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Da Redação

Lula encerrou a passagem por seu berço político, a sede do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo, com um ato público que tem o potencial de se transformar num pesadelo para seus carcereiros: se a intenção era humilhá-lo publicamente, as imagens e palavras que se viu ali carregam em si mensagens que podem ter eco duradouro.

Não por acaso, comentaristas em emissoras de rádio comerciais atacaram a suposta leniência da Polícia Federal, que teria permitido a Lula as horas necessárias para organizar sua saída temporária da cena política.

A homenagem a dona Marisa, embalada por músicas escolhidas pelo próprio Lula, a presença de milhares de apoiadores e aliados, dentro de uma cerimônia religiosa, e mais os pedidos de militantes para que Lula não se entregasse conferiram à cena um tom dramático e, por isso, politicamente marcante.

Lula aproveitou a ocasião — e a audiência extraordinária do momento, nos veículos tradicionais e nas redes sociais — para fazer gestos notáveis, como quando apontou seus sucessores geracionais, nas figuras dos candidatos ao Planalto do Psol, Guilherme Boulos e do PCdoB, Manuela. Deu concretude, portanto, a uma aliança eleitoral que no segundo turno seria essencial para qualquer candidato.

O ex-presidente desenvolveu um discurso coerente para os que acreditam ou estão incertos de sua culpa no processo a que foi condenado: vai preso para não concorrer ao Planalto e por ter feito coisas que desagradam à elite brasileira, como permitir aos negros o acesso a universidades ou aos pobres às viagens de avião.

Num momento de catarse coletivo, Lula falou especialmente aos militantes que ficarão encarregados de representá-lo enquanto o ex-presidente estiver preso em Curitiba.

Comentaristas políticos costumam subestimar Lula, em geral com resultados trágicos.

Duvidavam, por exemplo, que o ex-presidente seria capaz de eleger Fernando Haddad ou Dilma Rousseff, o que ele conseguiu fazer.

Porém, é óbvio que a conjuntura se transformou tremendamente desde que Dilma foi apeada do poder por um golpe jurídico-midiático-parlamentar.

Como resultado do desgaste natural do poder e da sucessão de erros cometidos aos longo de 13 anos no Planalto, mais os escândalos do mensalão e da Lava Jato — que mantiveram o partido continuamente na defensiva e sob ataque midiático — é um milagre que o PT continue sendo a legenda mais popular do Brasil, num quadro marcado hoje pelo desgosto, pela adesão à antipolítica e pela rejeição aos partidos.

Não se sabe quanto tempo Lula permanecerá preso. Isso vai depender, por exemplo, de uma decisão do Supremo Tribunal Federal quanto às Ações Diretas de Constitucionalidade (ADCs) que estão prontas para serem julgadas, depois de relatadas pelo ministro Marco Aurélio.

É pouco provável que a ministra Cármen Lúcia aceite pautá-las enquanto comandar o STF, especialmente depois da ameaça de golpe feita por militares da reserva com aparente anuência do comandante do Exército.

O ministro Dias Toffoli, que está entre os que votariam pela interpretação de que a prisão após condenação em segunda instância fere o princípio constitucional da presunção da inocência, assume o STF em setembro.

Se as ADCs forem aceitas, Lula seria um dos beneficiários da decisão.

Portanto, a depender do STF, é possível que Lula fique preso durante todo o período da campanha eleitoral.

Mesmo que tenha sua candidatura registrada em agosto, como o PT diz que será feito, a ausência física do ex-presidente terá impacto no futuro eleitoral mais imediato do PT, em 2018.

Na incerteza, os eleitores que não são do núcleo duro lulista poderão migrar para outros candidatos.

Lula sabe que, num quadro em que não pode se defender, enfrentará um adversário temível dentro da casa de cada um dos brasileiros: a TV Globo.

Com o processo do sítio de Atibaia em andamento, é provável que Moro desfira um segundo golpe contra Lula bem no meio da campanha eleitoral, na forma de uma segunda condenação.

Por isso, Lula e o PT vão depender imensamente da capacidade do ex-presidente de se comunicar com os eleitores mesmo preso — e do poder de mobilização e convencimento da militância muito além das fronteiras das redes sociais.

É um quadro dificílimo para Lula e o PT, talvez o maior desafio já enfrentado por ambos desde a fundação do partido, em 10 de fevereiro de 1980.

Hoje, em São Bernardo, Lula ensinou mais uma vez como transformar um limão que lhe foi atirado numa limonada. Preso, conseguirá fazer o mesmo?