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Lula reclamou que as Forças Armadas usurparam o 7 de setembro. Ainda assim, a programação de hoje é a velha e tediosa parada militar.

É o governo em seu permanente esforço para apaziguar os fardados, não importa o quão golpistas, incompetentes e corruptos eles se mostrem.

De todo modo, é um alívio que a gente não tenha um autogolpe como desfecho possível das comemorações do dia da independência.

Há alguns anos, escrevi um pequeno texto perguntando o que me fazia me sentir brasileiro.

Concluí que era o imenso sentimento de vergonha. A vergonha de ser governado por um fascista grosseiro e inepto.

A vergonha de ser concidadão de milhões de pessoas que são tão estúpidas e tão cruéis que aceitam ser cúmplices disso.

A vergonha de ser de um país que, quando viu que havia o risco de se tornar um pouco melhor, fez de tudo para destruir essa possibilidade e mergulhar de volta na violência, na exclusão, no preconceito, no atraso mais abjeto.

Terminava dizendo que “não é a famosa ‘vergonha alheia’. É vergonha própria, vergonha de saber que sou parte disso, porque, afinal, sou brasileiro”.

Melhoramos. Ainda há muito para fazer, mas derrotamos a barbárie e recuperamos a esperança de construir um país menos injusto e menos violento. (O fato da comemoração da nossa data nacional ser no dia seguinte àquele em que André Fufuca substituiu Ana Moser não ajuda, mas tudo bem…)

Mas permanece a questão: o que nos gera esse sentimento de identidade nacional?

É comum que a resposta seja hiperbólica: a “ancestralidade”, o “sangue”. Para Ernest Renan, a nação era um “princípio espiritual” que unia passado, presente e futuro.

Mais comedido, Benedict Anderson cunhou a definição que hoje impera nas ciências sociais: a nação é uma comunidade imaginada.

“[A nação] é imaginada porque mesmo os membros da mais minúscula das nações jamais conhecerão, encontrarão, ou sequer ouvirão falar da maioria de seus companheiros, embora todos tenham em mente a imagem viva da comunhão entre eles.”

Isso não tem nada a ver com o patriotismo convencional que, como celebremente disse Samuel Johnson, é o último refúgio dos canalhas. (Embora, hoje, o grande refúgio dos canalhas pareça ser a família. Mas isso é outra conversa.)

Não tem a ver com torcer pela CBF, ostentar a antiestética bandeira verde-e-amarela, gostar de carnaval, acreditar em Deus, fantasiar que meus compatriotas têm alguma qualidade especial ou valem mais que os cidadãos de outros países.

É o sentimento de que, por mais que eu possa me afastar, meu destino estará sempre ligado ao deles.

E, claro, o orgulho inquebrantável de ter nascido no país que deu ao mundo a paçoca.

*Luis Felipe Miguel 

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