Após recepcionar os brasileiros, o presidente Lula voltou a condenar a violência do governo de Israel, “que levou à morte de milhares de inocentes, incluindo mulheres e crianças, tanto na Palestina quanto agora no Líbano”
O abraço emocionado do presidente Lula e um dos brasileiros repatriados do Líbano, em São Paulo
“Até que enfim vão parar os sons de bombas”. A declaração de Karla Araújo Cardoso vem acompanhada de um olhar que conjuga o sentimento de deixar para trás uma história construída por sete anos longe do Brasil e a felicidade de sair da zona de guerra no Líbano. O KC-30 do Governo Federal pousou às 10h25 deste domingo (6), na Base Aérea de Guarulhos, em São Paulo, com 228 passageiros, entre brasileiros e familiares, e três animais domésticos, trazidos de volta ao Brasil.
O brasileiros foram recepcionados pelo presidente Lula, que lhes deu as boas-vindas, e por uma equipe multidisciplinar. “Espero que vocês encontrem no Brasil a felicidade que tiraram de vocês com esse bombardeio. E que a gente possa reconstruir a nossa vida em paz aqui no Brasil. Vocês sabem que o Brasil tem por volta de oito ou nove milhões de árabes e descendentes, a maioria libaneses. Somos agradecidos, porque vocês ajudaram a construir a cidade de São Paulo, o estado de São Paulo e o Brasil. Vocês têm muita responsabilidade por aquilo que somos”, ressaltou Lula aos repatriados.
“O Brasil é generoso. Não tem contencioso com nenhum país porque a gente não deseja guerra. A guerra só destrói. Quando não perde a vida, perde escola, hospital, médico, uma série de coisas que trazem tranquilidade para a gente. O que constrói é a paz”, completou o presidente.
Críticas ao massacre de inocentes
Lula também se pronunciou sobre o assunto por meio da rede social Bluesky, reforçando as críticas aos ataques das forças israelenses à Faixa de Gaza e ao Líbano, que já mataram dezenas de milhares de civis, incluindo mulheres e crianças. “O Brasil adotou uma posição firme contra os ataques do Hamas a Israel. Também condenamos os ataques do governo de Israel, que levou à morte de milhares de inocentes, incluindo mulheres e crianças, tanto na Palestina quanto agora no Líbano. É uma estratégia de Netanyahu para se manter no poder”, afirmou Lula, sobre o fato de o primeiro-ministro israelense usar as guerras para postergar julgamentos criminais e políticos em seu país.
A presidenta nacional do Partido dos Trabalhadores (PT), deputada federal Gleisi Hoffmann (PR), fez uma postagem na mesma rede social, comentando a repatriação dos brasileiros e também condenando a violência do governo de extrema direita de Israel. “Presidente Lula acaba de receber os primeiros brasileiros que deixaram o Líbano, vítimas do terrorista Netanyahu. Solidariedade e cuidado com nossos irmãos. É assim que atua um governo comprometido com os direitos e com a paz”, afirmou a parlamentar.
O desembarque em Guarulhos conclui a primeira escala da Operação Raízes do Cedro. “Estou indo para a minha casa”, resumiu Mariam Sadek. “Muito gratos ao governo brasileiro, que sempre está cuidando dos seus cidadãos”, afirmou, emocionada, Raghida Hammout. O voo priorizou mulheres, idosos e crianças, dez delas de colo. Um trabalho de articulação que envolve equipes do Ministério das Relações Exteriores em Brasília e na Embaixada do Brasil em Beirute e a ação operacional da Força Aérea Brasileira (FAB).
Nova missão começa neste domingo
Após o sucesso da repatriação do primeiro grupo de brasileiros, o comandante da Aeronáutica, Marcelo Kanitz Damasceno, revelou que a segunda missão tem início já neste domingo. “Essa aeronave (o KC-30 da FAB) agora decola de volta para Lisboa, trocando a tripulação, para que amanhã (7/10) possamos fazer o mesmo circuito e possamos, em 48 horas, trazer mais 230 pessoas. Temos de tentar colocar aqui na base aérea de São Paulo cerca de 500 pessoas por semana”. A comunidade brasileira no Líbano tem cerca de 20 mil pessoas. Três mil manifestaram interesse em retornar.
Confira a seguir mais imagens do desembarque dos repatriados em Guarulhos (Fotos: Ricardo Stuckert)
Esforço diplomático no Líbano
Na tarde do sábado, o ministro Mauro Vieira (Relações Exteriores) telefonou ao embaixador do Brasil no Líbano, Tarcísio Costa, para agradecer pelo trabalho do time libanês no diálogo com a comunidade brasileira, de cerca de 20 mil pessoas, e no planejamento e organização da repatriação. Cerca de três mil manifestaram interesse em voltar ao Brasil. Diplomatas e funcionários da área consular apoiam a confecção das listas e conferem documentações.
Tarcísio, inclusive, acompanhou os brasileiros até a entrada no avião em Beirute. “Gostaria de desejar a todos e a cada um de vocês uma feliz viagem ao nosso país. Que tenham um trajeto tranquilo”, desejou, usando o sistema de comunicação do KC-30 com os 228 embarcados.
O esforço foi notado por Sônia Luiza da Silva, uma das repatriadas. “Quero agradecer a todos que participaram direta e indiretamente para que esse voo pudesse acontecer, porque não foi fácil, exigiu muitos colaboradores”, disse. “Quero agradecer primeiro a Deus e depois ao nosso presidente. Ele tirou a gente da guerra. Estávamos debaixo da guerra”, completou Maria Hussein Hindi.
Receptivo
Na tripulação do KC-30 veio uma equipe multidisciplinar com três médicos, dois enfermeiros e dois psicólogos para garantir acolhimento e assistência. E, quando o KC 30 da FAB tocou a pista da Base Aérea de Guarulhos, os brasileiros já tinham à disposição um receptivo do Governo Federal. Um grupo de 35 profissionais ligados aos ministérios da Justiça e Segurança Pública, da Saúde, dos Direitos Humanos, das Relações Exteriores e do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome estava a postos.
Acolhimento
Servidores da Polícia Federal, da Anvisa e da Receita Federal foram designados para facilitar o processo de imigração. Para prestar atendimentos emergenciais e atualizar cadernos de vacinação, foram destacados 15 integrantes da Força Nacional do SUS.Todos foram treinados no acolhimento sobre questões éticas, culturais e como é o comportamento para receber repatriados do Líbano.
“Tem atendimento de urgência e emergência, de acolhimento, para ver os primeiros sinais e sintomas de algum agravo, de alguma doença crônica agudizada. E tem os primeiros cuidados psicológicos, fazer a abordagem para ver se o que eles estão sentindo está esperado dentro da normalidade, ou se é há alguma intervenção que precisamos fazer”, explicou Renato Oliveira Santos, ponto focal da missão de campo da Força Nacional do SUS. “É importante dizer que as equipes foram divididas entre homens e mulheres que falam português, árabe ou francês. São equipes mistas para a gente conseguir ter uma comunicação fluida”, completou Debora Noal, ponto focal de saúde mental e atenção psicossocial da Força Nacional do SUS.
Uma força-tarefa entre MRE e Justiça vai indicar locais de estadia e orientações sobre locomoção dentro do território nacional. O Ministério do Desenvolvimento Social escalou um time de assistentes sociais para casos em que a família não tenha mais vínculos definidos no Brasil. Se for necessário, a pasta atua numa política de abrigamento e avalia situações de vulnerabilidade para agilizar acesso ao Cadastro Único e a programas como o Bolsa Família.
Migrações
Além das equipes das frentes ministeriais, os repatriados terão acompanhamento da Organização Internacional para as Migrações (OIM), Agência da ONU para Migrações. A OIM, em conjunto com o MDS, fará entrevistas para avaliar necessidades de proteção e documentação.
Voltando em Paz
As ações de repatriação e recepção são similares às realizadas pelo Governo Federal em outubro de 2023, na Operação Voltando em Paz, que repatriou mais de 1.500 brasileiros e mais de 50 pets das zonas de conflito na Faixa de Gaza, na Cisjordânia e em Israel.
Pets
O Ministério da Agricultura e Pecuária manteve a flexibilização de regras para entrada de cães e gatos. As diretrizes facilitam o ingresso desses animais no Brasil. As unidades da Vigilância Agropecuária Internacional, em conjunto com a Coordenação de Trânsito e Integração Nacional de Cargas e Passageiros, passam a adotar protocolo especial para animais de estimação provenientes do Oriente Médio. O procedimento permite que tutores ingressem com os pets sem a apresentação imediata de documentos exigidos em condições normais.
Múltiplas funções
O KC-30 usado neste primeiro voo de repatriação é um avião com cerca de 240 lugares, autonomia para até 14.500 quilômetros e foi utilizado várias vezes nos voos humanitários de resgate de brasileiros na zonas de conflito em Israel e em Gaza desde o início da crise Oriente Médio. Com 59 metros de comprimento, é a maior aeronave operada pela FAB. Tem capacidade de uso em operações estratégicas, apoio logístico e missões humanitárias. Em casos de calamidade, como desastres naturais ou emergências médicas, também pode realizar missões de Evacuação Aeromédica para múltiplos pacientes.
Raízes do Cedro
A Operação Raízes do Cedro foi determinada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva a partir do acirramento do confronto entre Israel e o grupo Hezbollah, que atua no Líbano. A logística de repatriação envolve o uso de aeronaves e de servidores da Força Aérea Brasileira e um intenso trabalho de articulação do Itamaraty. O ministro Mauro Vieira mantém conversas frequentes com os chanceleres do Líbano e de países vizinhos com o objetivo de organizar o resgate com segurança.
Da Redação, com informações do Site do Planalto]
Com informações do PT Org
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