Em diversos espaços onde se discute os rumos do país, inclusive no âmbito acadêmico, há um louvável esforço dedicado à análise e busca de uma saída urgente que nos livre da tragédia a que fomos arrastados pelo neoliberalismo e seu matrimônio de papel passado com neofascismo.
Um esforço que deve ser saudado, sobretudo nesses tempos em que a regra é a renúncia ao pensamento, quando não o combate aberto a suas manifestações, e sua substituição por clichês, rótulos e imagens para fazer valer o ponto de vista de cada força envolvida na disputa.
O entusiasmo com que devemos receber tal esforço não deve obscurecer, no entanto, a necessidade do diálogo crítico com ele.
Armadilha
Alguém já levantou de forma muito oportuna e didática que uma parcela considerável dos empresários brasileiros rompeu com Bolsonaro, mas não rompeu com o ministro a economia, Paulo Guedes.
Essa consideração vale para outros liberais, empresários ou não, como os acadêmicos que puseram o pé nessa armadilha.
Quando tratamos de buscar saídas para o País não há como evitar a seguinte interpelação, que é muito simples: qual é o programa econômico, social e político, e o conjunto de valores culturais defendido pelos nem-Bolsonaro-nem-Lula empenhados em construir a miragem da terceira via?
Como assim, miragem?!
Não há aqui nenhuma postura impositiva. Trata-se da necessidade de seus proponentes responderem e indicarem o que será substantivamente diverso, do ponto de vista do programa que a chamada terceira via deseja para o Brasil, daquilo que já nos oferece o governo Bolsonaro.
Circo de horrores
Quando se olham no espelho e veem nele o riso abjeto de Bolsonaro, os liberais entram em pânico.
E tratam de realizar um laborioso exercício de racionalização do discurso para atribuir ao PT a emergência dessa figura caricata que hoje domina a cena política e envergonha o Brasil diante do mundo.
O PT e Lula sempre combateram os malabarismos e golpes de prestidigitação destinados a implantar o neoliberalismo e o neofascismo no Brasil.
Esse time de liberais falsifica sem cerimônias a história, por exemplo, quando se referem ao governo Dilma como “um fracasso”.
Não se conhece na história uma mandatária que tenha fracassado e sido reconduzida, como um prêmio, para um segundo mandato.
Golpe de 2016
É aceitável a crítica de que tenha cometido erros políticos na condução das relações com um parlamento francamente hostil.
Ou na condução da política econômica, quando nomeou Joaquim Levi para o Ministério da Fazenda, mas não se pode simplesmente apagar o fato de que Dilma tenha alcançado em alguns períodos índices de aceitação popular elevados.
Foi isso que mobilizou a vasta aliança conservadora para preparar o golpe de 2016 e evitar uma nova vitória das esquerdas no pleito de 2018.
O golpe de 2016 não foi uma “narrativa do PT”.
Foi um golpe de Estado político, midiático e judicial.
De tal modo escandaloso, ancorado nas supostas “pedaladas fiscais”, tão inconsistentes, que mesmo os golpistas se envergonharam de cassar os direitos políticos da presidenta que estavam impedindo…
Os liberais supostamente “isentos” encadeiam seus argumentos como se o PT se movesse sozinho na disputa.
O PT participou do jogo democrático, respeitou e aceitou suas regras. Portanto, não jogou sozinho. Elementar. E lidou com uma correlação de forças sociais, políticas e culturais volátil e nem sempre favorável ao longo dos quatro mandatos para os quais foi legitimamente e soberanamente eleito pela sociedade.
Oligarquias antinacionais e antipopulares
O PT sobreviveu a uma tentativa de aniquilamento promovida pelo conjunto de forças políticas e sociais que representa as oligarquias brasileiras aliadas a interesses internacionais, hoje nitidamente identificados, mesmo pela imprensa mais conservadora e comprometida com os objetivos do golpe.
A ambos – as oligarquias brasileiras e as grandes empresas internacionais da área de petróleo e gás e da construção civil – convinha o bloqueio, a interdição de uma proposta de desenvolvimento autônomo, com base nos interesses nacionais, conduzida com êxito por governos de esquerda, ainda que moderada.
Foi uma proposta reformista focada em responder às exigências mais imediatas e elementares em uma sociedade que se pretende civilizada: combater a fome, ampliar as oportunidades para garantir trabalho e renda, incluir a massa inumerável de pobres no orçamento público, investir em educação e oferecer um ponto de partida digno para a juventude encontrar seu lugar no sistema produtivo do Brasil, defender a sustentabilidade ambiental, enfrentar as desigualdades regionais e sociais, respeitar as diferenças, ampliar a participação popular no debate sobre os destinos do País. Talvez essa plataforma básica seja excessiva para a maioria dos liberais brasileiros.
Impeachment
É necessário que as forças hoje organizadas nas jornadas “Fora, Bolsonaro! Impeachment Já!” considerem esse fator ao analisar os enormes desafios para a construção de um movimento de massas de grandes proporções, capaz de alterar a correlação de forças no Congresso ou sensibilizar o Judiciário na busca de um caminho para o afastamento do atual ocupante do Planalto.
Depois do 7 de setembro estamos assistindo ao silêncio dos golpistas.
Depois do 2 de outubro, houve um forte sopro no braseiro da esperança. Não haverá recuo das forças populares, democráticas e progressistas da sociedade brasileira para pôr um fim ao governo de liquidação nacional.
E para o povo, fica cada vez mais nítido que a liderança para conduzir o processo de reconstrução nacional e retomada de um processo de justiça social com inclusão é Luiz Inácio Lula da Silva!
Fora Bolsonaro, impeachment Já!
*Paulo Pimenta é deputado federal (PT-RS) e presidente do partido no Rio Grande do Sul
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