Temos uma mulher em um ministério do governo Temer – composto, por algum tempo, por homens brancos e velhos.
Mas no Brasil atual, até as notícias que parecem boas são ruins: a mulher em questão se chama Cristiane Brasil e assumiu o Ministério do Trabalho indicada pelo papai, Roberto Jefferson.
Roberto foi condenado por corrupção – ter sido condenado parece ser um requisito para fazer parte do governo Temer – e a própria Cristiane foi condenada ao pagamento de 60 mil reais por dívidas trabalhistas – (não costumava assinar a carteira de trabalho de seus motoristas particulares) -, razão pela qual sua posse como ministra foi liminarmente suspensa por uma decisão em recurso apresentado junto ao Tribunal Regional do Trabalho.
O argumento é a (óbvia) ausência de moralidade administrativa – um dos princípios constitucionais mais importantes do funcionalismo público – na conduta de Cristiane.
Mas em um país sem democracia, você sabe, ninguém se importa com Princípios Constitucionais, tampouco com moralidade.
A Advocacia Geral da União, que deveria ser a segunda a defender a Constituição Federal – os primeiros deveriam ser os Ministros do STF, que, em vez disso, corroboraram com um golpe parlamentar – recorreu à decisão de suspensão mais do que rapidamente.
“Quem tem amigos com costas quentes, tem tudo”, quase posso ouvir comentarem pai e filha no café da manhã, certos de que a Constituição Federal não impedirá a posse de uma condenada por dívidas trabalhistas no Ministério do Trabalho, porquanto não impediu que uma presidente isenta de crime de responsabilidade sofresse impeachment.
“Mas o que é um peido pra quem tá todo cagado?”, diria o meu pai, muito brasileiro.
Que mal há, no país do desmantelamento dos direitos trabalhistas, que um condenado indique outra condenada para o Ministério do Trabalho?
Quem ornaria com um governo ilegítimo e inimigo do trabalhador?
Uma condenada por dívidas trabalhistas indicada por um condenado por corrupção que por acaso é o seu pai, é claro.
Mas ainda não terminamos por hoje.
Caso a deputada assuma o Ministério do Trabalho – e quem duvida que, cedo ou tarde, assumirá? – seu lugar na Câmara será assumido por seu suplente, Nelson Nahim, preso em junho de 2016 sob acusação de fazer parte de uma rede de pedófilos.
O ilibado suplente é irmão do também ilibadíssimo Anthony Garotinho – tá tudo em casa.
Parece piada, mas o riso do brasileiro é de desespero.
Não temos um governo, temos uma quadrilha – com o STF, com a AGU, com tudo.