O sociólogo mineiro Rudá Ricci postou hoje (08/07) no twitter @rudaricci uma ótima avaliação sobre o enfrentamento do bolsonarismo a partir da prisão do ex-diretor do Ministério da Saúde, Roberto Dias Ferreira, ontem na CPI da Pandemia.
Rudá elenca 16 pontos. Segue a íntegra dos tuítes. Sugestão da doutora Ana Maria Costa.
Farei um fio sobre o que considero ser mais uma mudança de patamar no enfrentamento do bolsonarismo a partir da prisão de Roberto Dias.
1) Primeiro, gostaria de destacar que este é mais um dos acontecimentos que vêm despertando grande disputa interpretativa. Há setores que procuram jogar sombras e temores sobre o primeiro feito mais ofensivo da CPI contra as máfias que tomaram o Ministério da Saúde.
2) Segundo artigo de Cristina Serra, há duas máfias instaladas por lá. Uma facção que envolvia militares e cujo membro mais importante era o coronel Elcio Franco, ex-secretário-executivo e hoje abrigado – e protegido – em um gabinete no Palácio do Planalto.
3) Dessa facção, sustenta Cristina, fizeram parte (ou fazem) o cabo PM Dominguetti, um reverendo, um ex-militar da Aeronáutica nos EUA e outras figuras bizarras.
4) A outra facção, ainda segundo o artigo, é comandada por prepostos de Ricardo Barros e que estão em funções estratégicas ali desde que ele foi ministro da Saúde de Temer. Roberto Dias é um desses prepostos, plantado ali por Abelardo Lupion (coisa antiga, que vem lá do Paraná).
5) Pois bem, ontem, a prisão de Roberto Dias deu visibilidade ao que Cristina Serra sugere ser uma das máfias instaladas na saúde. Em meio a esta primeira ofensiva real da CPI, o presidente Omar Aziz citou a “banda podre” militar que estaria enredada nesta história.
6) Evidentemente que as FFAA reagiram. Afinal, trata-se de uma corporação poderosa e orgulhosa. Se tivessem embebidas em cultura democrática, afirmariam que a maioria é correta e instalariam um inquérito militar contra os envolvidos. Mas, sabemos, a democracia não é o seu forte.
7) Aziz, surpreendentemente, reagiu muito bem à nota das FFAA. E cobrou uma postura mais altiva do presidente do Senado. Disse que a nota dos militares era intimidatória e desproporcional à sua constatação sobre a “parte podre” dos militares.
8) A sequência de acontecimentos despejou adrenalina no meio político e nas redes sociais. Uns acreditam que Aziz fez o certo. Outros, além de ter feito o certo, acreditam que todas entidades democráticas precisam peitar a nota das FFAA. E há os que acham que a CPI se perdeu.
9) Vamos debulhar o milho. Aziz não errou. O que disse está à altura do que a CPI apurou. O fato é que o país está mergulhado em tal trauma e clima de terror que falar verdade e ter altivez fica parecendo confronto. Se for assim, melhor abdicar da cidadania. Não houve insulto.
11) Nosso tema, agora, não é este, mas a desmontagem do governo Bolsonaro e do bolsonarismo. Estamos num processo de retorno da autoestima oposicionista para a construção de uma agenda programática democrática. Considero que estamos na passagem do emocional para o programático.
12) Minha suposição é que estamos nos fortalecendo. Estamos em processo: do emocional para o programa; do programa para a constituição de uma direção política para o enfrentamento nítido das forças de direita e extrema-direita.
13) O que não dá é para pisarmos nas cascas de banana que apavorados e espertalhões começaram a jogar desde ontem. Os apavorados dizem que Aziz provocou. Os espertalhões afirmam que a prisão decretada foi um tiro pela culatra. Nem um, nem outro.
14) Altivez, foco e determinação. Mais razão e estratégia. Esses são os ingredientes do momento. Já deu para os “Cavaleiros do Apocalipse”. Já vaticinaram golpe militar e suspensão de eleições. Nada disso ocorreu. Mas, esse tipo de derrotismo continua vicejando por aí.
15) E, também, temos que fugir dos espertalhões. Eles se aproveitam do derrotismo que acomete parte dos setores progressistas para plantar o pânico. Justamente agora que retomamos a ofensiva, as ruas e viramos o jogo da intenção de voto.
16) Então, o momento é de manter a ofensiva e calcular os riscos (que sempre há). É o momento da inteligência politica e de valorização das 600 entidades que lideram as manifestações de rua. Sujeito, agora, é coletivo. Nada de colunista celebridade ou blog do pânico.
*Rudá Ricci é sociólogo, trabalha com educação e gestão participativa. Preside o Instituto Cultiva, em BH.
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