Decisão proíbe operações policiais letais na pandemia; Supremo não pode aceitar a afronta
A operação policial tenebrosa que deixou 28 mortos na favela do Jacarezinho, no Rio de Janeiro, a mais letal da história no estado, desrespeitou decisões do STF.
Edson Fachin concedeu liminar em junho de 2020 para limitar, na pandemia, essas incursões, a não ser em casos “absolutamente excepcionais”, sob pena de responsabilização civil e criminal em caso de descumprimento da ordem.
“Trata-se um caso de ‘desrespeito chapado’! Resta agora saber se a parte da decisão em que o ministro diz ‘sob pena de responsabilização civil e criminal’ será também desrespeitada”, disse o jurista Lenio Streck ao Conjur.
“Com o que estará completado o quadro de explícita provocação! Resta também saber se o Ministério Público ainda controla a atividade da polícia. A ver! E se ficar comprovado que o governador autorizou ou ficou sabendo, é caso de impeachment”, declarou Lenio.
Não foi a única vez em que isso ocorreu.
Operações dessa natureza são corriqueiras no governo de Cláudio Castro, o substituto de Witzel que mantém a tradição assassina do “tiro na cabecinha”.
A matança abre espaço para as milícias. Por razões óbvias, esses ataques nunca ocorrem nas áres dominadas por milicianos.
Um dia antes, Bolsonaro esteve com Castro no Palácio Laranjeiras para tratar, oficialmente, de “investimentos em infraestrutura no estado e no país, neste ano e no próximo.”
O delegado Rodrigo Oliveira, que é subsecretário operacional da Polícia Civil, mostrou o quanto o bolsonarismo está entranhado na corporação.
Defendeu o banho de sangue e criticou o “ativismo judicial” e quem ousa afirmar, com razão, que aquilo não serve para nada em matéria de segurança pública.
“Pseudo entendidos de segurança pública criaram uma lógica de que, quanto mais inteligência, menor o confronto. Isso não funciona assim. Quanto mais precisa a informação, maior é a resistência do tráfico”, disse.
“A Polícia Civil não age na emoção. A operação foi muito planejada, com todos os protocolos e em cima de 10 meses de investigação.”
Imagine se não fosse planejada.
Os filhos do presidente ignoraram, evidentemente, os assassinados (um deles tinha ido comprar pão, segundo a mãe, e foi alvejado) e lamentaram a morte do inspetor André Leonardo de Mello Frias.
Segundo Flávio Bolsonaro, ele “tombou na honrada missão de defender nossa sociedade do crime organizado”.
As gangues virtuais seguem essa mesma senda do “bandido bom é bandido morto”.
Falam pelo chefe, claro. Enquanto isso, ele passeia de moto com Luciano Hang na garupa, defecando sobre 420 mil mortos de covid-19.
O Supremo vai se acoelhar?
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