Não há que se falar em retrocessos nas conquistas recentes que tivemos diante de um episódio pontual, por maior que seja a indignação que possa despertar
Com o avanço e a consolidação das políticas de promoção da igualdade racial e de proteção aos direitos das mulheres, especialmente a partir de 2003, quando estas importantes frentes de luta ganharam status ministerial no Governo Federal, progressivamente os negros e as mulheres têm conquistado participação cada vez maior nos espaços de poder e decisão.
O compromisso do Governo Lula com os direitos dos negros, das mulheres e de todos os demais grupos vulneráveis é visceral, inquestionável e inegociável. Não há que se falar em retrocessos nas conquistas recentes que tivemos diante de um episódio pontual, por maior que seja a indignação que possa despertar.
Um caso de suposto assédio não pode ficar impune. O direito à denúncia e à proteção das vítimas é indiscutível, assim como é o direito à ampla defesa dos acusados.
O que assistimos hoje, no caso em que o ex-ministro SIlvio Almeida é acusado de assédio sexual por mais de uma mulher, sendo uma delas a ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, nos provoca perplexidade e tristeza. A Justiça precisa ser feita, com o devido processo legal, que garanta a investigação a comprovação dos eventuais fatos e a justa punição, se for o caso.
Até lá, percurso que pode e deve ser enfrentado com serenidade e sem espetacularização, devemos reforçar nossa certeza nos avanços das políticas de redução das desigualdades e reconhecimento e proteção dos direitos humanos. Não podemos cair na armadilha de confundir as conquistas destas lutas, a importância dos espaços de poder ocupados por nós negros, com os fatos com os quais estamos tomando conhecimento.
Silvio Almeida é um homem preto de importante formação acadêmica e trajetória que nos honra, com uma produção respeitável, que foi em busca das raízes do racismo no Brasil. À frente da pasta de Direitos Humanos, travou lutas importantes e é responsável por avanços. Anielle Franco é uma mulher preta que representa muito mais do que apenas ela. Irmã de Marielle, filha de Marinete, mãe, esposa e ativista, à frente do Ministério da Igualdade Racial – pasta que tive a honra de ocupar no segundo Governo Lula – vem desempenhando papel extremamente relevante para nossas lutas diárias.
As contribuições de ambos para nossas causas não podem ser apequenadas por esta triste e grave passagem. Vamos lutar incondicionalmente por justiça e vamos, também, entender que não há retrocesso naquilo que nos une e nos motiva, que é a luta por igualdade e por mais espaços de poder para as negras e negros brasileiros.
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