“O empreiteiro que incriminou o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no caso que o levou à prisão foi tratado com desconfiança pela Operação Lava Jato durante quase todo o tempo em que se dispôs a colaborar com as investigações, segundo mensagens privadas trocadas entre procuradores envolvidos com as negociações”, aponta a reportagem deste domingo. “Léo Pinheiro, ex-presidente da construtora OAS, só passou a ser considerado merecedor de crédito após mudar diversas vezes sua versão sobre o apartamento tríplex de Guarujá (SP) que a empresa afirmou ter reformado para o líder petista.”
“Acho que tem que prender o Leo Pinheiro. Eles falam pouco.”
A frase do procurador da República Januário Paludo, um dos ais destacados da chamada Força Tarefa da Operação Lava Jato, resume o espírito que marcou mais de um ano de “negociações” entre a Procuradoria Geral da República: só haveria benefícios para “o empreiteiro com mais prova contra si” – José ademário, aliás Leo Pinheiro, da OAS – se este ” entregasse” o ex-presidente Lula.
A reportagem lembra que Léo Pinheiro só apresentou a versão usada para condenar Lula em abril de 2017, mais de um ano depois do início das negociações com a Lava Jato.
Força Tarefa forjava provas e agia parcialmente para condenar Lula, mesmo que ele fosse inocente. |
Os diálogos examinados pela Folha e pelo Intercept ajudam a entender por que as negociações da delação da empreiteira, até hoje não concluídas, foram tão acidentadas — e sugerem que o depoimento sobre Lula e o tríplex foi decisivo para que os procuradores voltassem a conversar com Pinheiro, meses depois de rejeitar sua primeira proposta de acordo.” Ou seja: Léo Pinheiro foi levado a incriminar Lula para ter sua delação aceita.
o procurador Deltan Dallagnol tentou manter as aparências, depois que o empresário Léo Pinheiro, da OAS, mudou sua versão várias vezes para entregar um depoimento contra o ex-presidente Lula.
Para isso, valia usar a prisão do executivo, até que ele concordasse em fornecer alguma acusação contra o petista:
“Januário Paludo – 12:21:54 – Acho que tem que prender o Leo Pinheiro. Eles falam pouco. Quer dizer, acho que tem que deixar o TRF prender.”
Depois de meses, a OAS apresenta – curiosamente, através da revista Veja – o que está disposta a dizer: que haveria uma “conta” clandestina em favor de Lula, versão mantida até o final como justificativa da suposta vinculação do triplex do Guarujá com os contratos da Petrobras – algo que jamais fora mencionado nas conversas entre a OAS e os prucuradores :
Anna Carolina (Garcia) – 19:52:11 – Tinha isso de conta clandestina de Lula?
19:52:19- Esses Advs não valem nada
Jerusa(Viecili) – 19:53:02 – Não que eu lembre
Ronaldo ( Queiroz)- 20:45:40 – Também não lembro. Creio que não há.
Sérgio Bruno ( Cabral Fernandes) – 21:01:10 – Sobre o Lula eles não queriam trazer nem o apt. Guaruja. Diziam q não tinha crime. Nunca falaram de conta.
A “plantação” de suspeitas através de vazamentos era, para alguns procuradores, “uma estratégia dos advogados para despertar interesse pela proposta e torná-la irrecusável para o Ministério Público”. Outra – que saiu pela culatra – teria sido o pagamento de propina, na forma de obras de impermeabilização em sua casa, do ministro José Carlos Dias Toffoli.
Léo Pinheiro mudou versão para ajudar Lava Jato a condenar Lula |
E como não havia materialidade algua no que os advogados de Léo Pinheiro traziam aos procuradores, durante mais de um ano as conversas não renderam acordo formal mas, afinal, com a alegação das reformas e de um suposto pedido de destruição de provas, a promessa de um, assim mesmo com muita prudência, para não evidenciar a barganha obtida com ele:
Deltan (Dallagnol)-17:10:32 -Caros, acordo do OAS, é um ponto pensar no timing do acordo com o Léo Pinheiro. Não pode parecer um prêmio pela condenação do Lula.
Ao Correio braziliense, um dos procuradores que estava no grupo em que ocorreram as conversas, disse, sob a condição de anonimato, que os trechos divulgados são verdadeiros. “Me recordo dos diálogos com os procuradores apontados pelo site.
O integrante do Ministério Público Federal (MPF) também declarou que conseguiu recuperar parte do conteúdo. “Consegui recuperar alguns arquivos no celular. Percebi que os trechos divulgados não são de diálogos completos. Tem mensagens anteriores e posteriores às que foram publicadas. No entanto, realmente ocorreram.
Via: Site 247, Folha de São Paulo, Revista Veja, DCM e Correio Braziliense
Edição: Ana Fernandes
Colaboração: Pedro Oliveira
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