Os números são animadores. No Distrito Federal, as médias móveis de novos casos de covid-19 estão em queda. No Brasil, nesse 3 de novembro, foi registrado o menor número de vítimas fatais da doença: 164 pessoas. Não que esses sejam números irrelevantes. Quando se trata de vidas, qualquer número importa. Entretanto, há de se convir que o cenário de agora é bem mais otimista que aquele com 4 mil mortes diárias.
Mas a realidade é que a pandemia da covid-19, infelizmente, não acabou, e todo cuidado é pouco. O cenário internacional está aí para comprovar.
Na Europa, o ritmo da transmissão do vírus nos 53 países que compõem o continente traz uma “preocupação grave”, nas palavras do chefe regional da Organização Mundial de Saúde (OMS), Hans Kluge. Ele comentou que, se a Europa seguir a atual trajetória, mais meio milhão de pessoas poderão perder a vida até fevereiro do próximo ano – cerca de três meses. Só na Alemanha, por exemplo, foram registrados 33.949 casos em apenas 24 horas, um recorde desde o início da pandemia. Em uma semana, em todo o continente, dobraram os casos de internação por complicações pela doença.
A China também luta para conter um novo surto de covid-19, iniciado há cerca de três semanas. O governo chinês chegou a emitir alerta para que a população estocasse suprimento. E o cenário foi imposto mesmo com a política de tolerância zero mantida pelo país, com testagens em massa, lockdown e outras medidas de contenção do vírus.
Para a OMS, o aumento dos casos relacionados à covid-19 em países que já haviam apresentado números muito melhores se dá tanto pela insuficiência no quantitativo de vacinação como pela flexibilização das medidas de segurança sanitária.
E é aí que entra o Brasil.
Por aqui, governos locais já liberaram o uso obrigatório de máscara em locais abertos; aglomerações são vistas em bares e restaurantes, e até as escolas públicas de alguns estados já funcionam com o quantitativo total de estudantes, mesmo sem as condições mínimas para manter medidas como o distanciamento, essencial para a contenção da proliferação do coronavírus.
A insistência em uma normalidade que não existe faz questionar o valor da vida para governos que, sem qualquer tipo de pudor, tomam medidas no mínimo precipitadas em plena pandemia.
Em que se ampara tamanha inconsequência? Seria algo completamente programado ou um jogo de azar com um país que já está arrasado? Talvez a resposta esteja na cruel dicotomia entre economia e vida, decretada pelo governo federal e seguida por apoiadores políticos.
Infelizmente a pandemia e suas graves consequências ainda são realidade. Com esforços que partiram mais da própria população do que de governos, demos um grande salto, impulsionado pelo avanço da (tardia) campanha de vacinação, associado às medidas de segurança sanitária.
Um resultado que traz felicidade em meio à tristeza trazida com a perda de mais de 600 mil vidas, 14 milhões de desempregados, 20 milhões de pessoas com fome. Mas também um resultado que ainda está longe de permitir que abandonemos tudo aquilo que foi determinante para que, hoje, estejamos vivos.
Que possamos tomar como exemplo o que vem acontecendo mundo afora quando o tema é covid-19. A presença das variantes mais agressivas, principalmente a Delta, mostra que a atenção e os cuidados ainda são necessários para que não choremos mais meio milhão de mortes evitáveis.
Sem o real compromisso do governo com a vida, cabe a nós darmos continuidade a uma jornada que traga esperança. Não que devamos aceitar a imobilidade diante de um cenário que ainda é grave.
Devemos sim continuar cobrando o avanço da vacinação, a testagem em massa, uma campanha ampla de esclarecimento sobre os cuidados necessários para conter a proliferação da covid-19. Mas é essencial que mantenhamos a compreensão de que, em um Brasil relegado à própria sorte, é a atitude consciente de um povo que pode fazer a diferença.
Vacine-se, use máscara, evite aglomerações. Cuide-se! Em respeito aos que se foram, ao luto dos que ficaram e à vida de quem teve a sorte de preservá-la.
A pandemia ainda não acabou, e não é “só uma gripezinha”.
Fonte: SINPRO-DF
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