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Ex-juiz suspeito não conseguiu explicar nada e só se complicou

Isolado, escanteado por seus pares e sem nenhum apoio relevante no mundo político, Moro teve que se valer do socorro do decadente MBL (Movimento Brasil Livre) para prestar contas do seu contrato com a Alvarez & Marsal. Como esperado, praticou na cadeira digital do grupo o usual da casa: mentiu.

Para dar solidez à prestação de contas ao público, o ex-superministro de Bolsonaro divulgou um dossiê com 25 páginas, das quais, as 20 finais são a cópia da representação apresentada pelo Ministério Público de Contas da União ao Tribunal de Contas da União para apurar “prejuízos ocasionados aos cofres públicos pelas operações supostamente ilegais dos membros da Lava Jato de Curitiba e do ex-juiz Sergio Moro”. Portanto, do alto de sua habitual arrogância travestida de autoconfiança, o candidato ao Planalto usou apenas 5 páginas para provar a sua inocência.

Das 5 com informações geradas pelo próprio Moro, 4 delas contém erros e/ou fraudes grosseiras.

Analisarei as 4 páginas em 4 matérias.

Hoje vou analisar a 1a, que contém 2 holerites supostamente gerados pelo escritório da Alvarez & Marsal de Washington, na segunda fase da relação entre eles, quando Moro foi rebaixado de sócio-diretor para o cargo de consultor, expatriado para supostamente trabalhar nos EUA.

Erro (ou fraude) 1: Mesmo período de tempo em ambas os holerites

Durante a live o ex-superministro de Bolsonaro disse que recebia em torno de US$ 45mil por mês; isso pode ser verificado nos 2 holerites apresentados, cada um no valor de US$ 22.916,27, totalizando US$ 45.883,34.

O valor está correto. O que não está é que ambos os holerites apresentam a mesma data de início do período trabalhado, 16/06/2021, e a mesma data de fim, 30/06/2021. De acordo com os comprovantes, o ex-juiz faturou quase US$ 46mil por apenas 15 dias de trabalho.

Pode ser apenas um erro de lançamento das planilhas de horas supostamente trabalhadas, mas nesse caso, a A&M poderá terá incorrido em vários outros erros, como o recolhimento do OASDI (similar ao INSS), Medicare (serviço de saúde), Federal Withholding (retenção de impostos federais) e StateTax – MD (Taxas cobradas pelo Estado de Maryland). Todos esses são feitos diretamente no contracheque mensal.

Não é razoável que uma empresa de consultoria, com mais de 4.000 funcionários no mundo todo, cometa um erro trivial como esse, afinal, se erraram para o Moro, podem também errar para os outros .

Erro (ou fraude) 2: Uma hora tem mesmo sessenta minutos?

Depende.

No SIM (Sistema Internacional de Medidas), adotado por todas as nações do mundo, 1 hora tem 60 minutos.

No SMHM (Sistema de Medidas do Holerite do Moro) isso não está claro. O que é possível inferir é que 1 hora pode ter, pelo menos, até 67 minutos. É o que está impresso num dos holerites apresentados, onde o ex-juiz afirma ter trabalhado 86.67 (86 horas e 67 minutos). Se for possível converter do SMHM para o SIM, Moro supostamente trabalhou 87 horas e 7 minutos. Mas tenho dúvidas se a conversão é possível.

Mais uma vez pode ter sido apenas um erro de lançamento do operador do sistema de holerites da A&M e, como o sistema foi mal configurado, acatou a hora de 67 minutos.

Erro (ou fraude) 3: O erro mais significativo

O erro mais importante, mas difícil de ser percebido, é o critério de arredondamento decimal que o sistema de holerites da A&M usa. É um critério volátil, que muda de holerite a holerite.

O ex-superministro de Bolsonaro apresentou 2 comprovantes e, ambos, mostram que Moro recebia da A&M US$ 264,43 por hora trabalhada. O primeiro aponta que o ex-juiz supostamente trabalhou 86,67 e faturou US$ 22.916,67 por isso.

Calculando o valor real usando o SMHM, temos que 86,67 X US$ 264,43 = US$ 22.918,14

Calculando usando o SIM, temos que 87,07 X US$ 264,43 = US$ 23.023,92.

Ambos os cálculos diferem do valor apurado no holerite, que é US$ 22.916,67.

Para entender como o sistema calculou , o melhor método é fazer a conta ao contrário. Como o único valor fixo conhecido no cálculo é o pago pela hora trabalhada (US$ 264,43) e tomando como variável a ser encontrada, o tempo trabalhado, basta dividir o valor total recebido por Moro, pelo valor pago por hora trabalhada.

Assim, US$ 22.916,67 / US$ 264,43 = 86.664410, e nesse caso, o sistema de holerites da A&M arredondou 86.664 para 86.67, o que é bastante razoável, ainda que o normal seria o arredondamento para 86.66

Aplicando o mesmo critério ao outro holerite, onde foi lançado o período de 1 mês – apesar das datas apontarem para uma quinzena apenas, temos que 173,34 X US$ 264,43 = US$ 45.836,29 Mais uma vez o cálculo direto difere do valor apurado no holerite, que é US$ 45.883,34.

Aplicando o mesmo critério de cálculo da variável horas trabalhadas, adotado anteriormente, temos que US$ 45.883,34 / US$ 264,43 = 173.517906 e, nesse caso, o sistema de holerites da A&M informava 173,34, ou seja, aconteceu um arredondamento de 17 minutos a superior.

Por que toda essa volta, um tanto quanto confusa?

Para mostrar que ou o sistema usado no cálculo do primeiro holerite não pode ser o mesmo sistema usado para calcular o segundo, pois os arredondamentos são muito díspares entre eles, ou então, o valor a ser recebido (US$ 45.883,34 em 2 parcelas quinzenais de US$ 22.916,67) já estava pré-definido, e não passava pela equação horas trabalhadas X valor da hora. Nesse caso, não haveria necessidade de apontamento de horas, tudo já estaria definido a priori e o consultor sequer precisaria trabalhar, o que é a tese corrente mais aceita pelos observadores desse fenomenal contrato de trabalho.

Isso é grave e, nesse caso, a A&M deve explicações aos seus acionistas e o ex-superministro de Bolsonaro aos cidadãos brasileiros.

Erro ou fraude: o estranho holerite de Moro. Por Constante Magro

Erro (ou fraude) 4: Solteiro ou casado?

E por último, mas não menos importante, em ambos os holerites o ex-juiz é apresentado como solteiro (single).

Isso é uma situação delicada, não só porque pode ter gerado algum desconforto no harmonioso lar dos Wolff Moro, mas porque o cálculo do valor a ser retido pelo governo federal é, em grande medida, dependente do estado civil.

Nos EUA, em todo novo emprego, é solicitado ao empregado que ele preencha um formulário W-4, também conhecido como Certificado de Retenção de Funcionário (no caso de Moro, a depender de sua condição de cidadania perante os EUA, ele pode ter preenchido o formulário 1040NR, que se aplica a estrangeiros sem greencard). Com as informações fornecidas o empregador calculará quanto será retido do contracheque para cobrir os impostos federais. A primeira seção de ambos os formulários solicita o estado civil (solteiro, casado, viúvo ou vive com alguém) pois essa informação compõe a base de cálculo para as retenções. Solteiros são taxados em percentual maior que os casados e, no caso específico de Moro, por descuido ou por puro patriotismo decidiu pagar mais impostos aos EUA que o devido, afinal foi ele mesmo quem preencheu o formulário.

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