Em sua coluna no Valor, Angela Bittencourt registra o momento de sinceridade de um “analista de mercado” que faz questão de conservar o anonimato para dizer o que todos eles pensam. Ela explica:
Comemoração antecipada dá azar. Essa crença é forte no Brasil, onde o mercado financeiro já está em contagem regressiva para 2018. Desta vez, Iemanjá não participa. O marcador do ano, que chega em dezesseis dias, em 24 de janeiro, é o julgamento do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva pelo Tribunal Regional da 4ª Região (TRF-4).
– O julgamento de Lula é hoje o evento nacional mais relevante para o mercado. Em seguida vem o placar da decisão, porque ela nos dará a probabilidade de Lula ser ou não candidato a presidente.
Vejam que a “turma da bufunfa” não quer apenas a condenação, quer os “3 a 0” que “lacrem” as possibilidades de que haja discussão sobre o direito do ex-presidente ser ou não candidato.
Estão, portanto, nas mãos dos três senhores vetustos – um deles até que nem tanto, pois adora um lobby com a imprensa – os deliciosos lucros que ainda esperam recolher do Brasil, ao menos por enquanto, porque sabem que pouca razão há, estruturalmente, para os fogos de artifício com que celebram a “retomada” da economia.
Deles, espera-se o papel de deixar a vaquinha bem amarrada, para que suguem em suas tetas sempre mais e mais.
Não se está, é obvio, sugerindo que haja suborno. A presença do mundo do dinheiro, entre os interessados na causa é muito mais pesada que isso. É um julgador saber que o mundo dos ricos e a mídia desabarão sobre si, caso ouse dissentir do “deus-mercado”.
Não há julgamento justo por uma trinca de homens num caso como este.
Todo o processo judicial foi construído com mais convicções do que provas, amparado em declarações sem fatos, desprovido de documentos e atos que comprovassem a propriedade do apartamento que o ex-presidente teria “recebido”, sem nada que o comprove. Mas o processo político que ele define é muito mais claro e objetivo: a interdição de Lula é uma sentença que aos grandes beneficia e a milhões pune.
O julgamento de Lula deve ser feito nas urnas, porque é nelas que se faz o julgamento político. Que é, afinal, o que se dará mo dia 24, usurpando-o do juiz que deveria fazê-lo: o povo brasileiro.
POR FERNANDO BRITO