Eleito há um ano presidente do Partido dos Trabalhadores do Distrito Federal, Jacy Afonso faz um balanço de sua gestão e projeta uma aliança dos partidos progressistas para derrotar o governador Ibaneis Rocha (MDB) e o Presidente da República, Jair Bolsonaro (sem partido), em 2022. “É como se fosse quando você planta bambu. Estamos adubando. Na hora que começar, ele nasce rápido. Acredito que a partir das águas de janeiro a março vai florescer uma unidade da esquerda para derrotar nossos adversários”, diz ele nesta entrevista ao Brasília Capital.
Há um ano, você foi eleito presidente do PT-DF. O que mudou no partido em Brasília e até nacionalmente nesse período?
O PT tem uma característica própria de participação da militância, com proporcionalidade de correntes de opiniões. O processo encerrou em outubro. Depois, teve o congresso nacional do partido, em novembro, e tomamos posse em dezembro. Apresentamos algumas ideias novas, tanto no DF como a nível nacional. Infelizmente, a pandemia nos prejudicou, mas também nos forçou a refletir mais sobre os caminhos e o futuro do PT. A primeira coisa que apresentamos foi a ação chamada “Sinergia do PT”.
O ex-presidente Ricardo Berzoini tem criticado a burocracia dentro do PT. Você comunga com ele ou fica na linha do conservadorismo interno de manter as estruturas anteriores, que é a postura do Lula e da Gleisi Hoffmann?
Não acho que essa seja a postura do Lula e da Gleisi. Corroboro com as ideias do Berzoini, que, inclusive, é um dos vice-presidentes, junto com a companheira Rosilene Corrêa e os companheiros Vilmar Lacerda e Geraldo Magela. Concordo na observação dessa acomodação. Tanto que apoiamos o Sinergia Petista. A partir dessa reflexão, estamos fazendo uma matriz de ação política nos 20 diretórios e 15 setoriais. Mas veio a pandemia, e para que nós respeitássemos o isolamento, passamos a fazer os chamados “faixaços”. Toda sexta-feira, às 7h da manhã, nós vamos a vários pontos com faixas do PT sobre os temas que a gente entende serem os mais importantes naquela semana. Esse trabalho envolve os companheiros das cidades e os setoriais. A próxima pauta será sobre as eleições do Entorno e, na seguinte, vamos fazer um “faixaço” sobre a nossa luta contra a privatização da CEB. Vamos mostrar para a população os efeitos maléficos das privatizações e mostrar que onde foi privatizado o serviço piorou, além de ter aumentado o preço.
Essas ações têm surtido o efeito esperado? A rejeição ao PT tem caído? Vocês têm alguma pesquisa que mostre isso?
Eu acho que nós precisamos combinar várias ações, e uma delas é essa. As pessoas que saem de casa veem uma manifestação do PT mostrando, por exemplo, arroz a R$ 28 o quilo, o preço da gasolina, a luta que nós queremos fazer contra a privatização, o descuido com o Pantanal, a Amazônia, o meio ambiente. Outra questão é a atualização cadastral dos nossos filiados. O PT tem 60 mil filiados no DF, e o congresso aprovou um recenseamento. A partir de janeiro, visitaremos todos esses companheiros. Nós tivemos um sucesso, na semana passada, na eleição dos conselheiros de cultura do DF. A maioria deles foi sugerida pelo PT. Então, com esses trabalhos nós vamos superando essa aversão que foi criada, diariamente, contra o PT.
Antes de janeiro, teremos novembro e as eleições municipais. Nas capitais, o PT ou não tem candidato ou tem se coligado com outros partidos, mas com pequenas chances, segundo as pesquisas. Vocês têm algum trabalho previsto para as próximas semanas para tentar reverter esse quadro?
Nós vamos recuperar as alianças. Esse processo fez com que o PT amadurecesse, tivesse mais políticas de alianças. Estamos apoiando a Manuela D’Ávila, em Porto Alegre. Em Belém, apoiamos o candidato do Psol, que lidera as pesquisas. No Espírito Santo, o ex-prefeito João Coser está no páreo. Aqui em Anápolis o PT está disparado na frente. A Marília, em Contagem (MG), tem 42% de intenção de votos e o segundo colocado tem 4%. Existe um processo de renovação. Estamos empenhados nesse trabalho aqui no Entorno.
Em quais cidades do Entorno o PT pode ter sucesso nas urnas?
Podemos ter sucesso com o Professor Silvano, em Valparaíso; temos a candidatura da companheira Kadima, na Cidade Ocidental; do companheiro Jorge, em Formosa; do Professor Francisco, no Novo Gama. Tem também o Isaías Cassimiro, ex-presidente do Sindicato dos Rodoviários do DF, que é candidato em Dom Bosco (MG), perto de Unaí.
Significa que o PT está se reorganizando. O que vocês esperam dessa reorganização? É Lula de novo em 2022 ou o PT vai ter novidade?
Isso é um processo, e a gente precisa trabalhar nesse sentido. Vamos ter uma frente de esquerda. No DF, precisamos derrotar o Ibaneis. Precisamos de uma frente para derrotar o Bolsonaro. Eu, pessoalmente, entendo que o PT tem nomes, tanto no DF quanto a nível nacional para debater junto com esses partidos. A decisão sobre se será Lula ou não em 2022 é muito mais pessoal do companheiro Lula – se ele quer disputar em não. Os sinais dele não deixam claro, mas o nosso objetivo é derrotar o Bolsonaro; derrotar essa política do Bolsonaro e dos seus aliados, que é uma política de destruição. O PT do DF quer, nesse processo, apresentar uma proposta de inovação, de fazer uma nova ligação com o povo. Fizemos governos extraordinários, mas acabamos nos acomodando nos governos. Portanto, o PT está reaprendendo essa relação. O fim das coligações proporcionais e do financiamento privado/empresarial vai surtir mudanças. Vai ter uma redução da quantidade de partidos e vai estimular o PT, como está estimulando, por exemplo, em Valparaíso, onde o PT tem chapa completa, com mais de 20 vereadores. Não tem mais coligação. Portanto, todos os votos que forem dados para os candidatos, vão para o PT. Acho que vai ter uma mudança significativa nesse subsolo, de irrigação. Nós vamos adubar isso para que em 2022 a gente volte, tanto no DF quanto no Brasil.
Nacionalmente, Bolsonaro tem navegado tranquilo. Não tem adversário, não tem um contraponto. Nega a pandemia, desdenha das vítimas da covid-19 e cresce nas pesquisas. Não existe uma estratégia de desconstrução desse discurso do Presidente?
Recomendo o documentário Dilema das Redes. Estão lá profissionais, ex-executivos das empresas de Tecnologia da Informação mostrando várias dessas questões. Mostra, inclusive, que a eleição do Bolsonaro é fruto dessa política de fake news, de uso de robôs. Nós temos que ter a humildade de chamar os especialistas de comunicação, de cultura, de neuroliguística para fazer isso e pensar em uma forma do PT e da sociedade tanto desconstruir essa política do Bolsonaro, quanto reconstruir o nosso linguajar junto à população. O PT está apresentando um jornalzinho esta semana, para mostrar que é preciso reconstruir o Brasil e transformá-lo.
Dá um spoiler do jornal. Que mudanças o PT está propondo?
Primeiro, defendemos que o auxílio emergencial deve ser permanente. Bolsonaro o utilizou temporariamente e agora não quer continuar. Estamos apresentando um conjunto de propostas sobre o nosso ponto de vista do petróleo, do emprego. Vamos trabalhar em cima disso de forma popular, dialogada. A gente tem que ter as redes sociais, mas termos também um jornal impresso, onde você dialoga com as pessoas. Nós precisamos ter essa forma de comunicação, e é isso que o Lula e o PT estamos apresentando.
Quando passar a eleição municipal, começará 2022. A tendência é insistir nas candidaturas do partido, mesmo que seja para nem chegar ao segundo turno?
Na questão nacional, nós temos o Lula; temos o Haddad, que em 2018 mostrou que tem capacidade de ter votos; temos os governadores da Bahia, do Ceará, do Piauí. A única governadora mulher é do PT, a Fátima, do Rio Grande do Norte. A gente pode discutir uma aliança. A gente tem bons nomes. Acredito também para o DF, mas estou querendo dizer que tenho dialogado com os partidos daqui. A gente tem tido ações concretas com o Psol. Já fazemos um bloco de oposição na Câmara Legislativa. Tenho dialogado também com o PSB, o PCdoB, com a REDE. A gente precisa construir um nome.
E o diálogo com o PDT de Cláudio Abrantes, líder do governo, de Reginaldo Veras, oposicionista, e do eterno presidenciável Ciro Gomes?
Tenho conversado bastante com o presidente regional Georges Michel. Em algumas reuniões fizemos o gesto de realizá-las na sede do PDT. O PDT está no nosso horizonte. A gente precisa superar essas divergências. Nós podemos ter uma aliança nacional que não obrigatoriamente tenhamos aqui. Precisamos construir propostas. A gente devia assumir o compromisso de estar juntos, e lá na frente discutir, de forma conjunta, quem que será o candidato. O PT tem nomes, mas não queremos impor esses nomes. Então, vamos analisar quem é que tem mais viabilidade eleitoral para derrotar o Ibaneis. Essa é a tese que vou defender no PT já no início do ano. É como se fosse quando você planta bambu. Estamos adubando. Na hora que começar, ele nasce rápido. Acredito que a partir das águas de janeiro a março vai florescer uma unidade da esquerda para derrotar nossos adversários.
E esse bambu é pra dar em quem?
Nos homofóbicos, nos feminicidas, nos racistas, nos entregristas, como é hoje o Bolsonaro, que bota nosso País em submissão ao interesses dos Estados Unidos. Um companheiro criou o termo Ibanaro Bolsoneis, uma junção de Ibaneis com Bolsonaro. Estão ai o nosso objetivo: derrotar os dois.
via Bsb Capital
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