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O caso mais emblemático é o do ex-ministro da Justiça Anderson Torres, que será o alvo prioritário da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do 8 de janeiro, e tem depoimento marcado para esta terça-feira (7/8)

Anderson Torres, ex-ministro da Justiça de Bolsonaro, estava preso até maio. Solto por decisão do STF, ex-secretário acumula acusações desde o 8 de janeiro -  (crédito: Minervino Júnior/CB/D.A Press)

Anderson Torres, ex-ministro da Justiça de Bolsonaro, estava preso até maio. Solto por decisão do STF, ex-secretário acumula acusações desde o 8 de janeiro – (crédito: Minervino Júnior/CB/D.A Press)

As investigações sobre um possível tentativa de golpe de Estado circundam o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), que também enfrenta seus próprios inquéritos. Com o avanço das operações, aumenta a preocupação com possíveis delações, e com a quebra do sigilo de pessoas próximas ao ex-presidente. Com as constantes crises e novas revelações, especialistas entendem que o movimento de apoio a Bolsonaro vem declinando constantemente nos últimos meses, mas há divergências sobre as causas. A tendência é que haja uma reconfiguração da direita, com novos nomes ganhando evidência, mas a possibilidade de uma crise futura trazer de volta expoentes mais radicais continuará no horizonte.

Integrantes do núcleo duro do governo Bolsonaro são suspeitos de participar em tramas golpistas, incluindo conversas abertas com apoiadores, minutas que seriam usadas para subverter o resultado das urnas, e tentativas de interferência no processo eleitoral. O caso mais emblemático é o do ex-ministro da Justiça Anderson Torres, que será o alvo prioritário da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do 8 de janeiro, que tem depoimento marcado para amanhã. Na semana passada, o colegiado aprovou a quebra do sigilo telefônico de Torres e do ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, Mauro Cid.

O tenente-coronel também integrava o círculo próximo ao ex-presidente, e é investigado em uma série de inquéritos. Entre eles, o militar é suspeito de fraudar cartões de vacinação e de ter participado da tentativa de golpe. Também foram encontradas minutas intervencionistas no celular de Cid, e conversas com apoiadores de Bolsonaro e militares que discutiam abertamente a possibilidade de um golpe militar.

O ex-ajudante de ordens também é investigado por movimentações financeiras suspeitas em suas contas. Segundo o Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), ele movimentou R$ 3,2 milhões entre julho de 2022 e janeiro de 2023, com indícios de lavagem de dinheiro e tentativa de ocultação de patrimônio.

Bolsominions investigados
Bolsominions investigados(foto: Valdo Virgo)

Caso hacker

Aliados (ou ex-aliados) de primeira hora de Bolsonaro foram alvos, desde a troca do governo, de inquéritos na Justiça. Na semana passada, tomou destaque o caso da deputada federal Carla Zambelli (PL-SP), com direito à operação de busca e apreensão da Polícia Federal. A parlamentar é investigada por suspeita de ter contratado o hacker Walter Delgatti Neto, conhecido como o “hacker da Vaza-Jato”, para invadir o sistema do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) para inserir documentos falsos, inclusive contra o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes. Em depoimento, o hacker declarou que Zambelli o teria contratado para invadir os e-mails de Moraes e as urnas eletrônicas, mas a parlamentar nega as acusações.

A deputada deve prestar depoimento à Polícia Federal nesta segunda-feira. Segundo sua defesa, porém, ela ficará em silêncio caso não tenha acesso aos autos do inquérito. Os investigadores estudam ainda a possibilidade de a parlamentar ter usado dinheiro público para o pagamento ao hacker. “A impressão que eu tenho é que querem envolver o Bolsonaro. Não existe qualquer prova, ele não pediu nada. A única coisa que existe é que, após tudo isso, há um pagamento de R$ 3 mil, em novembro. Todo o dinheiro saiu do meu bolso, por meio de uma conta que eu subcontratei. Nada saiu da minha cota”, explicou a parlamentar, blindando Bolsonaro.

Zambelli era forte aliada do ex-presidente, que cortou as relações após o episódio em que a deputada perseguiu um homem negro em São Paulo com uma arma em punho, pouco antes do segundo turno das eleições. Nos bastidores, apoiadores do ex-presidente dizem que Bolsonaro atribui a ela sua derrota nas urnas eletrônicas, e, por isso, houve o distanciamento. Da mesma forma, Bolsonaro se afastou do ex-deputado Roberto Jefferson após o mesmo atirar e lançar granadas contra agentes da Polícia Federal que foram até sua casa cumprir uma ordem de prisão. Ele está preso desde então.

Outro parlamentar bolsonarista alvo da Justiça é o ex-deputado Daniel Silveira, logo após perder o mandato na Câmara. Ele foi preso por descumprir uma série de medidas cautelares expedidas por Moraes, mas também é investigado por suposta participação em esquema golpista com Bolsonaro e o senador Marcos do Val (Podemos-ES). Todos os aliados bolsonaristas acima são suspeitos de, de uma forma ou outra, agirem em prol de uma trama golpista, com possível participação do próprio ex-presidente.

Fenômeno

Na visão do cientista político André Rosa, as denúncias contra pessoas próximas a Bolsonaro desgastam o movimento em prol do ex-presidente, que perdeu força consideravelmente desde as eleições do ano passado. Enquanto a gestão de Bolsonaro enfrentou crises quase constantes, desde a falta de enfrentamento à pandemia da covid-19 à piora econômica, ele avalia que o campo progressista tem obtido bons resultados e até surpreendido em termos de articulação.

“O apoio ao Bolsonaro, como uma convenção da direita, tem perdido um pouco de força por todas essas denúncias que têm acontecido. O exemplo da Carla Zambelli é um deles. A tendência é que, em um espaço médio de tempo, não exista mais esse possível sucessor de um bolsonarismo, mas como a política brasileira é fragmentada em dois pólos muito claros, esquerda e direita, o que é esperado é um novo nome do campo da direita, como o Tarcísio de Freitas e o Zema”, afirmou. Ele frisa ainda que Bolsonaro não conseguiu um apoio amplo no Parlamento, e sempre teve dificuldades para aprovar propostas estratégicas.

A professora de Ciência Política da Universidade Federal de Alagoas (UFAL) Luciana Santana também vê uma grande queda na capacidade de articulação dos bolsonaristas, além de uma atitude mais comedida frente, inclusive, às denúncias que surgem. Ela destaca, porém, que o grupo mais extremista continuará existindo, embora com menos força. “Acho que, hoje, a conjuntura não é favorável ao Bolsonaro voltar. Mas, se houver novamente esse vácuo, uma crise política como houve com o impeachment (de Dilma Rousseff), aí, sim, pode surgir uma onda que pode levantar o Bolsonaro ou algum outro aventureiro. Isso não foge do script do que acontece em outros países”, disse a professora.

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