conectados por Pontes, Allan dos Santos, Fakhoury e nomes que emergem das redes.

Os documentos e as investigações que Frota teve na CPMI das Fake News foram encaminhadas, em 2021, para a CPI da Covid, no Senado.

Evandro Pontes, da Rádio Shockwave, e seu amigo Allan dos Santos. Foto. Reprodução