Ex-ministra afirma que a volta do Brasil ao mapa da fome foi um fenômeno construído pelas políticas adotadas após o golpe de estado de 2016
A ex-ministra Tereza Campello, que teve papel decisivo na retirada do Brasil do mapa da fome, conquista alcançada no governo da ex-presidente Dilma Rousseff, afirmou, em entrevista ao jornalista Leonardo Attuch, editor da TV 247, que a volta deste fenômeno às grandes cidades brasileiras foi uma construção deliberada do governo golpista de Michel Temer e de sua continuidade, representada por Jair Bolsonaro. Organizadora do livro “Da fome à fome”, que aborda a fome em todas as suas dimensões, ela afirma que a fome hoje é um fenômeno nacional, e não mais apenas concentrada no Norte e no Nordeste. “A análise superficial atribui a fome à pandemia, mas a inflexão aconteceu bem antes da pandemia. O Brasil já tinha voltado ao mapa da fome dois anos antes da pandemia. E depois houve um agravamento”, diz ela. “Todas as políticas públicas que nos tiraram do mapa da fome foram destruídas”, acrescenta.
Tereza afirma que o Brasil é um grande produtor de alimentos, mas o que falta hoje é renda. “Nos governos Lula e Dilma, os salários cresciam acima da inflação e havia geração de empregos formais. Hoje, a renda é cada vez menor e os empregos são precários”, diz ela. “Temos 65 milhões de pessoas em insegurança alimentar. Uma França, duas Venezuelas. Os que estão comendo, estão comendo pior. Muitas estão comendo ultraprocessados e macarrão instantâneo com salsicha, o que altera o padrão de saúde dos brasileiros. Estamos numa sindemia global: a pandemia da fome, da obesidade e das mudanças climáticas. O Brasil hoje tem recorde de fome, de obesidade, de produção de grãos e de desmatamento. Todos esses fenômenos têm a mesma origem: o fato de que o governo não protege o povo, protege o exportador”, afirma.
De fato, nos últimos anos, a renda do brasileiro foi completamente achatada e os brasileiros reduziram seu padrão alimentar. Segundo Tereza Campello, para enfrentar estes problemas, o Brasil precisa de medidas emergenciais e estruturais. “Renda é essencial, assim como melhor a alimentação fora de casa, com merendas e restaurantes populares”, afirma. “A alimentação escolar comprada localmente é um ganha-ganha. Universidades, presídios e quartéis devem comprar alimentação local”, acrescenta.
Tereza lembra que a primeira medida do governo genocida de Jair Bolsonaro foi extinguir o Conselho Nacional de Segurança Alimentar (Consea). “Duas medidas imediatas de um novo governo Lula seriam organizar as transferências de renda e estruturar a alimentação escolar”, diz ela. “O Brasil tinha no governo Dilma a primeira geração sem fome e na escola e agora temos uma geração com fome e fora da escola”. A boa notícia, ela aponta, é que o Partido dos Trabalhadores tem experiências acumuladas e sabe como reverter o problema. “Podemos conseguir ganhos expressivos no curto prazo”, afirma.
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