Rogério Caboclo foi afastado por 30 dias do cargo de presidente da CBF, um foco de corrupção que sobrevive desde que João Havelange se juntou à ditadura militar para alcançar a presidência da FIFA, com a ajuda de Pelé.
Pelé recebeu em troca ajuda financeira da ditadura e Havelange colocou seus apaniguados para dirigir a CBF, a começar do genro Ricardo Teixeira.
Tudo isso é narrado detalhadamente no livro O Lado do Sujo do Futebol, do diretor da CNN Leandro Cipoloni, dos jornalistas investigativos Tony Chastinet, Amaury Ribeiro Jr. e do criador do Viomundo, Luiz Carlos Azenha.
Quando a ditadura argentina decidiu organizar a Copa em seu país, com o objetivo de se perpetuar no poder, foi Havelange quem intermediou junto à TV Globo para que a emissora gerasse o sinal do torneio em cores.
Assim como ditador Emilio Garrastazu Médici fez em 1970, quando o Brasil foi campeão e ele usou a propaganda para encobrir a tortura que acontecia nos porões do regime, os ditadores argentinos também tiraram proveito da vitória roubada da Argentina em 1978.
Médici ia ao Maracanã como qualquer outro torcedor, de radinho de pilha colado ao ouvido, para dar uma de general popular. Jair Bolsonaro fez o mesmo desde o início de seu mandato, posando com as camisetas de centenas de times de todo o Brasil em suas lives.
Quando o Brasil ganhou a Copa América, o presidente celebrou dentro de campo e carregou a taça. Fez o mesmo com o Palmeiras e compareceu a jogos de times populares, como o Flamengo — inclusive com o ex-ministro Sergio Moro.
Agora, Bolsonaro prometeu à Conmebol, outro alvo das investigações do Fifagate nos Estados Unidos — que a Copa América será disputada no Brasil a qualquer custo.
O técnico Tite e os jogadores aparentemente não querem e vão se manifestar publicamente sobre o assunto depois do jogo das eliminatórias da Copa do Qatar marcada para terça-feira, contra o Paraguai.
O Qatar obteve a oportunidade de sediar a Copa sob suspeita de pagar propina a dirigentes de vários paises do mundo.
Antes de deixar o cargo, Caboclo prometeu a Bolsonaro que trocaria o técnico Tite por Renato Gaúcho, como forma de abafar o motim futebolístico.
Caboclo é acusado de assediar uma funcionária que promoveu de secretária a integrante do cerimonial da CBF. A mulher formalizou denúncia contra Caboclo junto à (sic) Comissão de Ética da entidade.
Dentre outras coisas, a mulher disse que escondia bebidas alcoólicas em lugares-chave da sede da CBF para que Caboclo pudesse se embriagar durante o expediente.
A Associação Argentina de Futebol (AFA), também envolvida em denúncias do Fifagate, tentou minar o motim dos jogadores anunciando que a seleção argentina virá ao Brasil para o campeonato.
Caboclo assumiu a direção da CBF por influência de Marco Polo Del Nero, o ex-presidente que não pode deixar o Brasil por ter sido indiciado nos Estados Unidos pelo FBI por envolvimento no mar de lama do futebol.
Quem assume interinamente a presidência é o ex-servidor da Polícia Militar do Pará e da Força Aérea Brasileira, o coronel Antônio Carlos Nunes. Ele é o vice-presidente mais velho da entidade.
O coronel Nunes serviu ao ditador Médici (1969-1974) como comandante da PM em Santarém e, pelos bons serviços prestados tornou-se prefeito biônico (indicado, sem eleição) de sua cidade natal, Monte Alegre, no Pará.
Durante a ditadura, a PM foi encarregada de reprimir movimentos sociais, indígenas e deu apoio ao combate à guerrilha do Araguaia.
Médici comandou a frase mais brutal do regime criminoso.
Apesar disso tudo, Nunes requereu e obteve uma indenização retroativa de R$ 243.416,25 como anistiado político. Ele recebe quase R$ 15 mil mensais da FAB como “vítima de ato de exceção de motivação política”.
Os advogados de Nunes argumentaram que ele foi prejudicado em sua carreira por um ato da ditadura que teria dificultado sua ascensão profissional.
O ditador Médici trocou o técnico da seleção brasileira às vésperas da Copa de 1970, afastando o homem que montou o time, o jornalista comunista João Saldanha, e colocando Zagallo.
Bolsonaro, aparentemente, quer trocar Tite pelo bolsonarista Renato Gaúcho, para escalar a “sua” seleção.
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