Mobilização bolsonarista ocorre depois de publicações feitas pelo bilionário Elon Musk na rede X contra ministro do STF Alexandre de Moraes e contra instituições brasileiras
Inimigo da democracia, Musk recorre ao extremismo de direita para fazer negócios
A partir da investida do bilionário sul-africano Elon Musk contra a República brasileira, a extrema direita iniciou articulação para amplificar os ataques às instituições democráticas do país, como já vinha executando desde o governo de Jair Bolsonaro (PL). Políticos e a militância ligados ao ex-presidente estão se utilizando das publicações feitas por Musk na rede social X, de propriedade do bilionário, contra o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, para endossar o discurso defendido pelos radicais de que há censura e perseguição política contra eles.
”Elon Musk, Bolsonaro e seu filhote falam a mesma língua: a mentira. Ditadura é o que Musk quer impor ao Brasil, passando por cima do estado de direito e das instituições em nosso país. O dono da rede X age em sintonia com a extrema direita global para ameaçar a democracia”, disparou a presidenta nacional do Partido dos Trabalhadores (PT) e deputada federal, Gleisi Hoffmann (PR), em seu perfil na rede de Musk. A parlamentar defendeu o respeito à soberania e às leis brasileiras. “Não temos mais presidente que bate continência pra bandeira dos Estados Unidos nem de qualquer outro país”, completou.
A rede de extremistas de direita contra a democracia conta com figuras conhecidas do público brasileiro. Além de Bolsonaro, que se referiu a Musk como “o mito da nossa liberdade”, a mobilização é feita pelos deputados federais Marcel van Hattem (Novo-RS), Nikolas Ferreira (PL-MG), pelo senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), filho do ex-presidente, e até por um jornalista e ativista norte-americano. Michael Shellenberger é um dos responsáveis pelo “Twitter Files Brazil”, uma série de emails trocados entre advogados da empresa, de 2020 a 2022, reclamando de decisões proferidas pela Justiça brasileira.
O reagrupamento de bolsonaristas ocorre pouco depois de o ex-presidente Bolsonaro convocar mais um ato em favor de si mesmo, dessa vez em Copacabana, Rio de Janeiro, para o próximo dia 21. Em fevereiro, a extrema direita já havia realizado manifestação semelhante na Avenida Paulista. “Para falarmos sobre a maior fake news da história, que está resumida hoje na minuta de golpe”, afirma Bolsonaro, no vídeo convocatório. O ex-presidente é citado em dezenas de inquéritos do STF, suspeito de liderar e de articular a tentativa de golpe de Estado, em 8 de janeiro de 2023, quando manifestantes bolsonaristas depredaram a Praça dos Três Poderes.
No início do mês, Shellenberger divulgou, nas redes sociais, emails trocados por funcionários da empresa de Musk, alegando suposta comprovação de que o STF age deliberadamente para implantar uma ditadura no Brasil. As mensagens contêm reclamações de advogados do X sobre decisões judiciais que determinaram a exclusão de conteúdos em investigações envolvendo a disseminação de notícias falsas, prática amplamente utilizada pelo bolsonarismo. À Folha de S.Paulo, em entrevista intermediada por van Hattem, Shellenberger negou atuação política e relativizou o papel das fake news na corrosão das democracias.
Também ao jornal Folha de S. Paulo, van Hattem revelou até a disposição, em coordenação com outros parlamentares da direita, de protocolar nos próximos dias um Projeto de Lei inspirado na primeira emenda da Constituição dos Estados Unidos. Na visão dele, a proposta serviria para proteger a liberdade de expressão no Brasil. Antes de se tornar deputado pelo Rio Grande do Sul, van Hattem integrou o Programa de Liderança Política, Social e Empresarial da Universidade de Georgetown, em Washington, nos Estados Unidos.
Em seu perfil no X, o deputado federal Nikolas Ferreira pediu que Musk divulgasse os perfis bloqueados na rede social a mando do ministro Moraes. “Libere os arquivos. O Brasil conta com você”, publicou o parlamentar. Mais cedo, Nikolas já havia se referido ao presidente Lula como “cadelinha”, em sintonia com as publicações de Musk agredindo as instituições brasileiras. Desde 2023, o parlamentar mineiro é réu por expor uma jovem trans de 14 anos no banheiro de uma escola em Belo Horizonte (BH).
Na segunda-feira (8), o senador Flávio Bolsonaro disse que a população nota uma suposta perseguição a seu pai. “No atual cenário, há essa especulação, porque parece que tem uma pessoa que tem carta branca para fazer o que quiser, independente do que está escrito na Constituição, na legislação, o que está errado”, reclamou Flávio, em entrevista ao Roda Viva, da TV Cultura. O senador negou que seu pai tenha buscado refúgio na embaixada da Hungria, recentemente, como descoberto pelo jornal The New York Times.
“Se tem uma coisa que Bolsonaro não pode ser acusado é de que ele está se escondendo”, justificou. Apesar disso, ele não explicou o que o extremista foi fazer na embaixada por duas noites em pleno carnaval.
Grande capital
As investidas de Musk contra democracias não são novas. Considerado o homem mais rico do mundo, o sul-africano opera com desprezo pelas instituições de países latino-americanos, buscando favorecer grupos radicais de direita. É o caso da Bolívia, da Argentina, Venezuela e, agora, do Brasil.
”Vamos dar golpe em quem quisermos! Lide com isso”, publicou no antigo Twitter, em 2020, referindo-se ao recém-reeleito governo de Evo Morales, à época. Recentemente, o governo boliviano anunciou a descoberta de 2 milhões de toneladas de lítio, elemento químico necessário na produção das baterias Tesla, outra empresa de Musk.
”A Venezuela possui uma grande riqueza em recursos naturais. Se Chávez não tivesse destruído sua economia aumentando o papel do governo até o socialismo extremo, o país seria muito próspero”, opinou o sul-africano, na semana passada, na rede X. “A prosperidade está prestes a chegar à Argentina”, publicou, assim que Javier Milei venceu as eleições. “Temos que conversar, Elon”, respondeu Milei, no X.
Em publicação no Facebook, o professor de Ciências Políticas, Luis Felipe Miguel, responsável pela inauguração do curso sobre o Golpe de 2016, ministrado inicialmente na Universidade de Brasília (UnB), traçou um perfil do bilionário sul-africano. De acordo com Miguel, o empresário se singulariza por seu jeito destemperado e modos de criança mimada.
”Participa de reuniões de negócios intoxicado, responde tuítes com emoji de cocô, é adepto de bravatas, traumatiza seus filhos ao batizá-los de forma bizarra (“X Æ A-12”, “Exa Dark Sideræl”, “Techno Mechanicus Tau”). Mas Mark Zuckerberg e Larry Page, para citar apenas dois exemplos, são igualmente predatórios e danosos à democracia”, detalhou.
Da Redação, com informações de O Globo, Estadão, Folha, Poder360 e Brasil de Fato
Com informações do PT Org
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