A decisão do governo Michel Temer de fechar 513 agências dos correios gerando 5.300 desempregados é mais um capítulo no projeto de desmonte da estatal aprofundado pelo golpe de 2016. Entre as consequências estão a precarização das condições de trabalho dos ecetistas e o prejuízo ao serviço postal público. Segundo representantes dos trabalhadores, o objetivo do governo é a privatização dos correios.
Por Railídia Carvalho
O governo pretendia manter em sigilo o fechamento das agências que foi divulgado no final de semana em matéria no jornal O Estadão. Nota do Sindicato dos Trabalhadores dos Correios de São Paulo (Sindect-SP) afirmou que os correios são mais um patrimônio brasileiro que o governo Temer vai entregar para o setor privado.
O que os trabalhadores chamam de “entrega” o governo disfarça como “readequação”. Na hora de escolher, na prática a direção dos correios vai abrir mão de agências próprias rentáveis justificando que ficam próximas a agências franqueadas. De acordo com o Estadão, em Minas Gerais das cerca de 20 agências rentáveis, 14 serão fechadas. Em São Paulo serão fechadas 167 agências – 90 na capital e 77 no interior.
“Estão destruindo os Correios. Doando o setor postal de presente para empresários loucos por lucro. Essa privatização que vão aprofundando é criminosa. Estão entregando de graça o patrimônio da população brasileira construído em 350 anos de suor, dedicação e vidas. Estão tirando do povo brasileiro o direito à garantia da comunicação postal. O direito de todo cidadão de ter uma agência dos Correios em sua cidade e em seu bairro. De ter o carteiro todo dia em sua casa”, diz trecho da nota.
O Sintect denunciou que o fechamento de agências próprias acontece em um momento em que “A rede agências franqueadas tem registrado aumento crescente de remuneração”. De acordo com o sindicato isso acontecer porque o governo tem transferido “grandes contratos comerciais para a rede de franquias, favorecendo seus donos”.
Com a privatização, os correios podem perder o papel social e se voltar apenas para a lucratividade. “Os correios estão em todo o território brasileiro, presente nos cinco mil municípios. Mesmo nos rincões mais distantes você vai encontrar um trabalhador dos correios de bicicleta, a pé ou de moto. É um setor essencial para o país”, enfatizou Ronaldo Martins, presidente do Sindicato dos Trabalhadores das Empresas de Correios e Telégrafos do Rio de Janeiro. A declaração foi dada ao portal Vermelho no final do ano passado.
Na ocasião, ele completou que não é de interesse das empresas privadas de encomenda entregar cartas simples. “Só querem as grandes encomendas, sedex, as que vem de compras pela internet. Esse é o grande filão mas para entregar nas grandes capitais”, explicou.
Ouvido nesta segunda-feira (7) pelo Portal Vermelho, o dirigente sindical Wagner Gomes reiterou que o objetivo do governo com o fechamento de agências é abrir caminho para que os empresários do setor se beneficiem. “Eles inventam que o emprego melhorou, que o desemprego está diminuindo e a mídia vai confirmando essa estória mas a verdade é que o trabalhador será precarizado em larga escala enquanto o empresário é beneficiado”, ressaltou.
Wagner, que é secretário-geral da Central de Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB), afirmou que o governo e o consórcio do golpe estão seguindo à risca a implantação de um projeto contra a classe trabalhadora. “Neste cenário de reforma trabalhista, esse trabalhador demitido aceita qualquer condição para continuar trabalhando. Eles podem demitir e recontratar esse trabalhador pelas franqueadas ganhando um terço do que ganhava antes e sem benefícios. É a precarização das condições de trabalho”.
A notícia do fechamento de agências dos correios e a demissão em massa se soma à decisão do Tribunal Superior do Trabalho (TST) que decidiu que os trabalhadores dos correios e dependentes devem pagar mensalidade nos planos de saúde. Antes, trabalhadores e familiares que utilizavam o plano pagavam apenas um percentual por consulta ou exame. Neste caso, o Sindect –SP denunciou a unilateralidade da decisão que alterou acordo coletivo atendendo a apenas uma das partes.
O sindicato avisou que vai recorrer juridicamente contra o fechamento de agências e o desmonte dos correios será objeto de denúncia na campanha salarial que se aproxima. “É batalhar para realizar uma luta unificada monstruosa para recuperar nosso convênio e impedir o desmonte dos Correios, esse fechamento absurdo de agências, a entrega do setor postal aos empresários, a dizimação dos nossos empregos e dos nossos direitos”.