Preso em Curitiba, cerceado, censurado, proibido, Lula foi o grande vitorioso dos dois debates da noite desta quinta-feira (9). O debate da Bandeirantes, venceu por WO -mesmo ausente pela proibição do Judiciário, esteve onipresente, enquanto os demais candidatos, no estúdio, não apareceram. Foi um debate medíocre e sem sabor, com performances que chegaram a ser constrangedoras. No outro debate da noite, transmitidos pelas redes sociais e portais, Fernando Haddad, Manuela D’Ávila, Gleisi Hoffmann e Sérgio Gabrieli apresentaram, ao vivo, o programa de governo da coligação PT-Pc do B, mas uma edição primorosa deu voz a Lula: o programa foi uma colagem de entrevistas de Lula entremeadas pelo debate ao vivo.
Na Band, havia oito candidatos presentes: Alvaro Dias (Podemos), Cabo Daciolo (Patriota), Ciro Gomes (PDT), Geraldo Alckmin (PSDB), Guilherme Boulos (PSOL), Henrique Meirelles (MDB), Jair Bolsonaro (PSL) e Marina Silva (Rede). O grande numero de presentes e a ausência de Lula deram um caráter de dispersão ao debate. Nenhum dos candidatos ousou criticar Lula; Boulos fez uma defesa breve do ex-presidente na sua primeira intervenção no debate. Com Lula com mais de 41% das intenções de voto no país, segundo a última pesquisa Vox Populi, nenhum candidato arriscou um confronto, ainda mais com o líder aprisionado -Alckmin fez um ataque ao PT apenas no final do debate, às 0h37. Talvez tenha havido uma estratégia de ignorar Lula e o PT-PC do B, mas a proeminência é tão evidente que a estratégia foi frustrada.
Com o mais de 13 milhões de desempregados, o tema do emprego foi o mais relevante no debate. Houve um acordo quase explícito dos candidatos de direita de colocar Ciro e Boulos de escanteio. As perguntas entre candidatos e mesmo dos jornalistas buscaram silenciar ambos. Alckmin e Ciro mantiveram uma aliança tácita com Marina durante todo o debate; o ex-governador de São Paulo, ao contrário do que seria esperado, fugiu do confronto com Bolsonaro; Ciro centrou fogo em Alckmin e Boulos em Bolsonaro; ao fazer a defesa aberta da reforma trabalhista, Alckmin apresentou-se como o candidato do governo Temer; Bolsonaro girava no universo paralelo que o caracteriza e atuou defensivamente, preocupado apenas em manter seu eleitorado, sair do debate sem prejuízo; Marina Silva, experiente depois de duas campanhas presidenciais, manteve-se no tema do desemprego; Álvaro Dias bateu quase que unicamente na tecla de fazer de Moro ministro da Justiça; o Cabo Daciolo, ex-PSOL, dividiu com com Bolsonaro o discurso da extrema-direita com um acento “cristão”. Foi um festival de “Deus”. Todos os candidatos, à exceção de Boulos e Meirelles, aproveitaram-se descaradamente do sentimento religioso do povo brasileiro.
Enquanto isso, no debate com Lula, a apresentação do programa de governo e do cenário político do país pós-golpe estiveram no centro das conversas. No debate da Band praticamente ignorou-se o golpe de 2016, exceto por uma menção de Ciro Gomes que defendeu a honestidade de Dilma numa resposta a Bolsonaro. Haddad perguntou: “do que eles têm medo?”, referindo-se à proibição da presença de Lula e a veto à sua participação no debate da Band.
Ao final do debate da Band, restou patente que a possibilidade de uma mudança expressiva nas preferências do eleitorado são quase nulas. Não será pelo debate que poderá haver qualquer mudança significativa no cenário. A exclusão de Lula e da coligação PT-PC do B não parece haver resultado em qualquer prejuízo para o ex-presidente e os partidos coligados. Ao contrário, Lula foi o grande vencedor da noite.
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