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A posse de Nicolás Maduro em seu segundo mandato na presidência da Venezuela faz parte desses acontecimentos que são pontos divisores na história. É o símbolo da resistência de um período em que na América Latina prevaleceram governos que deram prioridade à soberania da região, criando uma unidade política e econômica com resultados positivos inegáveis. Em pouco tempo, uma nova realidade latino-americana se formou, bem diferente dos desastres que se sucederam nos países que haviam adotado o projeto neoliberal.

Pesou a favor desses resultados, evidentemente, as duas décadas de hegemonia do neoliberalismo, com severo declínio nas taxas de crescimento econômico, um dado que se desdobrou em graves impasses sociais e políticos. As crises financeiras relacionadas à dívida externa do México em 1995 e da Ásia em 1997/1998 se expandiram, levando a Argentina ao fundo do poço e o Brasil a se submeter ao remédio amargo das receitas do Fundo Monetário Internacional (FMI).

A Venezuela paga o preço de ter conseguido resistir ao vendaval golpista que varreu a região e restaurou a hegemonia da velha ordem neoliberal. O país foi cercado e atacado por uma violenta guerra midiática, ideológica e econômica, um processo que teve como pico inicial o sequestro, em 2002, do seu então presidente, Hugo Chávez. As sucessivas tentativas de sufocar a governabilidade e consequentemente revogar as bases da institucionalidade que se formou nesse processo de resistência, resultaram nos dramáticos problemas econômicos e humanitários atualmente enfrentados pelo país.

Há outras crises na região, igualmente trágicas, como o processo migratório da América Central, mas na Venezuela as causas são de natureza distinta, inescrupulosamente manipuladas pelo intervencionismo golpista comandando pelos interesses dos Estados Unidos e da União Europeia, cuja expressão ganhou a denominação de “Grupo de Lima”, composto por governos abertamente alinhados à política e aos interesses de Washington.

Esse agrupamento apregoa, sem meias palavras, a ruptura com a democracia do país, um inaceitável ataque à soberania popular do país, legitimada por eleições transparentes, acompanhadas por observadores internacionais independentes. Na prática, ao promover a ideia de um golpe de Estado por meio da Assembleia Nacional – algo como ocorreu no Brasil com a fraude do impeachment da presidenta Dilma Rousseff –, o “Grupo de Lima” se comporta como mero serviçal da Casa Branca.

Esses governos, apoiados pela Organizações dos Estados Americanos (OEA), que ao longo da sua história funcionou como base para intervencionismos e golpismos na região, não fazem sequer questão de disfarça seu servilismo, comportando-se como porta-vozes do projeto norte-americano, respaldado pela União Europeia. Entre eles está o governo brasileiro, que tem jogado todo seu peso nessa ofensiva brutal contra a soberania do povo venezuelano, como atesta uma nota do Planalto ao afirmar que o Brasil “seguirá coordenando-se com todos os atores” alinhados com o “Grupo de Lima”.

Como contraponto, registre-se a presença, na posse de Maduro, da presidenta do Partido dos Trabalhadores (PT), Gleisi Hoffmann, e do vice-presidente do Partido Comunista do Brasil (PCdoB), Walter Sorrentino, que, em nota, disse que o Brasil passa por um momento de risco, com um governo “de perfil autoritário e regressivo” e com “uma política externa obscurantista e de alinhamento subserviente pró-Estados Unidos”.

As forças políticas progressistas, nesse momento crítico para a democracia e a soberania na América Latina, têm nesses seus representantes um exemplo de resistência brasileira a essa marcha golpista. São porta-vozes de um processo histórico brasileiro de lutas patrióticas, democráticas e internacionalistas, que no governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva formou o “Grupo de Amigos da Venezuela”, uma clara demonstração de não ingerência em assuntos internos daquele país e de disposição de não permitir o agravamento da crise. Exatamente o oposto do que faz agora o “Grupo de Lima”.

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