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Além de desafiar Tarcísio, a ousadia dos trabalhadores do Metrô, CPTM e Sabesp aponta novos rumos para o país

Por mais que tenha sido o resultado de meses de ações e articulações preparatórias, a greve unificada de metroviários, trabalhadores ferroviários da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM) e dos funcionários da companhia de águas e esgotos Sabesp, realizada na terça-feira passada (3), representou uma ocasião venturosa para quem acompanha a luta social no país. 

É alvissareira a existência de um movimento amplo de combate à rapina de empresas estatais, patrimônio de excelência construído pelo esforço de gerações de contribuintes para a oferta de melhores serviços à população. 

Os funcionários destas empresas resolveram em conjunto deixar clara sua repulsa ao desmonte contínuo a que elas vêm sendo submetidas pela terceirização de áreas inteiras, num processo cujo objetivo é explícito: a simples entrega das companhias como um todo a grupos privados.

Não é o outro o objetivo do governador bolsonarista de São Paulo, Tarcísio de Freitas, que busca se legitimar como agente confiável na defesa dos interesses do capital privado em sua contínua ambição de domínio da máquina do Estado.

Pela qualidade dos serviços que prestam, Metrô, Sabesp e CPTM são empresas que gozam, em geral, de boa imagem. São ativos públicos que, embora sempre demandem melhorias, em especial nos preços das tarifas e na expansão de suas redes para contingentes mais carentes da população, constituem referências de qualidade na prestação e gestão de serviços públicos. 

Com o movimento grevista, os trabalhadores das três empresas inseriram suas vozes contrárias às privatizações, rompendo o coro de aparente consenso que se queria criar para naturalizar o tema. Quando o fizeram, expressaram também a opinião de usuários e população em geral, majoritariamente contrários a privatizações, segundo todas as pesquisas. 

As privatizações, na maioria das vezes, acabam resultando em deterioração dos serviços e aumento explosivo das tarifas. Para não falar do beneficiamento a grupos privados, como a Via Mobilidade. Esta operadora de linhas privatizadas  do Metrô, associação entre o  monopólio que domina os ônibus urbanos de São Paulo e o capital financeiro, já recebeu do Estado transferências de R$ 400 milhões, sem que à companhia pública do Metrô tenha sido destinado sequer um centavo. 

No governo, Tarcísio de Freitas tem a tarefa de transferir um imenso patrimônio público para seus padrinhos privados. Foram os seguidos ataques do governador que suscitaram greve, numa reação defensiva dos trabalhadores.

Não chega a surpreender que as intenções privatistas do candidato de Bolsonaro às eleições de 2026 tenham recebido apoio unânime da mídia hegemônica, o que ficou evidente na cobertura unilateral da TV Globo e em editoriais monocórdios da Folha e do Estadão.

Essa mídia se recusa a reconhecer a legalidade das bandeiras e da ação paredista, mesmo que o direito de greve esteja expressamente abrigado pelo artigo 9⁰ da Constituição de 88. São veículos militantes do neoliberalismo mais selvagem, que recusam cidadania a grevistas e suas entidades, o que contrasta com a maneira relativamente mais serena como paralisações, às vezes muito mais extensas, são tratadas quando ocorrem em outros países. Esta é uma marca da sanha do capital em relação aos trabalhadores no Brasil. 

Do mesmo modo, o Tribunal Regional do Trabalho impôs limites draconianos à greve, sob pena de multas astronômicas às entidades e suas lideranças. Trata-se de uma ameaça que equivale à supressão do direito de greve, usado agora pelos trabalhadores como último recurso diante da total falta de diálogo com o governo estadual e do rolo compressor da usurpação privatista.

Nesse contexto, a greve das três empresas aponta também para um  revigoramento do movimento sindical em novas bases, após anos de esvaziamento e cerco.

Para alcançar estágios desenvolvidos, nenhuma economia moderna pôde prescindir do concurso de capitais, empresas e conglomerados públicos, que devem sim ser reforçados como integrantes essenciais, junto de investimentos privados, de uma estratégia de construção de um país soberano. Não há exceções a esta regra histórica, assim como não há razões para liquidar estatais de excelência, estimadas por usuários e pela população em geral. 

Ao expor o jogo do governador e lançar luz sobre esses temas, a arrojada greve dos metroviários, da CPTM e da Sabesp foi exemplar, sugerindo outros desdobramentos.

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