No início desta semana a relação entre o Executivo e o Legislativo atingiu o ponto mais baixo deste jovem governo, as farpas trocadas entre Rodrigo Maia e Jair Bolsonaro foram acompanhadas de perto e com grande receio pelos investidores na bolsa que especulavam qual seria o impacto dessa crise na preocupação central de seus cálculos: a reforma da previdência. Diante disso, o que se seguiu foi um movimento de cerrar fileiras da burguesia em defesa da mãe de todas as reformas e pedra angular dos ataques contra a classe trabalhadora, os “fatores reais de poder” econômico-militares interviram na situação buscando estabilizá-la.
Enquanto nas alturas ainda primava o desgaste entre os poderes, nas massas continuava a predominar a passividade, fruto da ação consciente das centrais sindicais, sob a direçao petista, que ao invés de construírem o 22M em cada local de trabalho como o pontapé de um plano de lutas sério para barrar as reformas, mais uma vez engessaram a mobilização transformando a revolta da população contra a reforma em mais um ato formal dentro do controle dos sindicatos.
Ao invés de atuarem para golpear por baixo com a força da classe e tornar os trabalhadores sujeitos desse processo de desgaste prematuro do governo, alterando toda a correlação de forças para o prosseguimento da reforma, a aposta das centrais sindicais, CUT e CTB, foi deixar a crise se desenvolver nas instituições por fora da intervenção proletária.
A trégua das centrais, nesse caso o golpe de efeito no 22M, permitiu que a burguesia se reorganizasse e momentaneamente estancasse a celeuma entre os poderes. As pesquisas de popularidade apontam uma baixíssima aprovação do governo Bolsonaro e o crescimento de sua rejeição, demonstrando que não só nas alturas se desenvolve o desgaste. Entretanto, a estratégia das centrais de assistir o desenrolar da crise e torcer pela autodestruição do governo ilude a classe trabalhadora de que é possível que a reforma seja engavetada apenas pela inabilidade de articulação de Bolsonaro e seus asseclas incompetentes, deixando de capitalizar esse incipiente sentimento de rechaço das massas e travando a entrada em cena da classe trabalhadora com seus métodos e o desenvolvimento de suas forças nessa batalha.
Não podemos esperar que as crises palacianas enterrem a reforma da previdência, e a cúpula petista sabe disso, mas a aposta do partido é que irão contribuir para minar o projeto brutal apresentado por esse governo. O objetivo do PT nunca foi barrar em definitivo a reforma da previdência, mas aprovar um projeto mais dialogado, como manifesto por diversos parlamentares e líderes sindicais. Por isso a estratégia do partido é se apoiar no desgaste do governo e na sua contenção do movimento operário para permitir o avanço de uma versão mais mediada da reforma, desempenhando seu papel de conciliação de classes e recolocando-se para a burguesia como alternativa responsável. O cálculo petista é como capitalizar o desgaste do governo Bolsonaro para as eleições 2022, e não como barrar as reformas e fazer emergir um programa da classe trabalhadora que responda de fundo a crise capitalista.
Contra as ilusões alentadas pelo PT e sua política traidora levada a frente pelas centrais sindicais é necessário que os trabalhadores retomem em suas mãos os sindicatos e resgatem os métodos histórico de luta, que são as paralisações, as greves, as massivas manifestações de rua: a pressão da luta de classes é a única que pode barrar a reforma da previdência e fazer recuar a direita e o reacionarismo.
A tarefa imediata para os trabalhadores é batalhar em cada local de trabalho e dentro dos sindicatos e entidades estudantis pela construção efetiva de uma luta massiva contra a reforma da previdência. É preciso, junto às bases das categorias, convocar um plano de lutas que coloque fim à essa trégua com o governo.
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